Carlos Lupi foi beneficiado por uma suposta precipitação da Comissão de Ética, pois a presidente Dilma tomou conhecimento pela imprensa da recomendação para exonerá-lo. Por isso a chefe do governo não o demitiu na quinta-feira, porque lhe será impossível provar a inexistência de dupla contratação pela Câmara dos Deputados e pela Câmara de Vereadores do Rio. O acúmulo praticado no passado constitui crime.
É provável que segunda-feira Lupi deixará de ser ministro, mas garantir, ninguém garante. Essa novela de horror arrasta-se há um mês, com capítulos dignos de ser assinados pelo Conde Drácula.
O PDT, como irá recuperar-se da evidência de haver participado de ONGs fajutas para receber dinheiro por serviços não prestados? De que maneira o partido se livrará da acusação de haver, no ministério do Trabalho, favorecido a Força Sindical e desprezado a CUT? Nem se fala das manifestações de sua Executiva, solidarizando-se com um ministro comprovadamente flagrado em irregularidades.
O que dizer da Comissão de Ética, que terá apressado seu parecer pela demissão de Lupi a pedido de um ministro com gabinete no palácio do Planalto? Seus integrantes surpreenderam a presidente Dilma conscientemente? Como reagiram quando surpreendidos por ela, que pediu para demonstrarem porque recomendaram a exoneração do ministro? Vão entregar os cargos, sentindo-se ofendidos? Por que empurraram a crise com a barriga, anunciando que se reunirão apenas em janeiro para cumprir a determinação presidencial?
Quanto à própria Dilma, será apenas para não aparecer como pautada pela mídia que protela a decisão final de despachar Lupi? Não se sustenta o argumento de que iria aguardar a reforma de janeiro para poder tirar o PDT do Trabalho. Tem prerrogativas para substituir ministros e ministérios o ano inteiro, sempre que quiser. Age assim para não desagradar o ex–presidente Lula, defensor da permanência do ministro? Ou ainda acredita que o seu ministro do Trabalho ainda poderá dar respostas satisfatórias a tantas acusações? Nenhum desses argumentos convence. Mais cedo ou mais tarde ela precisará explicar, e não vai ser fácil. Mesmo não tendo chegado ao povão, o desgaste do governo e de sua chefe é evidente.
Sobre Carlos Lupi, pior fica a situação. Flagrado em malfeitos variados, faltou-lhe pudor para demitir-se. Passou da arrogância à humildade e agora cultiva o silêncio, mas como deixar de perceber que perdeu todas as condições para continuar ministro?
Em suma, sai todo mundo mal. Sem esquecer quantos se aproveitam da situação para agressões descabidas contra a presidente, tentando tirar proveito político ou simplesmente expondo egos abomináveis. Fica o exemplo para quando alguém for montar um ministério: não deve aceitar nenhuma indicação do antecessor...
É conhecida mas merece ser repetida a história da visita que o então governador Magalhães Pinto fez à vidente dona Maria do Correio, em Araxá. Estava acompanhado de José Aparecido de Oliveira, José Sarney, Otto Lara Resende e Fernando Sabino. Famosa por suas previsões, dona Maria às vezes exprimia-se por gestos. Aparecido, como bom secretário do governador, então candidatíssimo à presidência da República, perguntou à velha senhora quem, dentre eles, chegaria ao palácio do Planalto. Sem titubear, ela apontou o dedo indicador para José Sarney, então jovem deputado quase desconhecido. Certo de que a vidente não estava enxergando bem, Aparecido repetiu a pergunta e a indicação foi a mesma. Mais uma vez, outra, o Zé de Todos os Amigos chegou a empurrar o dedo de dona Maria na direção de Magalhães mas ele voltava sempre para Sarney. Foram embora, constrangidos. O futuro presidente mais do que todos, já que era incansável partidário da candidatura do governador.
Por que se conta o episódio? Porque dona Maria do Correio já foi para o céu, mas um dia desses, no Senado, uma cigana aproximou-se de um grupinho onde estavam Roberto Requião, Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos, Aécio Neves, Francisco Dornelles e Demóstenes Torres. Alguém perguntou se entre eles estava um futuro presidente da República e ela, sem titubear, segurfou a mão de Demóstenes.
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