sábado, 27 de novembro de 2010

Há cenas de forte simbolismo registradas na bem-sucedida operação de retomada da Vila Cruzeiro, na Penha, pelo poder público. Por exemplo, a foto de uma coluna liderada por um blindado da Marinha, seguido por veículos da Polícia Militar, estampada na primeira página de ontem do GLOBO, se conjuga com tomadas inéditas, transmitidas ao vivo pela TV, de hordas de bandidos armados em fuga pelo alto do morro em direção ao Complexo do Alemão, área que se torna uma das últimas grandes trincheiras no Rio desses grupos de criminosos. As imagens trazem causa e efeito: diante de uma operação conjunta do Estado brasileiro — policiais com o suporte de uma das forças armadas —, traficantes e seus fuzis não tiveram alternativa a não ser a fuga em massa, como nunca registrada na cidade.
O problema do tráfico e crimes correlatos na região metropolitana da cidade não foi resolvido na quinta-feira, mas, no plano político e psicológico, foi dado duro recado à marginalidade: o projeto de segurança em aplicação no Rio de Janeiro é para valer, não se esgota nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), e ele ganha uma musculatura invejável com a integração de instrumentos de outras instâncias do Estado brasileiro. Neste sentido, os fatos que se desenrolam nos últimos dias vão além deste recado. Constituem-se um divisor de águas na segurança pública brasileira. A sociedade entendeu, e é palpável o apoio popular a este avanço articulado contra o banditismo, feito com planejamento e calma, como tem defendido o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Assistir à fuga desesperada de bandidos gerou alegria e, ao mesmo tempo, frustração, pois parecia fácil cercá-los no alto da passagem entre as duas comunidades. Mas não era, segundo explicou Beltrame ao GLOBO. Lembremo-nos que a crônica da luta contra o crime no Rio está repleta de ações pirotécnicas de tomadas de áreas, depois devolvidas ao tráfico pela impossibilidade de as polícias mantê-las sob controle.
Destaque-se, ainda, a participação do Tribunal de Justiça do Rio, parte relevante da operação conjunta do Estado, ao aceitar transferir mais presos perigosos para fora do Estado e qualquer detido nos atos de terror, de destruição de veículos nas ruas.
As autoridades não podem perder este momento especial e inédito. Ficou provado que as Forças Armadas têm condições de ajudar bastante no apoio logístico, tópico, nesta guerra, em que está em jogo o estado de direito democrático. A atuação na operação de policiais federais, a cessão de 800 soldados de elite do Exército — vários com experiência em favelas do Haiti —, para o cerco do Complexo do Alemão, a mobilização de mais carros blindados para o transporte de soldados do Bope e helicópteros da Aeronáutica, tudo isto está dentro desta acertada percepção. "Mudou o paradigma", declarou ontem, no Rio, o ministro da Defesa, Nelson Jobim. E a sociedade agradece.
Há muito o tráfico deixou de ser uma questão de segurança pública simples. Já foi no passado, mas, no caso do Rio, uma longa sucessão de governos incompetentes e populistas permitiu o enraizamento de quadrilhas na região metropolitana. Ao mesmo tempo, a corrupção, que chegou à alta hierarquia da Secretaria de Segurança, praticamente extinguiu o poder público como força repressora do crime. Tantos desmandos só poderiam desaguar nesta situação, cujo enfrentamento tem de ser de todos — sociedade e Estado.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

ENCURRALE-O

CORTA, CORTA, CORTA...

A MESMA MÍDIA QUE SAÚDA A 'GUERRA DO RIO' EXIGE ARROCHO ORTODOXO NO PAÍS...  '... a aproximação da posse de Dilma Rousseff trouxe de volta o coro a favor de forte ajuste fiscal (...) O principal alvo da crítica, na verdade, não aparece de modo explícito. O que de fato se questiona é a decisão do governo Lula de alterar a lógica da política fiscal e a estratégia de desenvolvimento" (Francisco Luiz Lopreato, da Unicamp;) (Carta Maior - 26/11)
A aproximação da posse de Dilma Rousseff trouxe de volta o coro a favor de forte ajuste fiscal.
A alegação dos que defendem essa tese é a de que a política fiscal do governo Lula colocou em risco as contas públicas e pressionou a inflação, ou que o aumento substancial do superavit primário implicará forte queda da dívida e dos juros.
Vejamos esses pontos. Primeiro, a situação fiscal é aceitável, bem melhor do que em períodos anteriores, e a inflação pouco acima do centro da meta não parece estar associada à expansão da demanda provocada por excesso de gasto público. Além disso, a dívida pública líquida (41% do PIB) é uma das menores em relação à dos principais países do mundo.
Segundo, a queda acelerada da dívida pública, com o aumento do superavit primário, pode ter efeito positivo na taxa de juros, mas não se deve esperar baixa expressiva enquanto não houver a separação entre o sistema monetário e o de dívida pública. O atual patamar de taxa de juros está atrelado à forma "sui generis" de convivência desses dois mercados.
O problema se arrasta desde o período de alta inflação e, caso não seja eliminado por meio de reformas envolvendo alterações na remuneração da poupança e o provável abandono dos títulos indexados à Selic, dificilmente a taxa de juros cairá além do nível alcançado no período crítico da crise mundial, e as dificuldades de alongar os prazos de financiamento continuarão a existir.
O principal alvo da crítica, na verdade, não aparece de modo explícito. O que de fato se questiona é a decisão do governo Lula de alterar a lógica da política fiscal e a estratégia de desenvolvimento.
O retorno do Estado como ator central na articulação de novas frentes de investimento levou à reestruturação dos instrumentos fiscais e financeiros de apoio à ação do setor público, exigindo o fortalecimento dos bancos de crédito oficiais, o revigoramento das empresas públicas e a ampliação dos incentivos fiscais.
A candidata Dilma apresentou proposta de governo semelhante.
Espera-se que mantenha a posição ativa do Estado e ainda trate de recuperar a força do planejamento e da política industrial. Um ajuste fiscal severo vai contra essas ideias e coloca em risco a continuidade do programa de investimentos.
Mas, por outro lado, é importante que a manutenção do projeto vencedor das eleições não signifique descontrole das contas públicas. Não há esse risco. A provável redução do ritmo de reajustes do salário mínimo trará reflexos positivos no resultado da previdência social, e outros gastos devem seguir o mesmo caminho.
Além disso, a nova equipe econômica já se comprometeu com a estabilidade fiscal e com a redução da dívida pública, mantendo nível adequado de superavit primário.
O valor proposto para o saldo primário (3,1% do PIB) e um crescimento médio da ordem de 5% do PIB garantem a redução sustentada do peso da dívida pública no decorrer do próximo mandato presidencial, sobretudo se vier a ocorrer reforma capaz de dar fim ao entrelaçamento entre mercado monetário e de dívida pública, abrindo espaço para a queda da taxa de juros.
Enfim, o momento da economia brasileira é favorável e não requer a adoção de rígido programa de austeridade fiscal; basta levar adiante a política de defesa do crescimento e sustentar o compromisso de não deteriorar as contas públicas em nome da expansão econômica

LINHA VERMELHA

Mais uma vez, a elite burra culpa o Brizola pela violência... mas não eram vocês que chamavam CIEP de "hotel de pobre"? E pra você que acha bacana ir pra rodinha de amigos acender um baseadinho, considere-se culpado por tudo isso que acontece no Rio de Janeiro. Vamos parar de hipocrisia!
RIO DE JANEIRO (vou pra Porto Alegre, tchau) – Saí pela transversal e peguei a Nossa Senhora de Copacabana à direita. Pelo clima, nem parecia o Rio: 22 graus, sol tímido de outono, brisa fresca, céu azul daqueles de doer os olhos.
Tudo como há 35 anos, as calçadas estreitas, gente indo e vindo desordenadamente, lojas coladas umas às outras, botecos nas esquinas, um comércio que já não se vê em qualquer rua, resquício, creio, dos anos do Império, da vocação lusitana pela venda, o Rio é a mais portuguesa das cidades, ao lado da Diesel tem uma casa de secos & molhados, e uma farmácia, e uma vendinha, e um minimercado, e uma óptica, e uma casa de sucos, e uma livraria. Afinal, não faz tanto tempo; Dom João chegou de mala e cuia há 200 anos, é um espirro na história.
Nas calçadas, lembrei de Roma, alguns mulambentos e miseráveis, doentes e aleijados, e a indiferença de quem passa, os grandes centros imperiais sempre atraíram todos os tipos de desgraçados pela vida, Roma é assim, o Rio é assim. Na rua, o barulho infernal dos ônibus e seus motores dianteiros, que ocupam todas as faixas e aceleram o tempo todo. De diferente, apenas as motos, que não havia, e de qualquer forma são em menor número do que onde vivo hoje.
Ninguém estranha quando passa alguém sem camisa e de chinelos, nem as moças de saída de banho. Vou seguindo em direção ao Leme, porque me lembro das direções, o mar é sempre uma ótima referência, e me lembro dos cheiros. É curioso como sempre me lembro dos cheiros, mesmo sem saber dizer do quê são.
Havia uma escadaria, que em meu primeiro vôo-solo, para comprar cigarros para meu pai, Minister, realizei morrendo de medo porque o Carlinhos tinha sido raptado, e eu achava que todos os adultos eram seqüestradores em potencial, mas na época não se usava falar seqüestro, e sim rapto.
Há 35 anos, eu desci a escadaria, virei à esquerda, passei em frente ao Cine Ricamar, comprei o Minister e voltei correndo. Ousadia que só foi possível porque não precisava atravessar a rua, exceto a minha, que era sem saída.
Tudo que eu precisava, agora, era achar a escadaria ao lado do Cine Ricamar, e quando a Nossa Senhora de Copacabana fez uma ligeira curva à esquerda, já dando para ver os fundos do Copacabana Palace, apareceu a escadaria, e eu subi, olhando bem para os lados para não topar com os maconheiros que o meu pai dizia que viviam lá fumando maconha, e eu não entendia porra nenhuma, porque meu pai também fumava, e eu não sabia direito qual era a diferença entre o Minister e a maconha.
Não cruzei com nenhum maconheiro, e notei que o Cine Ricamar já não tem mais esse nome, agora parece ser uma espécie de teatro da Prefeitura. Fui subindo e lá no alto estava a rua de paralelepídedos onde vivi há 35 anos, General Barbosa Lima, e logo à direita, na outra calçada, o prédio baixo de sete andares, Edifício Martha Pinheiro de Lima no letreiro dourado e polido. Logo que me mudei para cá, numa das primeiras semanas de aula, convidei um amiguinho para brincar em casa e quando ele perguntou onde eu morava, eu disse que era no Edifício Martha Pinheiro de Lima, e foi o que ele anotou no caderno para sua mãe levá-lo em casa, mas ele acabou não indo porque era preciso o nome da rua e o número, e eu pensava que o edifício, batizado com o nome de uma mulher tão importante, já deveria ser o suficiente. Não me lembro se tínhamos telefone, só sei que o amiguinho acabou não indo. Bem, o endereço era, é, rua General Barbosa Lima, 95. Apartamento 201. A gente abreviava General como Gal., acho que se faz isso até hoje.
Olhei para a fachada, me pareceu bastante familiar: algumas garagens do lado esquerdo, a entrada de serviço, que tinha à esquerda a lixeira onde caía o lixo que a gente jogava lá de cima, já que os apartamentos tinham lixeiras basculantes, e dava no fim do corredor no apartamento do zelador, o pai do João, vascaíno, e mais à direita a entrada social, revestida de madeira, que a gente nunca usava.
Havia um sujeito sentado na mureta do pequeno jardim e perguntei se era o zelador, ele me respondeu que era mais ou menos, estava cobrindo férias do seu tio, ou sobrinho, sei lá. Não era o pai do João, que já deve ter morrido. Continuei subindo a rua de paralelepípedos de calçadas muito estreitas, aquele pedaço de Copacabana se chamava Morro do Caracol, porque a rua fazia, faz, uma curva à esquerda, morrendo nos fundos do Edifício Martha Pinheiro de Lima.
Lá atrás, um pequeno play-ground cercado de grades, estas não estavam ali 35 anos atrás, e a breve rampa da garagem subterrânea onde meu pai um dia guardou um Chevette para fazer surpresa para minha mãe, cujo capô foi batizado por mim no dia em que um cachorro louco queria me morder, e eu corri para a garagem e subi no Chevette para escapar da besta-fera.
Eu morava no segundo andar e essa garagem subterrânea, nos fundos do Edifício Martha Pinheiro de Lima, ficava na verdade na altura da porta da cozinha do nosso apartamento. Não havia portão, agora tem. Desci a breve rampa e olhei para a garagem, ela me parecia maior há 35 anos, mas ali estava a porta estreita que dava no pequeno corredor que tinha o elevador à esquerda e no fundo a porta da cozinha, que irrompi com minha Caloi verde-alface em minha primeira experiência ligada à velocidade, e sem rodinhas, quando despenquei pela rampa, entrei pela porta que dava no corredor e só fui parar no armário debaixo da pia, rasgando a canela na lata do porta-corrente. Sangrou muito e minha mãe teve de consertar minha canela na banheira, para não pingar sangue nos tacos.
Ali nos fundos do Edifício Martha Pinheiro de Lima a gente brincava de bicicleta, empinava pipa e jogava futebol. Não lembro dos nomes de muita gente, exceto do João, filho do zelador, e do Serginho, filho do vizinho do primeiro andar. Que era mais velho, uns dois anos mais do que eu, e que um dia acendeu um cigarro na frente de todo mundo, o que me deixou estarrecido e excitado, e isso eu nunca comentei com ninguém. Mas era uma ousadia de tal monta que um dia resolvi que iria fazer o mesmo. Eu colecionava maços e caixas de cigarros que os turistas jogavam na areia, e na coleção tinha uma caixa não totalmente vazia, uma raridade, era de plástico, branca com faixas azuis, vermelhas e douradas, que encontrei na praia, era uma marca italiana, Muratti-alguma-coisa. E numa manhã fui até a pequena salinha que ficava junto ao hall da entrada social, que a gente nunca usava e nem tinha móveis, e escondido até de Deus coloquei o cigarro na boca para ver que gosto tinha. Como estava apagado, não tinha gosto de nada, apenas um aroma meio adocicado, o ato proibido deve ter durado três ou quatro segundos, escondi o cigarro e voltei para meu quarto correndo, apavorado, é verdade, mas sentindo-me já um adulto, quase como o Serginho.
Desci de novo a rua General Barbosa Lima, contornando dois prédios que não existiam em 1973, e tomei coragem. Fui ao interfone e toquei no 201. Atendeu uma moça e eu perguntei se ela morava lá. Ela não entendeu direito, perguntou meu nome não sei bem por quê, acabei descobrindo que era a empregada e os donos do apartamento não estavam. Expliquei, falando rápido e atropelando palavras, que há não sei quantos anos aquela tinha sido minha casa, mas não insisti demais. O zelador apareceu, um sujeito muito simples, e achei desnecessário dizer o que estava fazendo plantado sozinho diante do interfone, esperando uma resposta que não viria. Ele, de qualquer forma, não parecia muito interessado. Fui para o outro lado da rua e a empregada apareceu na janela, não estava com medo de nada, parecia apenas curiosa, deu um sorriso, e eu gritei lá de baixo que estava tudo bem, eu só queria ver meu apartamento de novo, mas sem os donos, sabia que seria inútil insistir. Ela deu outro sorriso, como se dissesse que por ela, tudo bem, mas estava claro que nem eu insistiria, nem ela deixaria, vivíamos um paradoxo monumental, os dois desejando a mesma coisa, eu subir e ela abrir a porta para aquele cara estranho mas inofensivo, e o ato jamais se consumaria pelo inusitado da situação.
Atravessei a rua para me despedir do zelador, que me disse ser da Paraíba, no Rio todos os nordestinos são chamados de paraíbas, e esse era, é, mesmo, e para provar a ele, que não tinha o menor interesse em prova alguma, que realmente tinha morado lá, contei que no primeiro andar vivia, naquela época, o Sérgio Cabral, jornalista conhecido, famoso compositor de sambas, e que o Serginho, aquele que fumava na frente de todo mundo, é hoje o governador do Rio. Ele não pareceu muito impressionado, e aí perguntei se o Sérgio Cabral ainda morava no 101, e ele disse que sim.
Desci a General Barbosa Lima, evitei a escadaria dos maconheiros, e lá embaixo notei que na entrada do Morro do Caracol, onde tem uma curva à esquerda que dá na Barata Ribeiro, há agora um albergue da juventude e uma igreja protestante, bem no trecho plano da rua onde jogávamos futebol e eu era goleiro, o único que gostava de jogar no gol, e usava camisa laranja com faixas pretas nos ombros, calção acolchoado e meias pretas, que nem o Zecão da Portuguesa de 1973, que olhava para mim todas as noites, desde a página de jornal colada na parede. Eu tinha luvas, também, marrons com a borracha vermelha, e passei a usar joelheiras apertadas depois que arrebentei os joelhos deixando meu sangue nos paralelepípedos da General Barbosa Lima num jogo épico contra os meninos que moravam nos prédios lá de baixo.
Fui até a Barata Ribeiro e me sentei na Cafeteria Carioca, de frente para a Praça Cardeal Arcoverde, pedi um café e uma fatia de torta de limão e comecei a pensar nas alternativas que tinha para, afinal, subir no meu apartamento, mesmo que só com a empregada por lá. E não eram poucas. Eu podia ligar para o jornal e pedir o telefone do Sérgio Cabral, contar tudo a ele, talvez se lembrasse da família paulista que foi sua vizinha durante três anos nos tempos do seqüestro do Carlinhos, talvez ele até deixasse seus afazeres de lado por algumas horas e fosse até o Edifício Martha Pinheiro de Lima e me convidasse para subir e tomar um café no 101, ou podia chamar a empregada de novo pelo interfone e pedir o celular de seus patrões, a quem telefonaria para fazer um pedido inesperado e pouco usual, afinal eu tinha muitos elementos para sustentar minha história, poderia descrever o apartamento em detalhes, contaria a ele, ou ela, do acidente com a bicicleta, da lixeira, da ante-sala onde coloquei o cigarro apagado na boca, e da porta pantográfica do elevador que me metia muito medo, porque meu pai dizia que se colocasse a mão ali ela seria arrancada, o que resultou em três anos de absoluto pavor toda vez que pegava aquele elevador, e poderia ir além, diria que costumava jogar bola com meu pai e meus irmãos no corredor comprido que levava aos quartos, um dos gols era a porta do banheiro, até o dia em que quebramos uma xícara de um jogo de chá que tinha sido da minha bisavó e minha mãe chorou porque não dávamos sossego, e lembraria a ele, ou a ela, que guardava memórias decisivas daquele corredor, daqueles quartos e daquela sala, porque um dia meu pai recebeu uma visita de São Paulo, talvez fosse seu chefe, e disse a ele orgulhoso que eu era uma criança muito inteligente que adorava ler e que qualquer coisa que caísse na minha mão, fosse um livro, um jornal ou uma revista, eu parava de fazer o que estivesse fazendo e lia, lia furiosamente, e escutei isso do meu quarto, e para reforçar junto ao chefe aquilo que meu pai disse, armei-me de coragem e de um livro da escola, fui até a sala dizer boa-noite, e imediatamente sentei-me na poltrona puída e disse, alto e bom som, que já que estava com aquele livro na mão, iria aproveitar para ler um pouquinho, o que deve ter deixado o chefe realmente impressionado, a comprovação imediata do que meu pai tinha dito pouco antes. Aquilo, certamente, iria ajudá-lo no emprego. E nunca me esqueci daquele dia, e até hoje tudo que cai na minha mão eu leio, porque se meu pai disse um dia que sou assim, assim sou.
Contaria também ao patrão, ou à patroa da empregada, que provavelmente graças àquela demonstração instantânea de solidez de nossa estrutura familiar, naquela noite meu pai me levou para jantar com o chefe no Alcazar, que ficava na avenida Atlântica, e ainda fica, e que pela primeira vez comi lagosta na vida, com arroz e manteiga derretida, não deixei cair uma gota da manteiga na camisa de colarinho, meu pai deve ter deixado metade do salário na lagosta para agradar o chefe, e, em resumo, se hoje eu gosto de lagosta com manteiga derretida e leio muito, devo tudo àquele momento único na sala do apartamento 201 do Edifício Martha Pinheiro de Lima, e que só isso já seria suficiente para que ele, ou ela, telefonasse à empregada autorizando que eu subisse, e que ficasse por lá o tempo que quisesse.
Paguei o café e a torta de limão decidido a levar um dos meus dois planos adiante, achar o pai do governador ou telefonar para os patrões da empregada, mas a coragem foi-se esvaindo na medida em que subia o Morro do Caracol até parar diante do prédio de novo, olhar para as amplas janelas, o quarto do meio onde eu dormia, o letreiro em dourado, a entrada de serviço, a madeira revestindo a entrada social, a escadaria que me levaria de volta à vida às minhas costas, e consegui apenas telefonar para meu pai e dizer, adivinhe onde estou?, e ele disse, na rua General Barbosa Lima número 95, e eu disse que era lá mesmo, disfarcei a emoção, ele também, mandei um beijo, virei as costas para o passado e comecei a descer a escadaria, agora já sem medo de nenhum maconheiro ou dos sequestradores do Carlinhos, satisfeito por não ter de deixar mais marca nenhuma na rua General Barbosa Lima além do sangue de meus joelhos ralados nos paralelepípedos, uma marca eterna, muito mais do que seria qualquer lágrima que derramasse naquele apartamento 35 anos depois, lágrimas que correriam dos olhos de alguém que anda espantado com o jeito que o tempo passa.

CHEIRASSE MENOS

Insurreição social? Eu não sou especialista e posso estar simplificando, mas, indo mais a fundo no problema que posso, me arriscaria a dizer que tudo começa com a desilusão que as pessoas tem da vida (ou Dukkha conforme os budistas), que é perfeitamente normal, potencializada pelos apelos da sociedade de consumo (veja que a massificação desses problemas é um fenômeno relativamente recente). O problema começa quando as pessoas buscam alívio na bebida, que intoxica a mente e tira a consciência do eixo. Daí ocorre o descaso, a violência e/ou os abusos em casa, que reflete na educação que as pessoas recebem quando criança, levando a todo tipo de patologia. Traficantes são verdadeiros sociopatas, como você bem sabe. Claro, com uma oferta de mão-de-obra de jovens também ignorados/abusados pelos pais (antes de o serem pelo Estado, penso eu), o tráfico vai se espraiando. Claro que o sistema leva a isto, e nem poderia ser diferente: usamos tênis porque existe a industria e se todos deixássemos de usar tênis a industria quebraria e haveria desemprego. Mas, por causa da propaganda, o tênis que vamos comprar tem que custar R$ 500,00, senão seremos “marginalizados pelo sistema”. Também é um absurdo pensar que o rico é feliz por poder comprar, vide taxas de suicídio nesse extrato social. Analisadas as origens do fato, vamos ao fato em si. A análise do articulista é simplista e falha porque considera que um ato de violência cometido por 200 pessoas é um atos de insurreição social, como se os traficantes fossem os dignos representantes do povo e estivéssemos sendo preconceituosos para com os pobres. Como se esse fosse o “grito dos marginalizados contra o sistema”. Não é, o tráfico é uma anomalia que cresceu demais, um câncer. E cânceres são difíceis de curar mesmo, tem que prevenir e tratar desde cedo, como seria a presença do Estado. Às vezes só com intervenção cirúrgica, com todos os seus efeitos colaterais, mortes de células saudáveis etc. O traficante tampouco respeita a vida da comunidade; ele não é o marginalizado: ele é que se marginalizou. A maioria esmagadora do morro é composta de gente trabalhadora (pensei que isso fosse óbvio!), que também sofreu abuso ou passa fome, mas não queima ônibus, e tem medo de denunciar o traficante porque sabe que a polícia sobe o morro mas vai embora em seguida. A UPP não é emplastro, é o início da solução, a tão reclamada presença do Estado. Depois de fornecida alguma garantia à população, fica mais fácil obter sua participação na solução do problema. Houve casos em que a própria comunidade expulsou os traficantes. O articulista acredita que o que faz o comportamento das pessoas são apenas fatores externos, como se fosse cães ou marionetes. Se assim fosse, não haveria inocentes no morro e teríamos insurreição social. Eu acredito que existe o componente interno, a autodeterminação das pessoas. Antes de ganhar o Nobel da Paz, Anwar Sadat também levantou seu punho e gritou: “-morte a Israel !” A diferença entre o Rio e Paris, Londres ou Miami é que lá existe o Estado e o império da lei. Aqui, por enquanto, a lei é o tráfico. Não leve a mal minha parcialidade política, mas, aqui, os “trabalhadores e setores da classe média, bem informados e instruídos”, vão continuar sem se manifestar como os traficantes, porque já não passam fome e descobriram que podem mudar alguma coisa nesse país através do voto... Sabe o que eu acho? Acho indigno citar Santo Tomas de Aquino e Carlos Drumond de Andrade para defender o tráfico...

FORA DE ÉPOCA . . .

A BATALHA DO RIO

É um engano identificar a batalha do Rio – e de outras grandes cidades – como mero confronto entre a polícia e delinquentes, traficantes, ou não. Embora a conclusão possa chocar os bons sentimentos burgueses, e excitar a ira conservadora, é melhor entender os arrastões, a queima de veículos, os ataques a tiros contra alvos policiais, como atos de insurreição social. Durante a rebelião de São Paulo, o governador em exercício, Cláudio Lembo, considerado um político conservador, mais do que tocar na ferida, cravou-lhe o dedo, ao recomendar à elite branca que abrisse a bolsa e se desfizesse dos anéis.
O Brasil é dos países mais desiguais do mundo. Estamos cansados do diagnóstico estatístico, das análises acadêmicas e dos discursos demagógicos. Grande parcela das camadas dirigentes da sociedade não parece interessada em resolver o problema, ou seja, em trocar o egoísmo e o preconceito contra os pobres, pela prosperidade nacional, pela paz, em casa e nas ruas. Não conseguimos, até hoje (embora, do ponto de vista da lei, tenhamos avançado um pouco, nos últimos decênios) reconhecer a dignidade de todos os brasileiros, e promover a integração social dos marginalizados.
Os atuais estudiosos da Escola de Frankfurt propõem outra motivação para a revolução: o reconhecimento social. Enfim, trata-se da aceitação do direito de todos participarem da sociedade econômica e cultural de nosso tempo. O livro de Axel Honneth, atual dirigente daquele grupo (A luta pelo reconhecimento. Para uma gramática moral do conflito social) tem o mérito de se concentrar sobre o maior problema ético da sociedade contemporânea, o do reconhecimento de qualquer ser humano como cidadão.
A tese não é nova, mas atualíssima. Santo Tomás de Aquino foi radical, ao afirmar que, sem o mínimo de bens materiais, os homens estão dispensados do exercício da virtude. Quem já passou fome sabe que o mais terrível dessa situação é o sentimento de raiva, de impotência, da indignidade de não conseguir prover com seus braços o alimento do próprio corpo. Quem não come, não faz parte da comunidade da vida. E ainda “há outras fomes, e outros alimentos”, como dizia Drummond.
É o que ocorre com grande parte da população brasileira, sobretudo no Rio, em São Paulo, no Recife, em Salvador – enfim em todas as grandes metrópoles. Mesmo que comam, não se sentem integrados na sociedade nacional, falta-lhes “outro alimento”. Os ricos e os integrantes da alta classe média, que os humilham, a bordo de seus automóveis e mansões, são vistos como estrangeiros, senhores de um território ocupado. Quando bandos cometem os crimes que conhecemos (e são realmente crimes contra todos), dizem com as labaredas que tremulam como flâmulas: “Ouçam e vejam, nós existimos”.
As autoridades policiais atuam como forças de repressão, e não sabem atuar de outra forma, apesar do emplastro das UPPs.
Na Europa, conforme os analistas, cresce a sensação de que quem controla o Estado e a sociedade não são os políticos nem os partidos, escolhidos pelo voto, mas, sim, o mercado. Em nosso tempo, quem diz “mercado”, diz bancos, diz banqueiros, que dominam tudo, das universidades à grande parte da mídia, das indústrias aos bailes funk. E quando fraudam seus balanços e “quebram”, o povo paga: na Irlanda, além das demissões em massa, haverá a redução de 10% nas pensões e no salário mínimo – entre outras medidas – para salvar o sistema.
A diferença entre o que ocorre no Rio e em Paris e Londres é que, lá, o comando das manifestações é compartido entre os trabalhadores e setores da classe média, bem informados e instruídos. Aqui, os incêndios de automóveis e os ataques à polícia são realizados pelos marginalizados de tudo, até mesmo do respeito à vida. À própria vida e à vida dos outros.

BANDIDAGEM NA MIRA

Exército fecha acessos ás favelas da Penha e do Alemão.
Equipes do Exército fazem um cerco em todas as entradas das favelas dos complexos da Penha e do Alemão. O comandante da Brigada de Infantaria Paraquedista, general Fernando Sardemberg, está junto com o 1º Comando de Patrulhamento de Área (CPA), coronel Marcus Jardim Gonçalves, distribuindo a tropa por 44 pontos do entorno dos complexos da Penha e do Alemão.
O cerco está sendo feito de forma simultânea. Enquanto uma equipe entrou pelo Morro da Fé, a outra está fazendo o cerco ao Complexo do Alemão pela Rua Canitar, em Inhaúma.
Cerca de 60% dos soldados que estão no Alemão estiveram no Haiti e têm experiência em ações urbanas. Segundo o general, os homens vão atuar somente impedindo que traficantes saiam das favelas. Os militares não farão abordagem a moradores e motoristas.
Sardemberg, que já atuou no Haiti, disse que são 800 homens em 40 viaturas, entre caminhões e carros, e cinco carros de combate equipados com metralhadoras .50. O general acrescentou que a princípio as metralhadoras não serão utilizadas.

VAI FUJÃO

PÉ NA BUNDA

É muito bom ouvir e ler Maria Conceição. Ontem na Globo News Miriam "Porcão" entrevistou o ex-presidente do BC Gustavo Loyola e outro economista que faz parte do programa. Todos pregando para que o futuro governo aumente a taxa Selic. Eu que não sou economista, não entendo patavina de economia, essa proposta me soou como um torpedo atingindo meus tímpanos. Parece que eles não querem ver a realidade, e Dilma já sinalizou que vai continuar e aprofundar os programas sociais. Pensei, apesar da minha humilhante ignorância em economia, como a digníssima professora. Esses babacas não foram alunos dela?

CONFERÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO - IPEA

"Brasil precisa se proteger e cuidar das contas externas"
A economista Maria da Conceição Tavares defendeu nesta sexta-feira, durante a Conferência do Desenvolvimento, promovida pelo IPEA, em Brasília, que o Brasil deve proteger sua economia, reverter o processo de sobrevalorização do real e adotar mecanismos de controle de capital para evitar um ataque especulativo. Em sua fala, ela deixou algumas sugestões para o futuro governo Dilma: "Eu diria que a primeira preocupação agora é, sem dúvida nenhuma, com o setor externo. Se ele continuar assim vai haver degradação da indústria, déficit crescente da balança de pagamentos e uma fragilidade externa que na crise de 2008 nós não tivemos".
Katarina Peixoto, Carta Maior.
O sexto painel da Conferência do Desenvolvimento, promovida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em Brasília, apresentou um tema abrangente e desafiador: Macroeconomia e Desenvolvimento. Um tema à altura da homenagem feita pelo IPEA aos 80 anos da professora Maria da Conceição Tavares, formadora de mais de uma geração de economistas brasileiros. Bem humorada, ela brincou com a relação entre a homenagem e o tema escolhido para a conferência:
“Esta homenagem está gloriosa, porque o clima é Woodstock, não é. Vamos ver se sou capaz de tocar guitarra elétrica. O tema proposto para mim, só tocando guitarra elétrica. Macroeconomia e desenvolvimento não são temas pensados conjuntamente, geralmente”.
O propósito da política macroeconômica, lembrou, é evitar os desequilíbrios. E agora mais do que nunca em função da crise econômica mundial. Maria da Conceição Tavares fez um rápido resumo do quadro atual.
“Neste ano que passou foram os países ditos emergentes que cresceram. O primeiro mundo não cresceu nada. A crise de 2008, agora em 2010, veio repicada com a crise na Europa. A política macroeconômica na Europa deve estar fazendo Keynes se remover na tumba. Um desemprego cavalar e eles vêm com ajuste fiscal. Além de tudo há uma pletora de dólares. O Banco Central europeu está sustentando os países mais pobres da UE, mas o problema não é de liquidez, mas de insolvência”.
Frente a essa situação, alertou, o Brasil precisa ficar atento:
“Nossa taxa de juros é historicamente cavalar. Não é uma maluquice do presidente do Banco Central. Desde a década de 70 que a taxa de juros primária é muito alta. E as taxas ativas dos bancos também são muito altas. Então estamos numa situação braba: que tipo de investimentos essa taxa de juros elevada atrai? O investimento direto não tem nenhum problema, desde que sejam estertores importantes do desenvolvimento. Mas nossas taxas de juros fazem com que sejamos atrativos para o capital especulativo. Resultado: estamos com uma grande sobrevalorização do real”.
Diante deste quadro, acrescentou, a economia brasileira precisa se proteger, não apenas dos Estados Unidos, mas também da China. Neste ponto, ela fez algumas advertências importantes ao governo Lula e, principalmente, ao futuro governo Dilma:
“Temos aumentado desvairadamente as importações. Está um festival de importação. Nós estamos diminuindo o conteúdo de valor agregado de nossa indústria, até com coeficiente em importação em aço, no qual temos competitividade internacional, temos 15% da importação em aço. Há sobra de aço na Europa, que está fazendo dumping para cima da gente e nós deixamos. Eu diria que a primeira preocupação agora é, sem dúvida nenhuma, com o setor externo. Se ele continuar assim vai haver degradação da indústria, déficit crescente da balança de pagamentos e uma fragilidade externa que na crise de 2008 nós não tivemos. Foi a primeira vez que o Brasil passou por uma crise sem se arrebentar. Ao contrário, somos credores líquidos internacionais. Passar dessa situação, outra vez, para devedor líquido é péssimo. Só não passamos a tanto porque o governo é credor líquido. Mas as grandes empresas, o capital privado já está devendo. O que significa que qualquer repique da crise internacional pode nos trazer problemas”.
O governo tem de estar atento, enfatizou a economista, para não agravar o déficit fiscal. “A inflação é de custos, não de demanda. Então, não é o caso elevar taxa de juros, para não agravar o déficit fiscal, aumentando o serviço da dívida. Isso tira a possibilidade de desenvolvimento. Como se faz desenvolvimento com uma taxa de juros dessas?” - indagou.
A economista garantiu que não discutiu pessoalmente esses temas com ninguém do governo. E reafirmou a defesa da adoção do controle de capitais para proteger o país de um ataque especulativo.
“Já disse publicamente e repito, penso que numa situação como essa tem de ter controle de capitais. Todos os controles quantitativos. Aumenta o compulsório. Controla a taxa de crédito. Mas não com essa taxa de juros. Mesmo que o FMI tenha dito que controle de capitais pode ser recomendado, na atual conjuntura, o “mercado” e “os do mercado” aqui no Brasil não suportam ouvir isso. Mas temos no Banco Central gente discreta, não vedetes. Eu acho que a mudança do presidente do BC se prende a isso”.
O Brasil, recomendou ainda a economista, precisa fazer uma política fina e ir diminuindo lentamente a taxa de juros e a taxa de câmbio. “Devagar com o andor que o santo é de barro. Tem de andar devagar”, enfatizou.
E criticou aqueles que defendem o corte de gastos para promover um duro ajuste fiscal.
“O eixo deste governo é a política econômica com eixo social. Esse é o nosso custeio. Cortar para investir, para agradar a imprensa? Eu acho que não há sentido nenhum. No desenvolvimento econômico, o eixo social está correto. Mas se não cuidarmos da parte cambial, não conseguiremos fazer política industrial e tecnológica e, no longo prazo, não há desenvolvimento econômico regredindo nessas coisas”.
Maria da Conceição Tavares manifestou confiança na capacidade da presidente eleita Dilma Rousseff enfrentar esses problemas:
“Graças a deus a nossa presidente é uma mulher de coragem, de discernimento e economista competente. Este primeiro ano dela é complicado, em todos os sentidos. Enfim, que deus a proteja. Não adianta pedir que deus proteja individualmente nestas questões. Nestas questões é melhor proteger o coletivo”.
“Tenho muita fé na presidente, mas uma coisa é saber, outra é operar – não sei se a proporção de forças dos industriais pesam tanto quanto a dos banqueiros. Para sair dessa encrenca, agora mais do que nunca, não dá para deixar para o mercado ou a divina providência. A solução é humana e de todo o governo. Até o fim dessa década vamos erradicar a miséria, para que isso ocorra não podemos fazer coisas que abortem essas intenções.”

O Brasil tem um caminho duro pela frente, concluiu, e “deve agir com a autonomia de um país independente e soberano”. “Precisamos fazer uma defesa soberana da política industrial, cambial e de balanço de pagamentos. Não quero que me impinjam política macroeconômica que me atrapalhe o desenvolvimento. E que não se espere que o G7, G20, o G 400 resolvam alguma coisa, porque a ordem mundial está uma bagunça e o mundo hoje é multipolar. Acho melhor cumprir o nosso papel”.
Fotos: Antonio Cruz/Abr

ELE JÁ TA PRONTO

O PRIMEIRO ALERTA

CONCEIÇÃO FAZ O PRIMEIRO ALERTA AO GOVERNO DILMA.
A política macroeconômica na Europa deve estar fazendo Keynes se remover na tumba. Um desemprego cavalar e eles vêm com ajuste fiscal. Além de tudo há uma pletora de dólares. .. O eixo deste governo (o do PT no Brasil) é a política econômica com eixo social. Esse é o nosso custeio. Cortar para investir, para agradar a imprensa? Eu acho que não há sentido nenhum. No desenvolvimento econômico, o eixo social está correto. Mas se não cuidarmos da parte cambial, não conseguiremos fazer política industrial e tecnológica...A inflação é de custos, não de demanda. Então, não é o caso elevar taxa de juros, para não agravar o déficit fiscal...Isso tira a possibilidade de desenvolvimento... " (Maria da Conceição Tavares; leia reportagem de Katarina Peixoto) (Carta Maior - 26/11)

O DIA EM QUE A TERRA PAROU


Troque "Terra" por "RIO", e essa música descreve perfeitamente o que esta acontecendo neste momento.

NOTÍCIAS DO DIA

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

E, QUE LUZ

NO LUGAR MERECIDO, NO ESGOTO! !

TÁ LIBERADA

PUBLICIDADE OFICIAL ONDE O CALO DÓI

Ao final de dois mandatos, a mudança de orientação na distribuição das verbas oficiais de publicidade ficará na história como talvez a principal contribuição do governo Lula no sentido da democratização das comunicações. Isso pode explicar muito do comportamento da grande mídia nos últimos anos.

CEM ANOS

E AGORA COMEDOR

Uma das confrontações mais duras que se pode fazer ao liberalismo clássico é cobrar-lhe que viabilize a generalização efetiva de seus preceitos. A grande nação estadunidense está acabando com a autonomia efetiva de seus cidadãos, com o que um dos orgulhos ocidentais. Há o risco de um nacionalismo pró-capitalista imperial, dada a desconcentração industrial da globalização. E como já disse um referencial importante, é difícil manter as superestruturas socio-políticas quando muda a infra-estrutura da produção social. Oremos e obremos para que as mudanças institucionais necessarias dêem-se do modo mais pacífico e civilizado possível. As lições do século XX não animam muito neste sentido.

O PROFETA DO APOCALIPSE NORTEAMERICANO

O militarismo engendrado pelo imperialismo é a ruína da própria democracia norteamericana. Os EUA devem abdicar de seu imperialismo caso queiram preservar sua democracia. Estas são algumas teses centrais formuladas pelo especialista em política internacional, Chalmers Johnson, que morreu aos 79 anos, dia 20 de novembro.
O imperialismo é uma forma de tirania. O militarismo engendrado pelo imperialismo é a ruína da própria democracia norteamericana. Os Estados Unidos devem abdicar de seu imperialismo caso queiram preservar sua democracia.
Estas são algumas teses centrais formuladas pelo especialista em política internacional, Chalmers Johnson, que morreu aos 79 anos de idade, no último sábado, dia 20 de novembro de 2010.
Há quem diga que ele rivalizava com Henry Kissinger no que se referia à proposição de macro-objetivos para a política externa dos EUA. Uma espécie de espelho invertido do ex-chanceler de Nixon.
Conforme Johnson, a lógica da guerra absorvia a tal ponto a dinâmica da política norteamericana que sugava parte significativa de seus recursos, fazia que seu governo passasse a ser movido cada vez mais por segredos de Estado e elevava as ameaças aos direitos dos cidadãos dentro dos próprios Estados Unidos. A escalada militar tinha todos os ingredientes para a criação de um monstro, uma presidência imperial, com poderes demais e controle de menos, o reverso do sistema de pesos e contrapesos que os pais fundadores do constitucionalismo estadunidense haviam propugnado.
O livro “Blowback: the costs and consequences of American Empire” ("O tiro pela culatra: custos e consequências do Império americano"), de 2000, virou um sucesso de vendas após o 11 de setembro. Os EUA perceberam claramente que seus ataques a locais supostamente remotos os sujeitavam a contra-ataques domésticos ferozes, apocalípticos. Mais que isso, o governo Bush trilhou caminhos que cumpriam rigorosamente o roteiro da profecia de Johnson: restrições a direitos individuais, expansão armamentista, com a necessidade “imperiosa” de guerras como as do Afeganistão e Iraque, tibieza da oposição, multiplicação de operações secretas e explosão do orçamento militar.
O curioso é que Johnson foi consultor da CIA (Central de Inteligência Americana) durante a Guerra Fria. A amarga experiência da derrota no Vietnã parece ter sido decisiva para sua guinada anti-imperialista e antimilitarista.
Grande pesquisador dos países asiáticos e do Leste Europeu, disseminou nos EUA conceitos importantes, mais comuns à América Latina e Europa, como os de "Estado desenvolvimentista" e "capitalismo de Estado". Sua análise sobre o dirigismo estatal no capitalismo japonês tem sido resgatada recentemente como referencial para a análise do capitalismo chinês.
A propósito, com relação à China, ele insistiu na mesma tecla de suas análises tardias sobre a guerra do Vietnã: o pano de fundo capitalismo versus comunismo, na verdade, se movia por algo mais básico às relações internacionais, o nacionalismo. A mesma conclusão, igualmente tardia, que Robert McNamara (ex-secretário de Defesa de Kennedy) expressa melancolicamente no documentário de Errol Morris, “A névoa da guerra” (“The fog of war”, 2004).
Ilhado por defensores agressivos do neoliberalismo, Chalmers Johnson era um herético com suas teses sobre o desenvolvimento dirigido pelo Estado. Para os adeptos da teoria da escolha racional, cuja pretensão maior é a de reduzir os problemas da humanidade a expressões algébricas que podem ser resolvidas friamente, ele era tido por heterodoxo demais.
Alguns poderiam pensar que os riscos aventados por Johnson dissiparam-se com o fim da presidência de George W. Bush. Não é o que parece. O avanço de uma direita facista nos Estados Unidos, representada pelo movimento “Tea Party”, já foi considerado uma hipótese remota; hoje é um fato consumado. Se julgava, até pouco tempo, que os políticos tradicionais do Partido Republicano conseguiriam bloquear tal investida e evitariam uma radicalização. Dizia-se também que um descaminho pela ultradireita condenaria o partido à condição de absoluta minoria. Mais uma aposta desfeita. Ao que tudo indica, o profeta fez soar suas trombetas na direção certa, para os que estivessem dispostos a ouvi-lo.

UMA CRIOULINHA. . .

O ZÉ TROLÓLÓ

SERRA RESSURGE, EM COLISÃO FRONTAL COM O PAÍS, desemprego nas regiões metropolitanas brasileiras atinge o menor nível da série histórica do IBGE em outubro: 6,1%, contra 11,7% em 2002. Em várias capitais a taxa já se aproxima do pleno emprego, com índices de desocupação abaixo de 5%. Ontem, em Brasília, o candidato da derrota, José Serra, em pleno controle de suas faculdades mentais, disse: "Lula deixa herança adversa ao país".
O QUE A IRLANDA TEM A DIZER AO BRASIL, MAS OS JORNAIS ESCONDEM: Depois de quebrar o país com políticas fiscais ortodoxas, o governo neoliberal da Irlanda anunciou nesta 4º feira um plano de 'ajuste' do tipo 'gasolina na fogueira'. A saber: corte da ordem de 20% no salário mínimo; corte de 24.750 vagas no setor público e redução de 10% nos salários dos que ficam; redução de gastos com o bem-estar social, incluindo aposentadorias e aumento do imposto de renda sobre os assalariados. As empresas e o grande capital foram poupados. O déficit fiscal do outrora cintilante Estado mínimo irlandês, se somado o dinheiro para ajudar bancos falidos, transita na faixa dos 32% do PIB. Os jornalões, colunistas & consultores nativos que no passado fizeram genuflexões ao 'Tigre Celta' como exemplo de eficiência mercadista fingem que o funeral planetário do laissez-faire não é com eles. E continuam chantageando o governo Dilma a 'provar' que seu ministério econômico será ortodoxo e que o BNDES vai minguar juntamente com 'a gastança' fiscal. (Carta Maior - 25/11)

A ESPERANÇA

Cabral enfim pediu ajuda ao Ministério da Defesa, que vai enviar amanhã 800 homens do Exército, 2 helicópteros da FAB e 10 blindados.

RIO 40ºC

"Por toda cidade agoniza um samba triste", Celso Fonseca, mas eu declaro que, apesar disso, o Rio vai voltar a sorrir em breve!
'Fim da tempestade, o sol nascerá...', também tenho certeza que o SOL volta a brilhar logo, logo na Cidade Maravilhosa!

SEGURANÇA PÚBLICA

A paz no Rio só chegará de fato quando a Constituição for respeitada em todos os lugares, principalmente nas favelas. Quem garante é o Estado.

NOTÍCIAS DO DIA

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O futebol é feito de grandes estórias. E hoje tivemos mais uma, vivida pelo Goiás. Contra todas as previsões. Parabéns aos Esmeraldinos.

GOIÁS - SULAMERICANA

Daqui sinto o cheiro de pequi subindo do pacaembu.
Deu Goiás.
Futebol ensina o homem desde cedo o que é euforia extrrema e sofrimento profundo. É aula de vida.
Alguém vai dizer que estou sendo piegas, mas o molequinho palmeirense chorando com a derrota é uma imagem do caralho! Futebol é isso.

É PRA LÁ! ! PORRA

TIRIRICA, O INTELECTUAL

Existem algumas teorias para explicar o fato de o Tiririca ter passado no teste de alfabetização, feito no TRE. Uma delas está aí acima: ele colou na prova. Afinal, todos nós sabemos que, quem não cola, não sai da escola.
A outra, bastante plausível, é que a prova foi aplicada pelo ENEM — o que dispensa comentários adicionais
Seja qual for a explicação, não tenho problema algum em reconhecer o Tiririca como um grande intelectual desse país. Só me recuso terminantemente a dizer que ele é mais erudito e rebuscado do que a Weslian Roriz — essa sim, a maior pensadora brasileira do século 21.