Dois adversários empenhavam-se em acirrada disputa, tanto faz se política, artística ou esportiva. Um deles, no auge da emoção, afirmou pejorativamente que determinada cidade só produzia jogadores de futebol ou prostitutas. Ofendido, o outro retrucou dizendo-se ofendido, pois a mãe dele havia nascido e morava naquela cidade. Caindo em si o destemperado treplicou: “Pois é. A sua mãe está jogando um bolão...”
Essas firulas verbais servem para demonstrar que certas tertúlias tem limite. Ao contrário de outras, não constituem embate de vida e de morte, havendo sempre uma janela aberta para alguém escapar. É o caso, por exemplo, do PT e do PMDB, na luta pela prefeitura de São Paulo.
Fernando Haddad e Gabriel Chalita trocam farpas, não raro se agridem e fazem o impossível para continuar à tona na competição, esperando cada um passar para o segundo turno, já que o verdadeiro inimigo deles é José Serra, do PSDB, com lugar garantido. Chalita imagina contar com o apoio de Haddad, e vice-versa, na dependência dos resultados de outubro. Por isso não chegam aos limites do rompimento definitivo, deixando sempre uma alternativa, mesmo às vezes ridícula como aquela do cidadão que elogiou os dotes futebolísticos da mãe do adversário.
AMIGO DA ONÇA.
De certos amigos, aliados e correligionários, é sempre bom desconfiar. Pelo menos, essa desconfiança tomou conta do comitê de campanha de José Serra, e do próprio candidato, depois de lida entrevista do senador Aécio Neves, concedida ontem à Folha de S. Paulo. Porque o ex-governador de Minas admitiu a hipótese de Serra, elegendo-se prefeito de São Paulo, vir a renunciar, abandonando o mandato, para candidatar-se a presidente da República.
Foi um comentário digno do Amigo da Onça, porque do que menos Serra gostaria de debater, agora, seria sobre deixar dúvida em seus possíveis eleitores de não cumprir até o fim o compromisso de governar a maior cidade do país. Já renunciou uma vez, colhendo frustrações aparentemente desfeitas, mas relembrar o episódio, mesmo de forma indireta, pode ser prejudicial. Em especial quando levantada a possibilidade pelo seu principal competidor no âmbito do PSDB.
Imaginar apenas boa vontade ou ingenuidade nas declarações de qualquer político mineiro equivale a correr um risco dos diabos. Estaria Aécio Neves tentando sepultar de vez a candidatura paulista, para ficar absoluto na disputa entre os tucanos?
CONTA-GOTAS INESGOTÁVEL.
Não se passa um dia sem que algum veículo de comunicação deixe de apresentar um capítulo a mais nessa novela que tem Carlinhos Cachoeira como vilão. São transcrições de telefonemas dados ou recebidos pelo bicheiro, deixando mal seus interlocutores, como são informações tiradas de alguma das milhares de páginas do relatório da Polícia Federal sobre a Operação Monte Carlo. De graça essas coisas não acontecem, quer dizer, existe um centro de abastecimento da mídia que alimenta permanentemente o noticiário. Saber onde se localiza a fonte, ou as diversas fontes, constitui missão impossível. As conclusões da Polícia Federal estão com a própria instituição, com o Supremo Tribunal Federal, com o Conselho de Ética do Senado, com a CPI mista agora instalada, com o ministério da Justiça, com a Abin e onde mais? Parece uma peneira, ou, em outra imagem, um conta-gotas alimentado por um oceano.
Ninguém, no Congresso, tem lutado tanto contra a impunidade do que o senador Pedro Simon. Há décadas ele bate todos os dias nessa tecla, exortando governos e sociedade a combaterem o grande mal que assola o país. Como por sua independência é visto com desconfiança pelos líderes do PMDB, jamais foi incluído numa CPI sequer. Eles tem medo da metralhadora giratória capaz de atingi-los, aliás, com razão. Não se dirá que Simon faz falta na CPI do Cachoeira, porque como senador, tem todas as prerrogativas para comparecer, opinar e inquirir possíveis depoentes. Ficam mal aqueles que não o escalam, porque entrar em campo, ele vai entrar. Ou melhor, já entrou...
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