Os explicadores de tragédia e consertadores das portas arrombadas viveram intensos momentos de glória nas TVs, nas rádios, nos jornais e na internet depois da tragédia da escola em Realengo.
Os gritos desesperados das mães e pais na frente da escola onde aconteceu a tragédia foram a única e mais genuína manifestação de emoção num evento que os “explicadores” tentaram enquadrar dentro do seu quadro referencial de certezas, preconceitos, de suas subjetividades, dos GPSs ideológicos que os guiam, com os quais pretendem racionalizar e explicar o inexplicável.
Saiu da boca de um policial e ganhou trânsito em parte da imprensa a primeira e vaga informação de que o assassino e suicida teria algumas suspeitas ligações com o islamismo, como se a religião muçulmana, em si, fosse um atestado de alta periculosidade.
Talvez o estereótipo de “sujeito estranho, de barba grande, que navegava o dia inteiro na internet, por sites muçulmanos”, como testemunhou com certa leviandade sua irmã de criação, tenha ajudado a compor esse primeiro “insight” falso, ainda no calor da tragédia. Mas a carta do atirador suicida falava em Jesus, e muçulmanos não falam em Jesus.
Afastada a suspeita islâmica, para alívio dos que confundem a “jihad” com a heróica luta de povos oprimidos contra o imperialismo, procuraram-se outros alvos:
1 - A inoperância do Estado, que não consegue sequer dar segurança a uma escola e que permite a entrada de homens armados, como se o Estado fosse também vigia e porteiro de todos os prédios do país.
2 - A incompetência do Estado (sempre ele!) em cuidar dos cidadãos atingidos por distúrbios mentais, como se eles andassem pelas ruas portando um cartaz, “internem-me que sou louco”.
Leia a íntegra do artigo em As tragédias de Realengo
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.
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