Por Carlos Chagas
Insistir, às vezes, é preciso, como neste artigo que agora repetimos. Serão tempo desperdiçado esse restinho de novembro, dezembro inteiro e certamente a maior parte de janeiro. Por que, então, a presidente Dilma não antecipa para ontem a reforma do ministério? Se a decisão foi tomada, se ela pretende livrar-se de peças incômodas que lhe foram impostas, se seu projeto é dar mais eficiência e talvez menor tamanho à equipe ministerial, não dá para entender a perda de tempo.
Do lado de fora do palácio do Planalto a impressão é de estar terminando a temporada de loteamento de ministérios pelos partidos da base oficial. Claro que permanecerão ministros filiados às legendas que apóiam o governo, assim como serão recrutados ministros a elas pertencentes. A novidade parece vir da disposição da presidente em escolher, ela mesmo, dentro e fora dos partidos, as peças que melhor se encaixem em seu programa administrativo e político. Não mais deixar que caciques de cocares variados indiquem ministros e ocupem os ministérios como se fossem sua propriedade particular.
Há expectativa na Esplanada dos Ministérios, abrindo-se o risco de muita gente esperar demais e constatar de menos, quando a reforma vier. Inexistem sinais claros sobre quem sai e quem entra, mas não errará quem supuser estarem a um passo da demissão ministros que nem bissextamente entram no gabinete presidencial.
Haverá participação de líderes dos partidos, é óbvio, a começar pelo vice-presidente Michel Temer, mas dessa vez pesará muito mais a disposição de Dilma. Assim como desaparecerão os feudos, quer dizer, o ministério do Trabalho, por exemplo, não ficará necessariamente com o PDT.
A formação e a reforma dos ministérios costumam frustrar mais do que atender os anseios gerais. Jânio Quadros, por exemplo, eleito num dos mais formidáveis movimentos populares, escolheu um ministério mais para o pífio, desapontando seus seis milhões de eleitores. Gente desconhecida, provinciana, junto com gente sema menor relação com as pastas oferecidas. João Goulart lançou-se num troca-troca sem registro anterior. Os militares, se não deixaram os partidos de fora, buscaram neles quem bem entenderam. José Sarney engoliu por mais de um ano os ministros escolhidos por Tancredo Neves, mas terminou seu mandato botando em campo o time reserva, com as exceções de sempre. Fernando Collor enxugou o número de ministros mas só convocou uma equipe realmente excepcional quando não dava mais tempo de evitar a catástrofe. Itamar Franco bem que procurou formar um governo de união nacional, mesmo rejeitado pelo PT. Já Fernando Henrique ressuscitou o provincianismo paulista, imprimindo ao conjunto sua marca pessoal. Quanto ao Lula, quem se lembra da maioria de seus ministros?
A presidente Dilma dá a impressão de buscar um caminho próprio, depois de um ano tumultuado e meio perdido. Manterá uma parte de seus ministros, provavelmente aqueles indicados por ela mesmo, sem influência dos partidos. Certamente aproveitará alguns que não conhecia mas aprovou. Os outros, porém, boa viagem...
DIFICULDADES
Não está fácil, no governo, a seleção dos sete membros da Comissão da Verdade. As exclusões são maiores do que as possíveis admissões. Militares, por exemplo, não poderão ser nomeados. Nem participantes da luta contra o regime militar. Companheiros do PT também não. Vale o mesmo para comunistas e penduricalhos. Tucanos e filiados do Dem, da mesma forma.
A Ordem dos Advogados talvez seja chamada a indicar um representante. Mais difícil será para a CNBB. A Academia Brasileira de Letras não teria motivos. Nos meios universitários, quem sabe, se forem encontrados professores isentos, jamais alunos.
Auxiliares da presidente Dilma tentam encontrar parâmetros, mas quais? Ministros certamente estão fora. Melhor aguardar.
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