segunda-feira, 18 de abril de 2011

A HISTÓRIA NÃO TEM PRESSA

Por Carlos Chagas.
Vivemos de modismos. De idéias pré-concebidas. Por que, por exemplo, determinar 100 dias como primeiro  prazo para o julgamento de um governo ou de uma governante? Por que não 102 ou 110, ou 200, 500 ou 800? Dirão muitos que  a vida  é assim.  Os casamentos são contados por bodas de prata, de ouro e até de diamante. As guerras,   por décadas ou séculos. As  religiões,  por milênios.
Senão  insurgir-se, Dilma Rousseff deveria dar de ombros para a cascata de análises, interpretações e diagnósticos apresentados pela mídia  no fim de semana,  a respeito de seu desempenho na presidência da República. Afinal, a data que  interessa mesmo é a de cada dia, com ênfase para o último  de seu mandato.
Para Getúlio Vargas, foi 24 de agosto de 1954, mesmo tendo ele permanecido por quinze anos variadíssimos, numa primeira etapa, e três anos e meio de incompreensões, no segundo.
Juscelino Kubitschek preferiu ressaltar os 50 anos em 5, no começo, para no final fixar-se na data futura que não chegou, de  3 de outubro de 1965, quando voltaria ao poder.  Jânio Quadros jamais imaginou que 25 de agosto de 1961 seria o fim, muito menos João Goulart,  de que tudo terminaria no 1 de abril de 1964. Dos generais-presidentes, note-se apenas a seqüência de seus mandatos com dia certo para transmitirem o poder, exceção de Costa e Silva que adoeceu antes. Para  Tancredo Neves o destino não deixou um dia sequer, para José Sarney um ano lhe foi surripiado. Fernando Collor imaginou vinte anos, defenestrado em dois e meio, ao contrário de Fernando Henrique, que era para ser julgado depois de  quatro anos e burlou seus julgadores,  estendendo o prazo para  oito.  O mesmo tempo concedido ao Lula, de olho em  mais oito, ainda que  sem prazo certo para iniciar o retorno.
Essas considerações se fazem por conta da evidência de que a análise da ação  dos presidentes da República não deve ser medida em dias, meses ou sequer anos. A História não tem pressa e não comporta açodamentos, ainda que se apresente pródiga em surpresas.  Dilma pode ter ido bem nos primeiros 100 dias, mas quem  garante que seguirá  assim nos seguintes?  Melhor aguardar.
A MELHOR IMAGEM.
Diz a sabedoria popular que o melhor juiz, numa partida de futebol, é aquele que não aparece, do qual a torcida não toma conhecimento.
Deveria ser assim no Poder Judiciário, isto é, sendo naturais e acordes com o Bom Direito, suas sentenças não precisariam despertar polêmicas e muito menos protestos. Conforme essa evidência, em termos de opinião publica e publicada, o ano não começou bem no Supremo Tribunal Federal. A decisão a respeito da lei ficha limpa desagradou o sentimento nacional, mesmo sem a emissão de juízos de valor sobre sua constitucionalidade.
O problema é que nova frustração poderá ser oferecida pela mais alta corte nacional de justiça, no correr de 2011. Num caso, se for mais uma vez protelado o julgamento dos 40 mensaleiros, que agora dizem ser 38. São réus, já foram denunciados pelo Procurador Geral da República por formação de quadrilha e outros crimes, mas multiplicam recursos e expedientes de toda ordem. Pior ficaria a situação, porém, na hipótese de, julgados, serem absolvidos. Importa menos a argumentação de seus advogados. Vale mais a natureza das coisas.
OITO MAIS UM.
Os oito governadores do PSDB preferem ficar com Aécio Neves, apesar das críticas por ele  formuladas  a  Dilma Rousseff e ao PT,  do que engajar-se na corrente da intransigência sustentada por José Serra, Fernando Henrique e Sérgio  Guerra.   Gostariam que o senador mineiro tivesse sido um pouco  mais tolerante com a presidente da  República, mas dispõem de mecanismos para absorver o discurso de Aécio como uma necessidade oposicionista. Do que fogem feito o diabo da cruz é do radicalismo da ala  paulista dos tucanos. Afinal, para cumprirem suas promessas de  campanha, os governadores precisam do palácio do Planalto.  Até Geraldo Alckmin.

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