sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CHEIRASSE MENOS

Insurreição social? Eu não sou especialista e posso estar simplificando, mas, indo mais a fundo no problema que posso, me arriscaria a dizer que tudo começa com a desilusão que as pessoas tem da vida (ou Dukkha conforme os budistas), que é perfeitamente normal, potencializada pelos apelos da sociedade de consumo (veja que a massificação desses problemas é um fenômeno relativamente recente). O problema começa quando as pessoas buscam alívio na bebida, que intoxica a mente e tira a consciência do eixo. Daí ocorre o descaso, a violência e/ou os abusos em casa, que reflete na educação que as pessoas recebem quando criança, levando a todo tipo de patologia. Traficantes são verdadeiros sociopatas, como você bem sabe. Claro, com uma oferta de mão-de-obra de jovens também ignorados/abusados pelos pais (antes de o serem pelo Estado, penso eu), o tráfico vai se espraiando. Claro que o sistema leva a isto, e nem poderia ser diferente: usamos tênis porque existe a industria e se todos deixássemos de usar tênis a industria quebraria e haveria desemprego. Mas, por causa da propaganda, o tênis que vamos comprar tem que custar R$ 500,00, senão seremos “marginalizados pelo sistema”. Também é um absurdo pensar que o rico é feliz por poder comprar, vide taxas de suicídio nesse extrato social. Analisadas as origens do fato, vamos ao fato em si. A análise do articulista é simplista e falha porque considera que um ato de violência cometido por 200 pessoas é um atos de insurreição social, como se os traficantes fossem os dignos representantes do povo e estivéssemos sendo preconceituosos para com os pobres. Como se esse fosse o “grito dos marginalizados contra o sistema”. Não é, o tráfico é uma anomalia que cresceu demais, um câncer. E cânceres são difíceis de curar mesmo, tem que prevenir e tratar desde cedo, como seria a presença do Estado. Às vezes só com intervenção cirúrgica, com todos os seus efeitos colaterais, mortes de células saudáveis etc. O traficante tampouco respeita a vida da comunidade; ele não é o marginalizado: ele é que se marginalizou. A maioria esmagadora do morro é composta de gente trabalhadora (pensei que isso fosse óbvio!), que também sofreu abuso ou passa fome, mas não queima ônibus, e tem medo de denunciar o traficante porque sabe que a polícia sobe o morro mas vai embora em seguida. A UPP não é emplastro, é o início da solução, a tão reclamada presença do Estado. Depois de fornecida alguma garantia à população, fica mais fácil obter sua participação na solução do problema. Houve casos em que a própria comunidade expulsou os traficantes. O articulista acredita que o que faz o comportamento das pessoas são apenas fatores externos, como se fosse cães ou marionetes. Se assim fosse, não haveria inocentes no morro e teríamos insurreição social. Eu acredito que existe o componente interno, a autodeterminação das pessoas. Antes de ganhar o Nobel da Paz, Anwar Sadat também levantou seu punho e gritou: “-morte a Israel !” A diferença entre o Rio e Paris, Londres ou Miami é que lá existe o Estado e o império da lei. Aqui, por enquanto, a lei é o tráfico. Não leve a mal minha parcialidade política, mas, aqui, os “trabalhadores e setores da classe média, bem informados e instruídos”, vão continuar sem se manifestar como os traficantes, porque já não passam fome e descobriram que podem mudar alguma coisa nesse país através do voto... Sabe o que eu acho? Acho indigno citar Santo Tomas de Aquino e Carlos Drumond de Andrade para defender o tráfico...

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