quinta-feira, 30 de agosto de 2012

BOLA DENTRO

Ao invés de se buscar tímidas mudanças que pouco acrescentam, por que não se fazem amplas alterações, que muito podem contribuir para a saúde financeira e organizacional dos clubes?
Por Luis Filipe Chateaubriand, da Carta Maior.
Foi lançado, esta semana, o calendário do futebol brasileiro para 2013. Pode-se dizer que há melhorias em relação a anos anteriores. No entanto, estas são tímidas, pontuais, insuficientes.
Não seria melhor fazer um calendário definitivo, com mudanças profundas, transformadoras e adequadas?
Para não se dizer que “não falei das flores”, há dois fatores a serem louvados no projeto divulgado: a volta da Copa do Nordeste e a inclusão dos clubes que participam da Taça Libertadores da América na Copa do Brasil.
A volta da Copa do Nordeste é imperiosa! É muito penoso – tanto do ponto vista técnico, como do ponto de vista comercial – para os grandes clubes nordestinos jogarem deficitários campeonatos estaduais da região, ao invés de se confrontarem em interessante torneio interestadual (ou regional, se preferirem esta denominação). Grande “bola dentro” da CBF.
No entanto, é um erro fazer com que os clubes que disputam o Nordestão tenham que disputar, também, os Estaduais, que lhes são deficitários. O certo seria que os grandes clubes do Nordeste – Sport, Náutico, Santa Cruz PE, Bahia, Vitória, Fluminense, Ceará, Fortaleza, América, ABC, Botafogo, Treze – disputassem apenas o torneio nordestino, que é rentável, e não torneios que não lhes servem para nada.
Outra modificação interessante é permitir que os clubes que irão à Libertadores em 2013 possam jogar a Copa do Brasil. Não faz sentido os clubes que jogam as competições continentais ficarem alijados das copas nacionais – em nenhum país do mundo civilizado do futebol isso acontece. Corrigir a distorção é algo benéfico.
No entanto, mesmo esta modificação, louvável, apresenta problemas em sua configuração: os clubes que estão na Libertadores só começam a jogar a Copa do Brasil quando a Libertadores acabar; por óbvio, a Libertadores termina bem antes da Copa do Brasil.
Isso não deveria acontecer. Em países com futebol desenvolvido e organizado, tanto as competições continentais, como as copas nacionais, estendem-se ao longo da temporada toda, para evitar que clubes priorizem, em dado período, uma competição, em detrimento de outra.
De resto, as mesmas monumentais e irracionais distorções de sempre. Relato apenas as principais – pois, para relatar todas, o leitor ficaria por boas horas à mercê deste texto –, que são.
• Não se adaptou nosso calendário ao europeu ou, como Juca Kfouri diz, ao mundial. Com isso, vamos continuar sofrendo com transferências de jogadores na “janela” de meio de ano (muito mais nociva que a do início do ano) e com a perda de grandes jogadores para os clubes, como Neymar, para disputarem Olimpíadas, Copa América, etc.
• O Campeonato Brasileiro continua tendo rodadas aos meios de semanas, quando deveria ter rodadas apenas aos fins de semanas.
• Os campeonatos estaduais continuam inchados – seja em número de rodadas, seja em número de participantes – e ainda têm algumas rodadas jogadas em fins de semanas, obrigando rodadas do Campeonato Brasileiro a serem alocadas em meios de semanas.
• Quando a seleção joga, clubes também jogam: um absurdo!
• As competições jogadas em meios de semanas não são distribuídas ao longo da temporada, mas jogadas em partes específicas desta, fazendo com que clubes, em determinado período, deixem em segundo plano alguma competição para priorizar outra.
• A pré-temporada é ridícula, limitando-se a pouco mais de uma semana.
• Clubes grandes podem fazer mais de 80 jogos oficiais por temporada, mais do que o razoável.
• Centenas de clubes pequenos podem fazer menos de 20 jogos oficiais ao longo de três ou quatro meses do ano, menos que o razoável e uma aberração dolorosa, que gera desemprego em massa de profissionais do futebol.
Então, fica aqui a minha sugestão para a nova diretoria da CBF: por que, ao invés de se buscar tímidas mudanças que pouco acrescentam, não se fazem amplas mudanças, que muito podem contribuir para a saúde financeira e organizacional dos clubes?
Não é preciso mudar o eixo da Terra para se fazer o óbvio.

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