segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A CHINA QUE SE CUIDE


Por Carlos Chagas.
Vale o preâmbulo de que toda nação tem direito à autodeterminação. Quando submetida ou subjugada por outra, caracteriza-se violência inadmissível, a menos que seu povo careça de condições econômicas, políticas e culturais de governar-se sozinho.
O Tibet, tradicionalmente, forma uma nação, e vem sendo dominado pela China há décadas ou, se quiserem, há séculos. Tem os tibetanos o direito indiscutível de independência.
Só que surge um problema: por que, de repente, eclode não apenas no Tibet,  mas no  mundo inteiro, intensa campanha de resistência e até de rebelião contra o governo de Pequim?
Certas coisas não acontecem de graça. A China incomoda meio mundo, ou mais. Aliás, já incomodava desde 1949, quando Mao Tsetung tomou o poder e estabeleceu o comunismo à moda chinesa, mais duro e inflexível do que outros espalhados pelo planeta.
Mesmo agora admitindo uma espécie de capitalismo singular, ou por causa disso, a China entrou feito faca na  manteiga na economia ocidental. Através de suas multinacionais, as grandes potências financeiras aceitaram, até porque tiraram e tiram  proveito das mudanças promovidas por Deng Tsiauping.  Afinal, a mão de obra que utilizam em território chinês é infinitamente pior remunerada do que em seus países de origem.  Ganham rios de dinheiro, as multinacionais e a China, mas o crescimento econômico  e político  de nossos antípodas, importa repetir,  incomoda e significa um perigo dos diabos para o capitalismo mundial, nas próximas décadas.
Assim...  Assim, interessa aos incomodados criar dificuldades e reduzir ao máximo a influência chinesa no mundo. Que melhor oportunidade haveria do que desacreditar a China e seu regime do que quando mais um passo significativo está prestes a ser dado para  ampliar sua  presença em todos os continentes? Qual? A evidência de que enquanto a Europa e os Estados Unidos enfrentam dificuldades sem conta, os chineses nadam de braçada no rumo da consolidação de sua economia.
Explica-se, por aí, a crise no Tibet. De repente, os vassalos do Dalai-Lama vão para as ruas em suas principais cidades, protestando contra a dominação chinesa. Mais estranho ainda, em  capitais da Europa e adjacências multidões invadem as embaixadas da China, queimam suas bandeiras e, como por milagre, acenam com milhares de bandeiras do Tibet, costuradas e distribuídas sabe-se lá por quem.
Corrigindo, sabe-se muito bem: pelos artífices da política de dominação  elaborada nas sombras,  nos becos inidentificáveis e nos gabinetes secretos e refrigerados dos donos do poder mundial. Os mesmos que fomentam rebeliões onde quer que surjam obstáculos à sua prevalência universal.  No caso, não apenas rebeliões armadas, mas movimentos  culturais, religiosos, familiares, sociais e congêneres. 
Agiram com sucesso para derrubar o  Muro de Berlim e levar a União Soviética à extinção. Não que aquela nação deixasse de dar motivos  para ser relegada ao  lixo da História, mas até o Papa João Paulo II integrou-se na conspiração.  Tinham feito o  mesmo no Chile, na Guatemala, até no Brasil, só para ficarmos nos tempos modernos.
Parece óbvio que não podem virar a China de cabeça para baixo, mas terão sucesso parcial se puderem  criar empecilhos ao seu crescimento e à sua influência,  fomentando insurreições como a que acontece no Tibet, tudo com o objetivo de  travar e até  desmoralizar a nova superpotência. 
Em suma, tem azeitona nessa empada, com a evidente colaboração da mídia internacional. Erra quem supuser apenas uma operação rocambolesca da CIA, porque essa trama envolve muito  mais agências,  empresas, governos, recursos  e quadrilhas. Os instrumentos de conflito são outros, neste início do novo século. Nada de bombas atômicas e batalhas de tanques. Minar os adversários por dentro pode ser mais complicado, ainda que mais eficiente. A China que se cuide.
JOGO DE CENA.
No Congresso, não se encontra um só parlamentar que concorde, retoricamente, com a violência do governo em governar com medidas provisórias. Até o PT se insurge, ainda que apenas no gogó. Todo mundo critica a edição de éditos que não são nem de urgência nem de relevância, como manda a Constituição. Protestam deputados e senadores contra o trancamento das pautas enquanto as medidas provisórias não são votadas. Querem mudar as regras do jogo, ironicamente alternando-se no apoio ou na condenação dessa singular forma de submissão do Poder Legislativo.
O diabo é que nada fazem, quando poderiam fazer. Dormem nas gavetas do Congresso mil e um projetos alterando a sistemática das medidas provisórias.  Na hora  de dar seguimento às mudanças, encolhe-se a maioria e até segmentos das minorias fazem ouvidos moucos aos próprios reclamos. 
O palácio do Planalto dispõe de instrumentos para conter qualquer movimento contrário aos seus interesses. Nomeações, favores, benesses – tudo funciona de acordo com seus objetivos. Se a  presidente Dilma  exige que as coisas  continuem como sempre, não há quem ouse enfrentá-la. Continuará soltando seus ucasses.

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