Por Carlos Chagas
A pouco menos de um ano das eleições municipais, articulam-se os partidos para as disputas mais importantes, no caso, as prefeituras das capitais dos estados. Já existem candidatos em quase todas e mais irão aparecer, daqui até o prazo para os registros.
A pergunta que se faz refere-se aos grandes eleitores, não apenas no âmbito dos estados, como os governadores, mas no plano nacional. Por exemplo: o Lula será fatalmente o maior de todos. Já começou a movimentar-se, lançando o ministro Fernando Haddad para São Paulo.
E ela, com o poder da presidência da República e a caneta do Diário Oficial, vai subir em palanques, como o antecessor anuncia? Trata-se, no mínimo, de uma dúvida. No máximo, de uma impressão de que ficará de longe. Parece difícil que Dilma Rousseff se disponha a subir em palanques, como o Lula subiu e mais subirá.
A presidente terá suas simpatias e preferências, mas será um risco imaginá-la percorrendo o país pedindo votos para os candidatos de seu partido, o PT. Seria hostilizar as demais legendas da base oficial, que por certo apresentarão seus indicados. Nem ao menos poderá revelar em quem votará, porque não votará em ninguém. Seu título eleitoral é de Brasília, onde não se realizarão eleições para prefeito, função que não existe. Aqui, vota-se apenas para governador, ou seja, só em 2014.
A crônica recente mostra ampla variaded de comportamento por parte dos ex-presidentes. Os militares, como Médici, Geisel e Figueiredo, até exageraram, ainda que no tempo deles os prefeitos de capital fossem nomeados. Mas exigiam do eleitorado que sufragasse vereadores e prefeitos das principais cidades apresentados pela Arena e, depois, pelo PSD.
José Sarney atuou dentro de suas características, usando mais o poder do que a palavra. Fernando Collor tentou ficar alheio aos partidos e por isso acabou perdendo a presidência. Itamar Franco não teve tempo e Fernando Henrique conseguiu superar a presunção comparecendo a muitas capitais e manifestando suas preferências. Já o Lula frequentou todos os palanques possíveis.
Mesmo sem bola de cristal, a impressão é de que Dilma não será vista pedindo votos para este ou aquele candidato. A confirmar, porém.
O PRETEXTO DA DESINCOMPATIBILIZAÇÃO.
Confirmada, mesmo, está a reforma do ministério, conforme a ministra Ideli Salvatti, para janeiro ou fevereiro. O argumento é de a presidente Dilma liberar ministros que sejam candidatos às eleições do ano que vem. Melhor contar outra, porque nessa não dá para acreditar. Apenas Fernando Haddad, da Educação, e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento Industrial, parecem dispostos a candidatar-se, no caso, a prefeitos de São Paulo e de Belo Horizonte. Que outro ministro entraria na lista? Pedro Novais, em São Luiz? Negromonte, em Salvador? Carlos Lupi ou Moreira Franco, no Rio? Garibaldi Alves Filho, em Natal? Nenhum deles, nem os outros.
Entre os presidentes da República, inclusive Dilma, desenvolve-se uma regra não escrita que deve vir de Deodoro da Fonseca. No mais absoluto sigilo, sequer repartindo seu raciocínio com o travesseiro, quando escolhem um ministro eles já pensam no substituto. Mil fatores poderão levar a mudanças, e ninguém pretende ser surpreendido. Essa estratégia é fundamental para evitar impasses e perplexidades.
Tome-se a atualidade. Alguém duvida de que Dilma, antes mesmo de assumir, já tinha na cabeça o nome de Celso Amorim, para a hipotese de perder Nelson Jobim? Ou que, para o lugar de Wagner Rossi, deixaria a decisão para o vice-presidente Michel Temer? Diante de uma suposta exoneração de Alfredo Nascimento, não estaria Paulo Passos definido desde o começo? Para o lugar de Antônio Palocci, na eventualidade de sua saída, desde quando a presidente tinha o nome de Gleise Hoffmann no bolso?
Resta esperar o final do ano para saber quantos e quais ministros deixarão de ser ministros. Dúvidas inexistem, porém, quanto àqueles considerados impostos à chefe do governo, tanto faz se pelo partidos ou se pelo ex-presidente Lula.
CUIDADO COM O “ISSO NÃO ESTÁ BOM”.
Na entrevista concedida ao “Fantástico”, Dilma acabou revelando a expressão que utiliza quando insatisfeita com algum auxiliar: “isso não está bom”. Jamais uma sentença de morte, mas, inequivocamente, um alerta.
Pergunta-se qual o ministro que ainda não terá ouvido esse comentário da chefe do governo. Pode existir algum, ou mais de um, mas a maioria já recebeu essa observação. O importante é saber quantas vezes, porque no caso de mais de uma, será hora de tomar cuidado.
Ainda com relação à entrevista, deve-se dar o desconto à afirmação de Dilma de que não costuma levantar a voz para seus assessores. Costuma, sim, e desde os tempos em que foi ministra das Minas e Energia e, depois, chefe da Casa Civil. Questão de estilo.
RESPONSÁVEIS PELO ENGÔDO.
Outra afirmação da presidente que dá o que pensar: para ela, a CPMF foi um engôdo, na medida em que o dinheiro destinado a atender necessidades da saúde pública foi utilizado para outras finalidades. Trata-se de uma aberração. De um desvio inexplicável, mas que aconteceu e precisa ser melhor apurado. Quem, no governo Fernando Henrique, cometeu esse pecado capital? E no governo Lula? Os dois ex-presidentes passarão incólumes por tamanho erro? Ou a culpa irá para Pedro Malan, no período do sociólogo? Ou para Antônio Palocci e Guido Mantega, durante os dois mandatos de Luiz Inácio da Silva? Fica difícil deixar o assunto morrer, pelo menos em homenagem ao dr. Adib Jatene, inspirador do imposto sobre o cheque, frustrado com a utilização daqueles recursos para o pagamento de juros destinados a enriquecer especuladores.
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