terça-feira, 18 de outubro de 2011

ADMIRÁVEL MUNDO VELHO

Por Carlos Chagas
Pode nem ter nascido na Espanha, como se apregoa  em Madri.  Talvez venha dos  tempos de Ramsés II, quem sabe antes. A verdade é que de quando em quando o planeta se agita. No passado   distante e recente, os protestos levavam períodos mais longos para interligar-se, às vezes separados por décadas e até séculos. Com o advento da imprensa, depois do rádio,  a televisão e agora a Internet e toda a  parafernália eletrônica dela decorrente, o processo mede-se agora  em questão de minutos. Mas o fenômeno é o mesmo:  a Humanidade jamais deixou de protestar. No caso, as maiorias diante da prevalência e das imposições das elites.  As ideologias, as doutrinas e as religiões  sempre tomaram carona no  inconformismo  das massas, demonstrando-se subsidiárias da indignação dos oprimidos. Só que hoje é mais rápido o efeito da causa primeira, a injustiça,   que sempre gerou movimentos de protesto, uns violentos, outros nem tanto,  mas todos emergindo de tempos em  tempos em nome da utópica igualdade a ser um dia alcançada, sabe-se lá quando.
Este preâmbulo se faz por conta das manifestações verificadas nos cinco continentes. Ontem, em 952 cidades de 86 países,  o povo saiu às ruas exigindo mudanças.  Insurgiu-se contra a  receita elitista de que crises econômicas se combatem  com aumento de impostos, reduções salariais, demissões em massa  e supressão de direitos sociais, onde eles existem. Na Grécia,  Portugal, Espanha e outras nações européias, protesta-se contra a fórmula imposta pelo sistema econômico-financeiro,  ele próprio responsável pelas crises.  Nos Estados Unidos, multiplicam-se as manifestações que começaram contra  Wall Street, em Nova York, e agora avançam em suas principais cidades. Na comunidade muçulmana assiste-se  a uma espécie de erupção libertária.   No Brasil, o mote inicial está sendo o combate à corrupção e à impunidade.  Cada movimento vale-se de motivações específicas para despertar  a opinião pública, mas fica claro possuírem todos  a mesma raiz: a indignação das maiorias frente à dominação das minorias.
Em 1968 fenômeno semelhante explodiu em Paris, incendiou a França e boa  parte do mundo. Nos anos oitenta teve-se a impressão de as manifestações eclodirem  em sentido contrário, com o colapso do mundo comunista, mas foi a mesma coisa: massas oprimidas insurgindo-se contra seus dominadores. É o que agora se vê, nessa nova onda que se avoluma. 
Resultados? Os mesmos de sempre: os  movimentos nascem,  assustam e sempre promovem certas  mudanças, mas logo refluem, até formar-se   o  próximo.   A conclusão é de nada de novo acontece sob  o sol,  nesse admirável   mundo velho.
RECUO ESTRATÉGICO.
O ex-presidente Lula escolheu os Estados Unidos, onde recebeu homenagem na Universidade de Des Moines, para anunciar sensível recuo em suas pretensão de fazer Fernando Haddad prefeito  de São Paulo. Admitindo a  realização de prévias no PT paulistano, que até pouco rejeitava, disse que se Marta Suplicy vencer a consulta popular, contará com seu apoio.  Uma reviravolta dos diabos, capaz de ser entendida como manobra tática ou prévia derrota.  Quem quiser que  opine, pois  o Lula   não é pessoa de bater em retirada. Estaria Marta tão forte assim junto às bases? Ou o ex-presidente visa o outro  lado da moeda, quer dizer,  assegurar o apoio da senadora ao ministro,  caso ele venha vencer as prévias?

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