Por Vitor Hugo Soares, do Blog de Ricardo Noblat em O GLOBO.
Nestes dias, de geléia geral brasileira, nada poderia ter sido mais expressivo – como ato político e fato jornalístico - que a primeira visita do ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, à Brasília, depois do tratamento de câncer na laringe a que se submeteu.
A ambientação, preliminares e repercussões da conversa de Lula com a sua sucessora “foi o que há”, expressão que uma sobrinha em Salvador (profissional da publicidade arguta e antenada com os signos do poder e do marketing político) costuma utilizar para definir acontecimentos de grande impacto. Ou que são produzidos com esse objetivo.
A ambientação, preliminares e repercussões da conversa de Lula com a sua sucessora “foi o que há”, expressão que uma sobrinha em Salvador (profissional da publicidade arguta e antenada com os signos do poder e do marketing político) costuma utilizar para definir acontecimentos de grande impacto. Ou que são produzidos com esse objetivo.
Tapetes vermelhos (real ou simbolicamente) esparramados no
Palácio da Alvorada; sessão especial de cinema, para exibir documentário sobre
a posse de Dilma Rousseff; trocas de juras de amor indissolúvel e de fidelidade
eterna; risos escancarados, quando em volta tudo (ou quase) gira em ritmo de
alta tensão.
“Salamaleques!”, resumiria, provavelmente, se vivo estivesse
e observasse essas coisas, o escritor alagoano Graciliano Ramos, sábio no
pensamento e sempre econômico nas definições.
Tudo, coincidentemente (ou não?), no primeiro dia de
funcionamento, no Congresso, da chamada CPI Mista do Cachoeira.
Portanto, um foco a mais para ser bem observado na capital
do Brasil, sobressaltada pelos vivos e os esqueletos que se cruzam, ultimamente
a cada instante, na inquieta cidade do planalto central.
Denúncias pipocam de todo lado, acompanhadas de “ruídos” e
boatos que mais confundem que ajudam a esclarecer sobre “um escândalo que
promete abalar Paris”, como se diz em Irecê, no nordeste baiano, assolado,
junto com mais de 200 municípios, por mais uma “seca sem precedentes”.
A estiagem - assim como a praga corrupta e corruptora de
Cachoeira, que contamina a política, governos, imprensa, empresas públicas e
privadas - rola solta há mais três anos na Bahia e em outros tantos municípios
da região Nordeste.
Neste ano de eleições para as prefeituras, coincidentemente
(ou não?) a seca ganhou dramáticas cores de tragédia de umas semanas para cá,
em meio ao alvoroço da CPI no Congresso.
Principalmente depois de outro encontro que merecia ser
olhado (e analisado) com mais atenção.
Este, ocorrido em Aracaju, nordestina capital sergipana, no
começo da semana, entre a presidente Dilma e os governadores da região.
Do encontro, além de imagens expressivas no palácio do
governo, que lembram pompas de tempos imperiais e de fartura (e não as agruras
da seca) resultou o anúncio, com pompa e circunstância, da polêmica “Bolsa
Estiagem”, que concederá auxílio de R$ 80, por cinco meses, às famílias
residentes nos municípios nordestinos atingidos pela seca”.
“Amaldiçoado quem pensar mal dessas coisas”, diriam os
franceses. Mas vale lembrar que Luiz Gonzaga e Zé Dantas já alertavam, em
“Vozes da Seca”, sobre o tratamento assistencialista (e eleitoreiro)
dispensado, pelo governo, nas estiagens dos anos 50, no século passado: “Seu
doutor uma esmola, a um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o
cidadão”.
Mas, antes do ponto final, é preciso retornar ao ponto de
partida e crucial das linhas deste artigo: o encontro de Dilma com Lula, no
retorno do ex-presidente ao Planalto, onde se multiplicam gestos e sinais de
harmonia entre os dois, em meio a um território convulsionado.
"Nosso relógio é suíço. Jamais ele vai ter de atrasar
ou adiantar. Nunca temos de acertar os ponteiros", disse Lula – sem
desmentidos ou mesmo um muxoxo de contestação da presidente - em uma das
tiradas, bem ao seu estilo, reveladoras de que Lula parece recuperar a velha
forma de fazer política e o humor de antes da dolorosa passagem pelo Hospital
Sírio Libanês, em São
Paulo.
A segunda “tirada de Lula” em Brasília, esta semana, também
demonstra a recuperação do velho estilo pernambucano-sindicalista (e petista)
de procurar briga. Foi quando ele falou da CPI Mista do Cachoeira, iniciada no
dia de seu retorno à capital federal:
“Vocês vão se surpreender com o que essa CPI vai revelar”,
disse o ex-ocupante da cadeira de Dilma, sem no entanto esclarecer direito quem
ele imagina (ou sabe de fato) serão os surpreendidos.
Pelo tom, arrisco, parecia decidido a retomar seus antigos
embates com a imprensa e com jornalistas.
A conferir...
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