sábado, 14 de abril de 2012

190 MILHÕES DE BURROS

Por Carlos Chagas. 
Ou este que vos escreve é burro, hipótese mais do que verdadeira, ou o presidente do PT, Rui Falcão, supõe ser o Brasil um país de 190 milhões de burros. Porque  não dá para entender, como ele falou, ser  a CPI do Carlinhos Cachoeira capaz de  neutralizar, abafar e desmoralizar o julgamento de  38 réus do mensalão, caracterizados como  quadrilha pelo Procurador Geral da República.   Se uma coisa é uma coisa e outra coisa, outra coisa, de que maneira imaginar que a CPI servirá para desfazer o que o dr. Falcão chama de “farsa do mensalão”? O escândalo existiu, levou a demissões no ministério Lula e a expulsões no PT. O processo foi admitido no Supremo Tribunal Federal, agora em vias de concluir o julgamento.  
De que forma as   investigações sobre o bicheiro empenhado em corromper políticos e governantes anularia a ação e a decisão da mais alta corte nacional de Justiça?
Os crimes porventura desvendados agora fariam desaparecer os crimes praticados em 2005Só mesmo admitindo que o  presidente do partido pretende aproveitar-se de um  escândalo recém-descoberto para salvar o pescoço de companheiros envolvidos em  escândalo anterior,  como José Dirceu, Delúbio Soares e outros.
Se existem  novos criminosos, importa revelá-los, mas sem esquecer os antigos. E se integram outros partidos, como o PSDB e o DEM, como antes e possivelmente agora também o PT, pau neles.
Acresce que uma CPI não  julga. Apenas revela. Suas conclusões, se vierem  a existir,  serão encaminhadas ao Ministério Público, para abertura de processos.
EXPLICAÇÃO.
Os presidentes José Sarney e Marco Maia decidiram, segunda-feira, que a CPI do Carlinhos Cachoeira seria formada ainda esta semana, mas adiaram o evento para a próxima. Por que? Porque desconfiaram ser o tempo muito curto, podendo a constituição da CPI acontecer hoje, uma sexta-feira, 13. 
“De jeito nenhum!” – terá raciocinado Sarney, fiel submisso às artes do além.
 De qualquer forma, ainda pairam dúvidas a respeito de que partidos indicarão o presidente e o relator da CPI. Aos líderes caberá selecionar os onze senadores e os onze deputados e apenas se tem uma certeza: de forma alguma  Renan Calheiros indicará Pedro Simon, apesar de constituir-se no mais completo  parlamentar para exercer qualquer uma das duas funções.
RESPINGOS.
De toda essa lambança envolvendo as relações do bicheiro, perdão, do corretor zoológico Carlinhos Cachoeira, começa a emergir a empresa Delta, acusada de distribuir contribuições eleitorais e propinas para políticos e governantes. Trata-se da maior concessionária de obras do PAC e de contratos polpudos com os governos de Brasília,   Rio de Janeiro e outros. As gravações promovidas pela Polícia Federal  envolvem ex-funcionários da Delta e comparsas de Cachoeira, além de referências a altas figuras  das referidas administrações. Já estão ocupados os dois maiores advogados criminalistas do país,  Almeida Castro, com Demóstenes Torres, e Márcio Thomas Bastos, com Carlinhos Cachoeira, mas não faltarão  grandes nomes para a Delta contratar, sempre a peso de ouro.
REZANDO DO LADO ERRADO.
Em  termos políticos, a Igreja Católica tem prestado inestimáveis serviços às instituições, em especial quando,  depois de alguns desvios e hesitações, passou a formar na primeira linha de resistência à ditadura militar.
Era março de 1964 e  marinheiros desvairados rebelaram-se,  tentando criar um soviete na Marinha. Anistiados pelo então presidente João Goulart, depois de recolhidos a um quartel do Exército  foram libertados e saíram em passeata pela Avenida Presidente Vargas, no Rio. Ao passarem pela igreja da Candelária, os líderes  convenceram a massa a   agradecer a Deus  não ter havido  derramamento de sangue. Quando se encaminhavam para a entrada  principal do templo,  tiveram barrada sua pretensão: alguns padres trancaram as vastas portas gritando que “comunistas não rezam aqui”.
Anos depois, na missa de sétimo dia do estudante Edison Luís, assassinado pela  repressão militar, centenas de jovens  que iam  deixar a cerimônia souberam estar a igreja cercada por tropa armada, cavalaria e agentes policiais de cassetete em punho, prontos para investir sobre eles. Seria uma carnificina. Quando as portas se abriram,  a surpresa: na frente dos estudantes saíram dezenas de padres, todos paramentados, de mãos dadas, obrigando  os soldados apavorados a recuar até que,  entrando pela Avenida Rio Branco, aquela singular procissão conduziu os jovens à segurança.
Essas duas histórias se contam a propósito do que aconteceu quarta-feira na Praça dos Três Poderes, quando uns poucos frades, vestidos a caráter, primeiro ajoelharam-se em oração e depois saíram em procissão diante do Supremo Tribunal Federal.  Só que  rezavam do lado errado, contra a mais do que humanitária decisão dos ministros de autorizar a interrupção da gravidez no caso de anencefalia do feto, quer dizer, da comprovação de que o bebê nasceria sem cérebro e morreria em seguida, colocando em risco a vida da mãe

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