sábado, 28 de abril de 2012
SEU VOTO
A ditadura das armas foi substituída pela ditadura da mídia
após a abertura “lenta e gradual” do general Geisel.
E como resposta às Diretas
Já; os poderosos da época bolaram o recadastramento eleitoral, que tornou cada
eleitor brasileiro um número que, 10 anos depois, serviu para disponibilizar a
máquina que diziam ser 100% segura, a urna eletrônica, para o eleitor votar.
O Leonel Brizola comparava a urna que usamos a argola que se bota no
focinho do touro para, com uma cordinha, levá-lo para onde se quiser.
Sendo o touro o Brasil e a argola a urna eletrônica.
No balanço que Mino Carta faz, neste texto, faltou a
referência a esta máquina que é defendida com unhas e dentes pelos “donos” do
poder no Brasil.
No último embate entre os defensores da impressão do voto
eletrônico – e os que querem que as coisas continuem como estão em matéria de
sistema eleitoral – cito apenas o nome de três figuras fantásticas e impolutas
que defendem o lado podre desta questão: Sen. Demóstenes Torres, ex-ministro
Nelson Jobim e a dra. Sandra Cureau.
No próximo dia 8/5, na Comissão de Constituição e Justiça da
Câmara Federal, numa audiência pública conduzida pelo deputado Vieira da Cunha
(PDT-RJ), vamos ter mais um capítulo nesta novela – a urna eletrônica
brasileira, que deselege quem tem votos e elege quem não tem – vai continuar
insegura do jeito que é ou vai respeitar a vontade dos eleitores?
O poder deles ruiu com o mundo plurimidiático.
Os caras não elegem mais nem vereador.
Como disse um dos sábios da gRobo, na segunda vitória de
Lula, “o eleitor votou contra a opinão pública”.
Os barões da mídia fingem que nada mudou e o Brasil ainda é
o mesmo do tempo em que a totalidade da classe média acreditava piamente em
tudo o que lia na chamada “grande imprensa”.
A palavra do Estado, Folha e Globo era uma ordem, seguida CANINAMENTE por todos.
Datam desta época o apoio da classe média à ditadura e o
voto ordenado pelo PiG em Collor e no Fernando Henrique.
O retumbante fracasso deste último marcou o início da
reviravolta.
Lula foi eleito com seu carisma quase sobrenatural e este
fato, aliado ao surgimento da internet (que propiciou a comunicação popular sem
a interferência do PiG), abriram uma brecha no curral onde o PiG mantinha a classe
média.
Uma parte dela, que se amplia a cada dia, acordou e passou a
ver com clareza a podridão do PiG e de todos os políticos que o PiG apoia
descaradamente.
Não há como fazer a classe média voltar ao curral.
A liberdade fala mais alto.
Os corruptos barões do PiG e seus jornalistas de programa
sabem disto.
JÁ ...
“Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caça sempre glorificarão o caçador”.
Este provérbio africano cabe direitinho no papel da gRobo de
ser a porta-voz da elite contra os mais fracos.
A gRobo, poderosa por difusão, entra na casa de milhões de
pessoas, disseminando suas tramas cínicas, mercenárias, como se fosse a
verdade.
Depois da divulgação de tantos documentos provando a relação
criminosa entre o gangster Carlinhos Cachoeira e a revista Veja tá mais que na
hora dos guardiães da ética e dos bons costumes no serviço público (TCU, CGU,
Comissão de Ética da Presidência, etc.) por um fim no derrame de dinheiro
público nessa revista.
Da forma que a publicação dos Civita se comporta; colocar
dinheiro público ali deveria ser considerado crime passível de improbidade
administrativa.
Instituições como o Ethos e congêneres deveriam cobrar o
mesmo das empresas privadas.
Seria interessante criar um painel (mesmo que virtual)
tipo o “impostômetro” informando quem são os anunciantes (públicos e privados)
que estão bancando as estripulias da quadrilha Veja/Cachoeira.
OPINIÃO PÚBLICA . . .
Por Mino Carta, na Carta Capital.
Pergunto aos meus reflexivos botões qual seria no Brasil o significado de opinião pública. Logo garantem que não se chama Merval Pereira, ou Dora Kramer, ou Miriam Leitão. Etc. etc. São inúmeros os jornalistas nativos que falam em nome dela, a qual, no entanto, não deixa de ser misteriosa entidade, ou nem tão misteriosa, segundo os botões.
A questão se reveste de extraordinária complexidade. Até que ponto é pública a opinião de quem lê os editorialões, ou confia nas elucubrações de Veja? Digo, algo representativo do pensamento médio da nação em peso? Ocorre-me recordar Edmar Bacha, quando definia o País -como Belíndia, pouco de Bélgica, muito de Índia. À época, houve quem louvasse a inteligência do economista. Ao revisitá-la hoje, sinto a definição equivocada.
Os nossos privilegiados não se parecem com a maioria dos cidadãos belgas. A Bélgica vale-se da presença de uma burguesia autêntica, culta e naturalmente refinada. Trata-se de tetranetos da Revolução Francesa. Só para ser entendido pelos frequentadores do Shopping Cidade Jardim em São Paulo: não costumam levar garrafas de vinho célebre aos restaurantes, acondicionadas em bolsas de couro relampejante, para ter certeza de uma noite feliz. Até ontem, antes do jantar encharcavam-se em uísque.
Em contrapartida, a minoria indiana, sabe das coisas e leu os livros. Já a maioria, só se parece com a nossa apenas em certos índices de pobreza, relativa ou absoluta. No mais, é infelicitada por conflitos, até hoje insanáveis, étnicos e religiosos. Nada de Bélgica, tampouco de Índia. Nem por isso, a diferença, ainda brutal, existe entre brasileiros ricos e pobres, embora desde o governo Lula tenha aumentado o número de remediados.
O Brasil figura entre os primeiros na classificação da má distribuição de renda, pecha mundial. Na semana passada, CartaCapital publicou ampla reportagem de capa sobre vários índices do nosso atraso, a mostrar que crescimento não é desenvolvimento. De fato, o Brasil sempre teve largas condições de ser um paraíso terrestre, como vaticinava Americo Vespucci, e não foi porque faltou o comando de quem quisesse e soubesse chegar lá. Sobrou espaço para os predadores, ou seja, aqueles que, como dizia Raymundo Faoro, querem “um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”.
A opinião pública que os Mervais, Doras e Mirians da vida acreditam personificar, é no máximo, na melhor das hipóteses para eles, a dos seus leitores. Há outra, necessariamente, daqueles que não se abeberam a essas fontes, e muitos sequer têm acesso à escrita. Votam, contudo, e são convocados pelas pesquisas de opinião. À pressão midiática, que ignoram por completo, preferem optar por Lula e Dilma Rousseff. Temos de levar a sério esta específica e majoritária opinião pública claramente expressa e, em termos práticos, mais determinante que a outra.
A opinião pública que a mídia nativa pretende personificar já condenou o chamado mensalão e decidiu os destinos da CPI do Cachoeira. A opinião pública da maioria está noutra. O resultado do confronto há de ser procurado nas pesquisas e nas eleições, é o que soletram meus botões. Eles são exigentes e me forçam a um exame de consciência. Por que as circunstâncias me levam à referência frequente a mídia nativa? Acontece que a mídia é, sim, personificação da minoria. Aquela do deixa como está para ver como fica.
A mesma que conspirou contra Getúlio democraticamente eleito e contra a eleição de Juscelino. Ou que apoiou Jânio Quadros em 1960, tentou evitar Jango Goulart depois da renúncia e enfim implorou o golpe perpetrado pelos gendarmes fardados em 1964, e o golpe dentro do golpe em 1968. A mesma que desrespeitou o anseio popular por eleições diretas em 1984 e engendrou uma dita redemocratização, de todo patética, em 1985, e hoje ainda dá uma de galo no papel impresso e no vídeo. Será que a rapaziada se dá conta do que está a acontecer de verdade?
A mídia nativa, é fácil demonstrar, na sua certeza de representar a opinião pública do País todo pratica aquilo que definiria como jornalismo onírico. Neste mister, o Estadão de quinta 26 supera-se. Estampa na primeira página que a presidenta Dilma mente ao afirmar, ao cabo de um longo encontro com Lula em Brasília, a ausência de diferenças entre ela e seu mentor. A presidenta responde obviamente a uma pergunta e diz: “Não há diferenças entre nós e nunca haverá”. Então por que perguntam se estão certos de que seu sonho é a própria verdade?
FRUTAS BIXADAS
O vazamento do inquérito contra o senador Demóstenes Torres lançou novas luzes sobre as relações do parlamentar com o esquema de Carlinhos Cachoeiras, a construtora Delta, agentes públicos e jornalistas. Após o vazamento, jornalistas e blogueiros dissecaram as transcrições das escutas telefônicas feitas entre integrantes do esquema. Conversas envolvem o ministro do STF, Gilmar Mendes, indicam tentativa de desestabilizar o governo Dilma. As articulações com a revista Veja são uma constante. LEIA AKI
AVANT-PREMIÈRE DO PSDB
1º DE MAIO: A GÊNESE DO PELEGUISMO - "Cada patrão
mandou dez funcionários para cá. A gente tem que ficar até o fim [do evento] e
levar o comprovante de que veio, para não descontar o dia de trabalho". A
confidência foi feita por um dos participantes do primeiro congresso do
"núcleo sindical" do PSDB, realizado em São Paulo , na última
sexta-feira, conforme relato da Folha (27-04). Uma espécie de avant-première do
1º de Maio, o encontro liberou caciques tucanos para o feriadão prolongado com
a consciência do dever cumprido. A lotação proletária foi assegurada pelo
engajamento natural das bases: donos de construtoras e empreiteiras que prestam
serviços ao Estado convocaram seus trabalhadores à luta, com direito a
sanduíche de queijo, suco, biscoito e maçã. Mediante comprovante de
comparecimento, a militância teria
o dia abonado trocando o saco de
cimento pela faiscante oratória tucana. Cada empresa foi convocada a encaminhar
pelos menos dez operários ao meeting.
Serra nem gaguejou ao afirmar aos presentes que a relação do PSDB com
sindicatos 'não é novidade'; em seguida, pediu apoio à candidatura a prefeito
de SP. "Temos nossa primeira tarefa: mobilizar nossos sindicalistas para a
campanha eleitoral deste ano", disse o ex-governador com indisfarçável mal
humor diante do rival Aécio Neves (leia mais aqui: 'Por que Serra está nervoso?'). Alckmin foi de longe o mais
combativo; sapecou um 'companheiros e
companheiras' na saudação e arrematou com a frase cuja autenticidade sintetiza
a de todo o evento: "O PSDB é um partido que dá prevalência ao trabalho
sobre o capital". (Carta Maior; Sábado 28/04/2012).
A MÃE QUE JOGAVA UM BOLÃO
Por Carlos Chagas.
Dois adversários empenhavam-se em acirrada disputa, tanto faz se política, artística ou esportiva. Um deles, no auge da emoção, afirmou pejorativamente que determinada cidade só produzia jogadores de futebol ou prostitutas. Ofendido, o outro retrucou dizendo-se ofendido, pois a mãe dele havia nascido e morava naquela cidade. Caindo em si o destemperado treplicou: “Pois é. A sua mãe está jogando um bolão...”
Essas firulas verbais servem para demonstrar que certas tertúlias tem limite. Ao contrário de outras, não constituem embate de vida e de morte, havendo sempre uma janela aberta para alguém escapar. É o caso, por exemplo, do PT e do PMDB, na luta pela prefeitura de São Paulo.
Fernando Haddad e Gabriel Chalita trocam farpas, não raro se agridem e fazem o impossível para continuar à tona na competição, esperando cada um passar para o segundo turno, já que o verdadeiro inimigo deles é José Serra, do PSDB, com lugar garantido. Chalita imagina contar com o apoio de Haddad, e vice-versa, na dependência dos resultados de outubro. Por isso não chegam aos limites do rompimento definitivo, deixando sempre uma alternativa, mesmo às vezes ridícula como aquela do cidadão que elogiou os dotes futebolísticos da mãe do adversário.
AMIGO DA ONÇA.
De certos amigos, aliados e correligionários, é sempre bom desconfiar. Pelo menos, essa desconfiança tomou conta do comitê de campanha de José Serra, e do próprio candidato, depois de lida entrevista do senador Aécio Neves, concedida ontem à Folha de S. Paulo. Porque o ex-governador de Minas admitiu a hipótese de Serra, elegendo-se prefeito de São Paulo, vir a renunciar, abandonando o mandato, para candidatar-se a presidente da República.
Foi um comentário digno do Amigo da Onça, porque do que menos Serra gostaria de debater, agora, seria sobre deixar dúvida em seus possíveis eleitores de não cumprir até o fim o compromisso de governar a maior cidade do país. Já renunciou uma vez, colhendo frustrações aparentemente desfeitas, mas relembrar o episódio, mesmo de forma indireta, pode ser prejudicial. Em especial quando levantada a possibilidade pelo seu principal competidor no âmbito do PSDB.
Imaginar apenas boa vontade ou ingenuidade nas declarações de qualquer político mineiro equivale a correr um risco dos diabos. Estaria Aécio Neves tentando sepultar de vez a candidatura paulista, para ficar absoluto na disputa entre os tucanos?
CONTA-GOTAS INESGOTÁVEL.
Não se passa um dia sem que algum veículo de comunicação deixe de apresentar um capítulo a mais nessa novela que tem Carlinhos Cachoeira como vilão. São transcrições de telefonemas dados ou recebidos pelo bicheiro, deixando mal seus interlocutores, como são informações tiradas de alguma das milhares de páginas do relatório da Polícia Federal sobre a Operação Monte Carlo. De graça essas coisas não acontecem, quer dizer, existe um centro de abastecimento da mídia que alimenta permanentemente o noticiário. Saber onde se localiza a fonte, ou as diversas fontes, constitui missão impossível. As conclusões da Polícia Federal estão com a própria instituição, com o Supremo Tribunal Federal, com o Conselho de Ética do Senado, com a CPI mista agora instalada, com o ministério da Justiça, com a Abin e onde mais? Parece uma peneira, ou, em outra imagem, um conta-gotas alimentado por um oceano.
Ninguém, no Congresso, tem lutado tanto contra a impunidade do que o senador Pedro Simon. Há décadas ele bate todos os dias nessa tecla, exortando governos e sociedade a combaterem o grande mal que assola o país. Como por sua independência é visto com desconfiança pelos líderes do PMDB, jamais foi incluído numa CPI sequer. Eles tem medo da metralhadora giratória capaz de atingi-los, aliás, com razão. Não se dirá que Simon faz falta na CPI do Cachoeira, porque como senador, tem todas as prerrogativas para comparecer, opinar e inquirir possíveis depoentes. Ficam mal aqueles que não o escalam, porque entrar em campo, ele vai entrar. Ou melhor, já entrou...
GOLPISTA
Por Altamiro Borges, do Blog do Miro.
#Vejagolpista vai ecoar no Congresso?
Pela segunda vez nas duas últimas semanas, a revista Veja é
destaque no twitter. Com a hashtag #vejagolpista, ela hoje ocupou os primeiros
lugares na rede social a partir de 17h45.
Na quarta-feira passada (18), a
publicação da famiglia Civita também ostentou por vários minutos o primeiro
lugar no Brasil e entre os mais comentados no mundo. Na ocasião, com a hashtag
#vejabandida.
O vídeo criminoso do Hotel Nahoum.
Com sacadas criativas e muitas dicas de leitura, os
ativistas digitais demonstraram toda sua indignação com uma revista que virou
sinônimo de golpismo e bandidagem – nada tendo a ver com jornalismo. Os últimos
vazamentos das escutas da Operação Monte Carlo da Polícia Federal instigaram
esta revolta. Eles comprovam as estreitas ligações entre o mafioso Carlinhos
Cachoeira e a direção da Veja.
Um dos casos mais graves, denunciado pelo blogueiro Luiz
Carlos Azenha, confirma que a quadrilha de Cachoeira forneceu o vídeo do Hotel
Nahoum onde estava hospedado o ex-ministro José Dirceu. A ação ilegal virou
capa da Veja contra o “poderoso chefão”. O golpismo só foi abortado porque o
“repórter” da revista foi flagrado quando tentava invadir o apartamento do
ex-ministro.
Altivez ou covardia?
Contra estes e outros atos criminosos, os internautas deram
o seu grito de revolta no twitter. Será que ele ecoará no Congresso Nacional?
Será que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada para investigar
as ramificações da quadrilha de Carlinhos Cachoeira, vai convocar o capo do
Grupo Abril, Bob Civita, e seus asseclas travestidos de jornalistas?
Ou os deputados e senadores vão se acovardar mais uma vez
diante das chantagens e ameaças do império midiático? Boa parte deles sempre
quis sair nas páginas da Veja e outra sempre temeu ter a sua reputação
assassinada pelos jagunços da revista. Como os parlamentares se comportarão?
Com altivez ou covardia? Eles valorizarão a democracia ou se curvarão diante
desta ditadura midiática?
A pedido de Lula, Dilma tenta definir nome para Ministério do Trabalho.
A pedido do ex-presidente Lula, a presidenta Dilma Rousseff poderá definir ainda neste fim de semana o nome do novo ministro do Trabalho. Lula e Dilma conversaram durante quatro horas na última quarta (25), no Palácio da Alvorada. Na ocasião, eles avaliaram que seria negativo para o governo passar o Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador, com um ministro interino. O deputado Brizola Neto (PDT-RJ) é um dos cotados para assumir a pasta.
LEÃO ENJAULADO?!?
Andressa Mendonça, esposa do contraventor Carlinhos Cachoeira, declarou à Revista Veja desta semana que o marido é um “leão enjaulado”. Ela, que terminou um casamento de sete anos, hoje visita o atual marido uma vez por semana na cadeia.
Na terça-feira passada, eles conversaram por cinquenta minutos no parlatório da prisão, em Brasília, através de um interfone, separados por um vidro espesso que impede o contato direto.
Ela conta que Cachoeira tem alternado momentos de serenidade e ira — e, no último encontro, segundo ela, desabafou: "Vou explodir".
BOLSA ESTIAGEM
Em ano de eleição, Dilma descobriu a seca.
Por Vitor Hugo Soares, do Blog de Ricardo Noblat em O GLOBO.
Por Vitor Hugo Soares, do Blog de Ricardo Noblat em O GLOBO.
Nestes dias, de geléia geral brasileira, nada poderia ter sido mais expressivo – como ato político e fato jornalístico - que a primeira visita do ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, à Brasília, depois do tratamento de câncer na laringe a que se submeteu.
A ambientação, preliminares e repercussões da conversa de Lula com a sua sucessora “foi o que há”, expressão que uma sobrinha em Salvador (profissional da publicidade arguta e antenada com os signos do poder e do marketing político) costuma utilizar para definir acontecimentos de grande impacto. Ou que são produzidos com esse objetivo.
A ambientação, preliminares e repercussões da conversa de Lula com a sua sucessora “foi o que há”, expressão que uma sobrinha em Salvador (profissional da publicidade arguta e antenada com os signos do poder e do marketing político) costuma utilizar para definir acontecimentos de grande impacto. Ou que são produzidos com esse objetivo.
Tapetes vermelhos (real ou simbolicamente) esparramados no
Palácio da Alvorada; sessão especial de cinema, para exibir documentário sobre
a posse de Dilma Rousseff; trocas de juras de amor indissolúvel e de fidelidade
eterna; risos escancarados, quando em volta tudo (ou quase) gira em ritmo de
alta tensão.
“Salamaleques!”, resumiria, provavelmente, se vivo estivesse
e observasse essas coisas, o escritor alagoano Graciliano Ramos, sábio no
pensamento e sempre econômico nas definições.
Tudo, coincidentemente (ou não?), no primeiro dia de
funcionamento, no Congresso, da chamada CPI Mista do Cachoeira.
Portanto, um foco a mais para ser bem observado na capital
do Brasil, sobressaltada pelos vivos e os esqueletos que se cruzam, ultimamente
a cada instante, na inquieta cidade do planalto central.
Denúncias pipocam de todo lado, acompanhadas de “ruídos” e
boatos que mais confundem que ajudam a esclarecer sobre “um escândalo que
promete abalar Paris”, como se diz em Irecê, no nordeste baiano, assolado,
junto com mais de 200 municípios, por mais uma “seca sem precedentes”.
A estiagem - assim como a praga corrupta e corruptora de
Cachoeira, que contamina a política, governos, imprensa, empresas públicas e
privadas - rola solta há mais três anos na Bahia e em outros tantos municípios
da região Nordeste.
Neste ano de eleições para as prefeituras, coincidentemente
(ou não?) a seca ganhou dramáticas cores de tragédia de umas semanas para cá,
em meio ao alvoroço da CPI no Congresso.
Principalmente depois de outro encontro que merecia ser
olhado (e analisado) com mais atenção.
Este, ocorrido em Aracaju, nordestina capital sergipana, no
começo da semana, entre a presidente Dilma e os governadores da região.
Do encontro, além de imagens expressivas no palácio do
governo, que lembram pompas de tempos imperiais e de fartura (e não as agruras
da seca) resultou o anúncio, com pompa e circunstância, da polêmica “Bolsa
Estiagem”, que concederá auxílio de R$ 80, por cinco meses, às famílias
residentes nos municípios nordestinos atingidos pela seca”.
“Amaldiçoado quem pensar mal dessas coisas”, diriam os
franceses. Mas vale lembrar que Luiz Gonzaga e Zé Dantas já alertavam, em
“Vozes da Seca”, sobre o tratamento assistencialista (e eleitoreiro)
dispensado, pelo governo, nas estiagens dos anos 50, no século passado: “Seu
doutor uma esmola, a um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o
cidadão”.
Mas, antes do ponto final, é preciso retornar ao ponto de
partida e crucial das linhas deste artigo: o encontro de Dilma com Lula, no
retorno do ex-presidente ao Planalto, onde se multiplicam gestos e sinais de
harmonia entre os dois, em meio a um território convulsionado.
"Nosso relógio é suíço. Jamais ele vai ter de atrasar
ou adiantar. Nunca temos de acertar os ponteiros", disse Lula – sem
desmentidos ou mesmo um muxoxo de contestação da presidente - em uma das
tiradas, bem ao seu estilo, reveladoras de que Lula parece recuperar a velha
forma de fazer política e o humor de antes da dolorosa passagem pelo Hospital
Sírio Libanês, em São
Paulo.
A segunda “tirada de Lula” em Brasília, esta semana, também
demonstra a recuperação do velho estilo pernambucano-sindicalista (e petista)
de procurar briga. Foi quando ele falou da CPI Mista do Cachoeira, iniciada no
dia de seu retorno à capital federal:
“Vocês vão se surpreender com o que essa CPI vai revelar”,
disse o ex-ocupante da cadeira de Dilma, sem no entanto esclarecer direito quem
ele imagina (ou sabe de fato) serão os surpreendidos.
Pelo tom, arrisco, parecia decidido a retomar seus antigos
embates com a imprensa e com jornalistas.
A conferir...
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Um não vive sem o outro
Todos sabemos das relações umbilicais e criminosas entre empreiteiras de obras públicas e políticos. Nunca vamos ver uma dessas empresas sem serviços a executar. Elas mesmas propõem aos governos as obras emergenciais, as de manutenção, as com dispensa ou não de licitação, as obras novas etc. Nas negociações de bastidores, já fica pactuado, em razão do sobre preço ou aditamento de contrato, a parte que será destinada à próxima campanha política. Como se pode ver, um lado não vive sem o outro.
Opera Bufa mal ensaida
Muito mal ensaiada a encenação da CPI Cachoeira. Gravações e documentos em mãos da Polícia Federal estão sendo divulgadas à conta-gota. Em princípio, houve insegurança por parte do governo em abrir a CPI, mas, com a intervenção do Lula, foi aceita e instalada. Outro fator muito estranho, entre a abertura da CPI e sua primeira reunião foi estipulado um prazo de uma semana, quer dizer, o seu tempo de duração será o da conveniência do PT e do governo, tudo levando a crer que será anteparo do julgamento do mensalão e motivação midiática para desvio de atenção da montanha de roubalheiras e pilantragens de governistas.
A CPI COMEÇA DEVAGAR, QUASE PARANDO
Por Carlos Chagas
Instalou-se quarta-feira a CPI do Cachoeira, presidida pelo senador Vital do Rego e com a presença do relator, deputado Odair Cunha. Plenário lotado, atenções nacionais voltadas para os 16 senadores e 16 deputados que integram o grupo, mais os suplentes. Num país sério, ontem, quinta-feira, como hoje, sexta, seriam dias para a CPI estabelecer seu plano de ação, definir o ritmo dos trabalhos e a relação de depoentes convocados em sua primeira fase.
Pois sabem onde se reuniram os parlamentares designados para a investigação do mais recente escândalo político dos últimos anos?
No aeroporto de Brasília, porque às quintas-feiras ninguém segura deputados e senadores na capital federal, fora algumas exceções. Dois dias perdidos, mas tem pior. Como o Primeiro de Maio, terça-feira, é feriado, nem pensar em trabalhos na segunda ou no próprio Dia do Trabalho, ironicamente quando ninguém trabalha. Suas Excelências chegarão na quarta, de manhã e de tarde, até de noite, mas para retornar na quinta a seus estados? Fica difícil esperar alguma ação concreta da CPI na próxima semana, ainda que milagres sempre posam acontecer.
Por isso escrevíamos, dias atrás, sobre o risco de a CPI começar devagar, quase parando. Não se trata de pérfida manobra dos adeptos da impunidade, nem de questiúnculas envolvendo PT, PMDB e governo. Funciona simplesmente a prática do Congresso, qualquer Congresso, em qualquer tempo. Deve prevenir-se quem manteve esperanças de ver rapidamente esclarecidas as lambanças em foco.
Por ironia, o mesmo ritmo desenvolve-se no julgamento dos 38 réus do mensalão, no Supremo Tribunal Federal, e na demora de a presidente Dilma designar os sete integrantes da Comissão da Verdade, no palácio do Planalto. Ninguém deseja ressuscitar os tempos da Inquisição, que em poucas horas condenava hereges à fogueira. Nem a justiça do período do Terror, da Revolução Francesa, cortando cabeças aos montes. Convenhamos, porém, estarem Legislativo, Judiciário e Executivo atuando como jabotis.
LEMBRANÇAS TENEBROSAS
Em outubro de 1966 o então presidente Castello Branco mandou tropa armada invadir o Congresso, mais precisamente a Câmara dos Deputados, pois o Senado encontrava-se de folga. A causa era a resistência do presidente da casa, Adaucto Lúcio Cardoso, diante da cassação de cinco deputados federais, com base no Ato Institucional 2. O corajoso parlamentar pela Guanabara sentiu-se traído, com base numa suposta promessa de Castello de não cassar mandatos enquanto se reunisse a “Assembléia Nacional Constituinte” já convocada. Os biógrafos do primeiro general-presidente negam que ele tivesse prometido não usar mais os instrumentos de exceção.
De qualquer forma, Adaucto não aceitou as cassações. Continuou dando a palavra e tomando os votos dos cinco deputados. Por cautela, mandou que se hospedassem nas instalações da Câmara, no caso, a Enfermaria.
A imprensa do pais inteiro confluiu para Brasília, pois passados dois ou três dias, todo mundo previa que o governo militar reagiria para não ser humilhado. Jornalistas, deputados e funcionários permaneciam em vigília, acomodando-se como podiam nas dependências parlamentares e, acima de tudo, vigiando. Grupos designados pelo presidente da Câmara revezavam-se no último andar do anexo, com visão para toda a Esplanada dos Ministérios. A informação era de que logo chegariam os tanques.
Na terceira madrugada de expectativa um deputado tentou fazer a barba, num dos banheiros, e verificou não haver água. Tinha sido cortada. Pouco depois apagaram-se as luzes. Velas foram providenciadas.
De plantão, lá em cima, com binóculos, alguém detectou movimentação excepcional na plataforma da estação rodoviária. Logo começaram a chegar caminhões do Exército, dos quais pulavam soldados com capacete, espingardas e metralhadoras. Singularmente, não andavam. Davam corridinhas, deitando-se em seguida no vasto gramado e até escondendo-se atrás de postes, de onde apontavam suas armas para o Poder Desarmado. Tanques apareceram na avenida que liga a estação rodoviária ao Congresso. Tudo em lenta progressão, diante da Catedral e dos prédios dos ministérios.
Notou-se também que de outras vias demandando a Praça dos Três Poderes chegavam contingentes fardados e embalados. Fuzileiros Navais e soldados da Polícia Militar do DF.
Fechava-se o círculo e, dentro do Legislativo, a apreensão transformava-se em caos. Funcionárias em ataque de nervos por não poder comunicar-se com suas casas, já que os telefones também haviam sido cortados. Deputados reconhecendo a necessidade de não resistir, por falta de meios, exceção de Amaral Netto, que a todos mostrava o seu revólver “22”. Jornalistas anotando minuto a minuto o que se passava fora e dentro do prédio.
O sol ia nascendo quando um jipão estaciona diante da rampa principal do Congresso, dele descendo um coronel em farda de campanha, capacete, cantil e pistola. Com um apito nos lábios, consulta o relógio e logo dá o sinal, entendido como de atacar. A soldadesca invade o prédio por suas oito diferentes entradas, com o grito de guerra de “civis, fora! civis, fora!” Com certa truculência, mas sem disparar um tiro, foram entrando. Empurravam quem encontrassem pela frente.
O coronel, recém chegado do comando da tropa brasileira em São Domingos, era Meira Mattos, da estrita confiança do presidente Castello Branco. Sempre em acelerado, foi subindo a escada de tapetes verdes que leva ao andar do plenário da Câmara. De repente, o militar estanca no meio, ao ouvir lá de cima o vozeirão de Adaucto Lucio Cardoso, cercado por jornalistas e deputados: “alto! Quem vem lá?”
Havia um pouco de encenação, pois os dois conheciam-se há muito, eram até amigos. Meira Mattos perfila-se e responde: “Eu sou o Poder Militar!” retomando a subida da escada como se fosse um campeão olímpico. Quando vai atropelar o presidente da Câmara, este recua dois passos para o coronel passar e, ao mesmo tempo, exclama: “Eu sou o Poder Civil e curvo-me à Sua Majestade, o Poder Militar!”
Logo a Câmara estaria fechada, obrigados deputados, jornalistas e funcionários a, em fila, identificar-se junto a um sargento postado na principal porta de saída. Apenas por curiosidade: a frase de Adaucto Lúcio Cardoso, de propósito, era a mesma pronunciada por Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente da então invadida e fechada Assembléia Nacional Constituinte de 1823. Ele saía preso por ordem de D. Pedro I, tirou o chapéu e curvou-se diante de um canhão assestado contra o prédio onde os constituintes se reuniam, sugestivamente a Cadeia Velha. A propósito, Adaucto não foi preso...
TESTEMUNHA OCULAR
Na decisão polêmica no STF, o ministro Joaquim Barbosa é a prova viva de como é demagógica e desnecessária a exigência de cotas raciais na universidade. Quem se esforça e tem méritos se estabelece.
Inquérito contra Demóstenes cai na rede. E o segredo de justiça?
www.dihitt.com.br/.../27/inquerito-contra-demostenes-cai-na-rede-e-...
2 horas atrás – Resumo: Exclusivo: 247 publica documento encaminhado na tarde desta sexta 27 pelo ministro Ricardo Lewandowski à CPI do Cachoeira e aoConselho de Ética do Senado; segredo de justiça que agora não é mais; diálogosem profusão; confira 247 com Agência Brasil – O ministro do Supremo ...
Íntegra do inquérito do STF contra Demóstenes
Ricardo Noblat emO GLOBO Exclusivo: 247 publica documento encaminhado na tarde desta sexta 27 pelo ministro Ricardo Lewandowski à CPI do Cachoeira e ao Conselho de Ética do Senado; segredo de justiça que agora não é mais; diálogos em profusão; confira247 com Agência Brasil O...
POBRE OSCAR?!
Oscar, o escravo que ganha 40 mil por mês sem trabalhar.
Não queria jogar mais pelo time. Certo! Deixe o contrato terminar ou pague a multa, pois ninguém o obrigou a assinar algo que ele não teria direitos além dos deveres.
Esse relato se trata obviamente da causa utópica da esquerda.
O jogador Oscar sempre foi tratado no respectivo clube como a estrela ascendente. Clube este que tem como histórico o pagamento exato de todos os valores devidos em suas respectivas datas.
Agora um garoto oportunista que sempre foi provido dos melhores recursos possíveis se vira contra os provedores de sua história como atleta.
Anos e anos de investimento e gastos incessantes em sua carreira - esta que poderia terminar brevemente e sem nenhuma glória ou reconhecimento - para que o retorno seja esse uma guerra judicial por uma suposta quebra de contrato que nunca ocorreu.
O articulista pode reclamar pelas posturas mais heroicas as quais forem que não mudará a ordem dos fatos.
Ao final parece-me que errados estão os dirigentes de clubes que confiam salários astronômicos a crianças que não pode corresponder sequer aos ditames morais da sociedade, antes fosse o pobre Oscar um cidadão qualquer de classe média não é?
E O OSCAR VAI PARA
A situação envolvendo o jogador Oscar equivale à conhecida prática da escravidão por dívida, legalizada no Brasil no período da imigração européia, quando se considerava crime o fato do imigrante deixar, ou, mais propriamente, fugir da fazenda antes de pagar a dívida que tinha com o dono. O caso do Oscar é ainda mais grave porque mesmo que este proponha pagar a dívida, o seu “dono” não o quer libertar.
As relações de trabalho no futebol ainda guardam muito da lógica escravagista
Por Jorge Luiz Souto Maior, na Carta Maior.
A conhecida frase acima virou tradição no maior evento do cinema. O Oscar, de fato, é uma estatueta, uma coisa, que simboliza a premiação do trabalho realizado em nome da arte cinematográfica.
O que estamos presenciando no debate entre o São Paulo e o Internacional, no entanto, é uma inversão plena de valores. De fato, o homem, o Oscar, foi transformado, ele próprio, na coisa, na estatueta, que será entregue a um dos dois clubes não como reconhecimento de um trabalho realizado, mas para satisfação de um interesse econômico, fixado em um contrato.
Imaginemos a cena: o representante de um dos clubes fazendo o gesto de levantar, orgulhoso, a estatueta, o Oscar, e agradecendo, na seqüência, aos advogados e juízes, que souberam decifrar as cláusulas do contrato.
Sem entrar nos meandros dos termos contratuais, sem me posicionar, portanto, quanto a quem tem, ou não, razão nesta contenda, o que me parece inegável é que, de modo algum, essa discussão jurídico-formal pode conduzir ao efeito que ora se verifica de uma pessoa ser tratada como posse de alguém, e, pior, como uma coisa, um troféu que se possa erguer e, com isso, ser impedida de exercer um direito fundamental, que é o direito ao trabalho.
Em concreto, juridicamente falando, visualizando o Direito na perspectiva da proteção da condição humana, uma questão patrimonial, fixada em um contrato, não pode se constituir como fundamento para impedir o pleno exercício de um direito fundamental, que está ligado, inclusive, à noção básica da liberdade.
A consideração jurídica de que o Oscar “pertence” ao São Paulo, ou ao Internacional, é, portanto, totalmente ineficaz no aspecto da limitação do direito ao trabalho. Não é possível, por exemplo, que um Oficial de Justiça, por ordem judicial, pegue o Oscar e o conduza, à força, até um local determinado e o obrigue a treinar e a jogar. Do mesmo modo, não é possível que o efeito contratual, patrimonial, mesmo sem o necessário adimplemento, impeça alguém de exercer a sua liberdade.
Sem exagero, a situação equivale à conhecida prática da escravidão por dívida, que fora, até, legalizada no Brasil no período da imigração européia, quando se considerava crime o fato do imigrante deixar, ou, mais propriamente, fugir da fazenda antes de pagar a dívida que tinha com o dono da fazenda, sendo que a dívida em questão advinha do custeio da própria imigração e, depois, do valor devido pelo alojamento e pela alimentação concedidos na fazenda, sendo que o valor pago pelo trabalho era sempre menor que o montante da dívida que crescia diariamente.
O caso do Oscar é ainda mais grave porque mesmo que este proponha pagar a dívida, o seu “dono” não o quer libertar...
Essa analogia é pertinente até para refletir sobre o fato de que as relações de trabalho no futebol ainda guardam muito da lógica escravagista, na qual o trabalhador (o jogador) é dito como um patrimônio de seu dono (o clube), o qual se vê, inclusive, legitimado para exigir condutas, modos de agir e até de pensar por parte do jogador, chegando a interferir no seu direito de manifestação, atingindo, quase que por completo, a sua vida privada.
Os negócios no futebol, porque envolvem muito dinheiro, cegam as pessoas, gerando deturpações valorativas muito graves, a ponto do jogador ser entendido como o objeto do contrato que se realiza por terceiros interessados (os clubes) e não como sujeito.
Não é possível, repito, impedir alguém de exercer um direito fundamental sob o argumento de que há um direito patrimonial pendente.
No caso concreto, a solução só pode ser pensada a partir da vontade do jogador, conferindo-lhe a necessária liberdade para exercer seu direito fundamental de trabalhar, de praticar seu ofício, de se conceber, enfim, como um autêntico ser humano, o que não representa negligenciar as eventuais repercussões patrimoniais (que não me proponho a analisar neste texto) que possam advir de seu ato, mas que, mesmo sem solução, repito, não constituem empecilho à efetividade dos Direitos Humanos.
Em suma: o Oscar, a estatueta, vai para quem a Academia considerar que o mereça. O Oscar, o cidadão, vai para onde ele quiser!
quinta-feira, 26 de abril de 2012
GRAND FINALE
O senador, a mídia e o 'grand finale' da ópera.
O banco dos réus ocupado pelo senador Demóstenes deveria, segundo a lógica da mídia, estar sendo tomado por alguém do governo. As capas e manchetes foram sempre monopolizadas pelo senador como "paladino" da moralidade. Só um erro de percurso explica os acontecimentos.
Por Enio Squeff, na Carta Maior.
As relações naturalmente promíscuas entre membros do Congresso e a contravenção penal, só são uma novidade por terem se desvelado na atual conjuntura. No mais, que tudo tenha acontecido com um moralista de plantão, tido pela grande imprensa como o mais honesto dos congressistas, não chega a ser um enredo para novela de mau gosto. Somerset Maugham no seu conto "A Chuva" põe um pastor a ser flagrado numa relação mais que escandalosa com uma prostituta. Nada que seja pior do que o conluio entre o senador Demóstenes Torres e o contraventor Carlinhos Cachoeira. É que os enredos de novelas e de óperas, quando minimamente coerentes, podem ser inferiores à realidade. A tragédia da ópera "Carmen", de Bizet, baseado no romance homônimo de Prosper Merimée, não é que o protagonista se junta a um bando de contraventores -contrabandistas - para seguir a sua amada - mas o fato, mais que corriqueiro, de que, ao se tornar bandido, acaba também como um assassino.
Não que os crimes que incluam políticos e contraventores estejam isentos de protagonizarem também mortes. O caso do prefeito Celso Daniel em Santo André prefigura a quantas mortes pode chegar o que, à primeira vista, seria um caso de corrupção, um "simples" caso de corrupção.
A diferença para o episódio que gerou uma CPI parece residir na mediocridade de ambos os personagens do fato denunciado recentemente, ou, se quisermos, na sensaboria dos protagonistas. Na galeria de personagens literários brasileiros do século XIX, a convivência com o jogo do bicho não chegava a machucar ninguém. Mas não havia também qualquer proibição à prática. A contravenção, modernamente, considerada que tal, põe em relevo a mesma questão que se coloca para o caso dos tóxicos: quem nasceu primeiro, a oferta ou a demanda: o ovo ou a galinha? Um dos exemplos emblemáticos de Machado Assis - dos poucos em que ele assume diretamente uma questão política - se dá na sua peça "O Quase Ministro". O título já diz tudo, inclusive sobre a ironia do escritor. Mas a trama em si fala muito pouco para os nossos tempos: o que avulta é a ambição humana - nada de conchavos, tendo como pano de fundo o poder econômico.
É claro que isso existia. O milagre de o Brasil ter se tornado uma única nação, parece não ter obedecido à lógica da distância da metrópole, como ocorreu na América Latina de fala espanhola. Não são poucos os historiadores que defendem a anterioridade da data da nossa independência; o Brasil teria se tornado um país desligado de Portugal, não em 1822, quando Dom Pedro I institucionalizou o que, de fato, já tinha acontecido em 1808. Ao dar ao Brasil o status de reino, Dom João VI sabia que o resto seria uma questão de tempo para os ajustes, como, de qualquer modo, aconteceu. Mas na América espanhola as diferenças e a lonjura da metrópole se fizeram consoante os interesses econômicos dos países europeus. A Inglaterra prescindiu de perder tempo com as possíveis dissidências brasileiras: um rei submisso à Coroa Britânica, como foi àquelas alturas com a monarquia portuguesa, era tudo que a Inglaterra queria depois da derrota de Napoleão.
Nada disso deve ter obstado as burlas, as grandes jogadas financeiras. A história do Brasil tem seus detratores e muitos historiadores sérios: falta, porém, contar o que só nos está sendo revelado agora, após o período militar -do qual aliás, só sabemos o que é público e notório - as torturas, a covardia de muitos, a coragem de outros - mas e a corrupção? Qual o custo real da Transamazônica, da ponte Rio-Niterói, de Itaipu, ou dos aeroportos como Viracopos, construídos justamente durante a ditadura?
São questões em aberto. Na peça de Machado, ser ministro não importava tanto como hoje . Quem mandava era o império e suas tenazes que parecem terem se estendido até a República Velha. Jorge Street, único empresário paulista que aceitou as reivindicações da primeira greve laboral conhecida no Brasil e que se deu, em 1917, em São Paulo, foi exemplarmente punido por sua abertura em relação aos problemas sociais. Teve cortado seu crédito pelos banqueiros da época. Nenhum problema de corrupção, em princípio - mas seja qual for o nome que se dê às maquinações de empresários com o estado, contra uma classe social, como a dos trabalhadores, o poder do capital foi usado de forma a suprimir a voz discordante do meio empresarial.
Ao que parece, porém, o tema da corrupção era menos importante - ou um assunto irrelevante perante o poder efetivo, real. Napoleão sempre tolerou que Talleyrand - pai "natural" do grande pintor Eugène Delacroix - surrupiasse onde pudesse: julgava-o mais útil como diplomata, do que condenável por seus procedimentos, digamos, nada heterodoxos em relação ao dinheiro público.
No Brasil atual, por conta e risco - quem sabe - de "um deixa pra lá" muito comum e leniente com a corrupção- chegou-se, por fim, ao inaceitável. As próprias relações do senador com o bicheiro, parece só se terem tornado um assunto nacional por esses "imbroglios" da história, ou antes, uma submissão paradoxalmente, momentânea digamos, da polícia com o governo. Essa, parece, a razão da surpresa da grande imprensa com o fato. O banco dos réus ocupado pelo senador Demóstenes Torres deveria, segundo a lógica da mídia, estar sendo tomado por alguém do governo; ou de esquerda. As capas e manchetes foram sempre monopolizadas pelo senador como "paladino" da moralidade, e portanto, do sistema. Só um erro de percurso explica os acontecimentos. Daí, porém, a busca quase desesperada da mídia: ao que parece, é preciso encontrar fatos que incriminem o governo e seus aliados.
É isso que parece fazer da história e da arte o que elas são (se é que as duas sejam, afinal, muito diferentes): troquem-se os nomes e o filme será, sem tirar nem pôr, igualzinho à novela; ou à ópera, mas principalmente à realidade. Esse, aliás, parece o consolo consabido - uma alimenta a outra. O difícil agora é que o enredo siga o ramerrã. E que quem tenha de responder pelo mal feito não seja o governo - mas a oposição. A ver a ópera e esperar o "grand finale".
O banco dos réus ocupado pelo senador Demóstenes deveria, segundo a lógica da mídia, estar sendo tomado por alguém do governo. As capas e manchetes foram sempre monopolizadas pelo senador como "paladino" da moralidade. Só um erro de percurso explica os acontecimentos.
Por Enio Squeff, na Carta Maior.
As relações naturalmente promíscuas entre membros do Congresso e a contravenção penal, só são uma novidade por terem se desvelado na atual conjuntura. No mais, que tudo tenha acontecido com um moralista de plantão, tido pela grande imprensa como o mais honesto dos congressistas, não chega a ser um enredo para novela de mau gosto. Somerset Maugham no seu conto "A Chuva" põe um pastor a ser flagrado numa relação mais que escandalosa com uma prostituta. Nada que seja pior do que o conluio entre o senador Demóstenes Torres e o contraventor Carlinhos Cachoeira. É que os enredos de novelas e de óperas, quando minimamente coerentes, podem ser inferiores à realidade. A tragédia da ópera "Carmen", de Bizet, baseado no romance homônimo de Prosper Merimée, não é que o protagonista se junta a um bando de contraventores -contrabandistas - para seguir a sua amada - mas o fato, mais que corriqueiro, de que, ao se tornar bandido, acaba também como um assassino.
Não que os crimes que incluam políticos e contraventores estejam isentos de protagonizarem também mortes. O caso do prefeito Celso Daniel em Santo André prefigura a quantas mortes pode chegar o que, à primeira vista, seria um caso de corrupção, um "simples" caso de corrupção.
A diferença para o episódio que gerou uma CPI parece residir na mediocridade de ambos os personagens do fato denunciado recentemente, ou, se quisermos, na sensaboria dos protagonistas. Na galeria de personagens literários brasileiros do século XIX, a convivência com o jogo do bicho não chegava a machucar ninguém. Mas não havia também qualquer proibição à prática. A contravenção, modernamente, considerada que tal, põe em relevo a mesma questão que se coloca para o caso dos tóxicos: quem nasceu primeiro, a oferta ou a demanda: o ovo ou a galinha? Um dos exemplos emblemáticos de Machado Assis - dos poucos em que ele assume diretamente uma questão política - se dá na sua peça "O Quase Ministro". O título já diz tudo, inclusive sobre a ironia do escritor. Mas a trama em si fala muito pouco para os nossos tempos: o que avulta é a ambição humana - nada de conchavos, tendo como pano de fundo o poder econômico.
É claro que isso existia. O milagre de o Brasil ter se tornado uma única nação, parece não ter obedecido à lógica da distância da metrópole, como ocorreu na América Latina de fala espanhola. Não são poucos os historiadores que defendem a anterioridade da data da nossa independência; o Brasil teria se tornado um país desligado de Portugal, não em 1822, quando Dom Pedro I institucionalizou o que, de fato, já tinha acontecido em 1808. Ao dar ao Brasil o status de reino, Dom João VI sabia que o resto seria uma questão de tempo para os ajustes, como, de qualquer modo, aconteceu. Mas na América espanhola as diferenças e a lonjura da metrópole se fizeram consoante os interesses econômicos dos países europeus. A Inglaterra prescindiu de perder tempo com as possíveis dissidências brasileiras: um rei submisso à Coroa Britânica, como foi àquelas alturas com a monarquia portuguesa, era tudo que a Inglaterra queria depois da derrota de Napoleão.
Nada disso deve ter obstado as burlas, as grandes jogadas financeiras. A história do Brasil tem seus detratores e muitos historiadores sérios: falta, porém, contar o que só nos está sendo revelado agora, após o período militar -do qual aliás, só sabemos o que é público e notório - as torturas, a covardia de muitos, a coragem de outros - mas e a corrupção? Qual o custo real da Transamazônica, da ponte Rio-Niterói, de Itaipu, ou dos aeroportos como Viracopos, construídos justamente durante a ditadura?
São questões em aberto. Na peça de Machado, ser ministro não importava tanto como hoje . Quem mandava era o império e suas tenazes que parecem terem se estendido até a República Velha. Jorge Street, único empresário paulista que aceitou as reivindicações da primeira greve laboral conhecida no Brasil e que se deu, em 1917, em São Paulo, foi exemplarmente punido por sua abertura em relação aos problemas sociais. Teve cortado seu crédito pelos banqueiros da época. Nenhum problema de corrupção, em princípio - mas seja qual for o nome que se dê às maquinações de empresários com o estado, contra uma classe social, como a dos trabalhadores, o poder do capital foi usado de forma a suprimir a voz discordante do meio empresarial.
Ao que parece, porém, o tema da corrupção era menos importante - ou um assunto irrelevante perante o poder efetivo, real. Napoleão sempre tolerou que Talleyrand - pai "natural" do grande pintor Eugène Delacroix - surrupiasse onde pudesse: julgava-o mais útil como diplomata, do que condenável por seus procedimentos, digamos, nada heterodoxos em relação ao dinheiro público.
No Brasil atual, por conta e risco - quem sabe - de "um deixa pra lá" muito comum e leniente com a corrupção- chegou-se, por fim, ao inaceitável. As próprias relações do senador com o bicheiro, parece só se terem tornado um assunto nacional por esses "imbroglios" da história, ou antes, uma submissão paradoxalmente, momentânea digamos, da polícia com o governo. Essa, parece, a razão da surpresa da grande imprensa com o fato. O banco dos réus ocupado pelo senador Demóstenes Torres deveria, segundo a lógica da mídia, estar sendo tomado por alguém do governo; ou de esquerda. As capas e manchetes foram sempre monopolizadas pelo senador como "paladino" da moralidade, e portanto, do sistema. Só um erro de percurso explica os acontecimentos. Daí, porém, a busca quase desesperada da mídia: ao que parece, é preciso encontrar fatos que incriminem o governo e seus aliados.
É isso que parece fazer da história e da arte o que elas são (se é que as duas sejam, afinal, muito diferentes): troquem-se os nomes e o filme será, sem tirar nem pôr, igualzinho à novela; ou à ópera, mas principalmente à realidade. Esse, aliás, parece o consolo consabido - uma alimenta a outra. O difícil agora é que o enredo siga o ramerrã. E que quem tenha de responder pelo mal feito não seja o governo - mas a oposição. A ver a ópera e esperar o "grand finale".
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