terça-feira, 24 de abril de 2012

NÃO ACONTECERÁ NADA


Por Carlos Chagas.
Convém especular: acontecerá o quê, supondo-se  que a CPI do Cachoeira cumpra o seu papel e,  depois de 180 dias, prorrogáveis por mais 180, seus integrantes cheguem à conclusão de que o bicheiro e empresário traficou influencia,distribuiu propina a parlamentares e funcionários de diversos governos, conseguiu contratos para a  Delta e para suas próprias empresas através de meios ilícitos, formou quadrilha e até enviou irregularmente recursos para o exterior? 
Não acontecerá nada, porque ao término do prazo  dos trabalhos da CPI Carlos Cachoeira  já estará fora da cadeia, terá prestado depoimento  dizendo-se inocente e continuará gerindo seus negócios. Mesmo que o relatório final da CPI conclua pela  participação e responsabilidade dele  numa série de malfeitos, o máximo a acontecer será o envio de todo o material para o Ministério Público. Ora, a essa altura procuradores e promotores já terão avançado no processo atualmente em curso contra o contraventor, defendido pelas maiores figuras do Direito e certamente blindado contra novas visitas à cadeia. Poderá estar até faturando mais algum por conta de palestras e conferências a que será convidado.
Quanto aos demais envolvidos, um senador e diversos deputados, terão prestado contas aos respectivos Conselhos de Ética, sem muitas esperanças de perda de seus mandatos, mas,  mesmo se isso acontecer, continuarão indo muito bem, obrigado, como a totalidade dos parlamentares que já foram cassados ou que renunciaram para não ser, todos hoje cuidando  de suas felizes  vidas. Atrás das grades, nenhum, como certamente se verificará após a CPI.
Indaga-se sobre o futuro da Delta Engenharia, mas, se não ocorreu até agora, breve ocorrerá a transferência de seus contratos com o poder público para outras empresas, apesar de os donos e acionistas continuarem os mesmos.
Em suma, a grande contribuição da CPI terá sido lançar, momentaneamente, alguma luz sobre o festival de corrupção que assola o país, ainda que sem consequências para os corruptos.  Ou alguém especula de modo diferente?
A MÁSCARA DE  CAIM.
Tem acontecido com freqüência em nossa crônica policial.  Muitas vezes um irmão é criminoso e o  outro, não. A opinião pública tende a misturar quantidades e pessoas distintas em função do grau de parentesco,  não obstante também  pareça comum que famílias inteiras formem quadrilhas.
No caso de Goiás, pelo menos até prova em contrário, não há porque supor vínculos a não ser de família entre o senador e o Procurador Geral. Aquele dá a impressão de estar enrolado até o pescoço com Carlinhos Cachoeira. Este nada teria  a ver com negócios escusos e  influências perniciosas.  Poderá cair a máscara de Caim, enquanto  Abel  nada teve a ver com as atividades do irmão.
OS GRILOS NA CAIXA.
É conhecida e antiga a história daquele cidadão que de noite  botou uma porção de grilos  numa caixa   e na manhã seguinte chamou os amigos para constatarem a maior lei da natureza: a caixa deveria estar vazia, porque  os  grilos haviam comido uns aos  outros...
PMDB, PT, PSDB e outros partidos menores  indicam hoje seus representantes da CPI do Cachoeira. Estão todos preocupados em livrar a cara de seus  correligionários e assestar pontaria nos adversários. Será que depois de alguns dias trabalho os partidos  estarão  sem ter a quem ouvir?
ORQUESTRAÇÃO DESCABIDA.
Não deixa de ser sintomática a blitz desencadeada pela imprensa brasileira contra a presidente da Argentina, Cristina Kirschener, por estatizar a petroleira YPF, como se fosse um esbulho ao capitalismo e  à Espanha. Começa que  o capital da empresa é majoritariamente multinacional, americano e inglês, ficando os bancos espanhóis com  menos de 30% do total, sem o menor controle de suas atividades. Depois, porque a YPF, tradicionalmente estatal e privatizada só há alguns anos, costuma sonegar impostos e pagar muito mal a seus funcionários, causando imenso volume de reclamações. Seria bom arrefecer essa cortina de fumaça neoliberal que assola nossa mídia, condenada a ficar falando sozinha quando até no parlamento espanhol tem sido muitos os pronunciamentos contrários a qualquer reação do governo de Madri contra Buenos Aires.

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