quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

EM SAUDAÇÃO A SÃO PAULO

Por Carlos Chagas
Faria sucesso o jornalista  de um grande matutino  do Rio, Belo Horizonte ou Porto Alegre que arrumasse as malas e desembarcasse  em Congonhas  para elaborar uma série de reportagens assinada como “do enviado especial a São Paulo”. Porque 458 anos depois de fundada, São Paulo tornou-se um  outro mundo.
Às vezes desvairada,  quase sempre adiantada, a paulicéia, com suas características próprias, dissocia-se do restante do país. Separatismos a parte, que desapareceram com a derrota dos paulistas em 1932, a verdade é que São Paulo, mesmo sendo diferente, precisa tanto do Brasil quanto o Brasil de São Paulo. São inseparáveis, mas profundamente distintos.
Em termos de ciência, tecnologia, educação, indústria, comércio, serviços, energia, qualidade de vida, alimentação, moradia, política salarial e muita coisa a mais, São Paulo não é melhor do que os outros estados. Apenas, diferente. Alcançou outros patamares e contagiou quantos demandaram a cidade para ajudá-la a crescer. Tudo sob a égide dos quatrocentões, cada vez mais raros, ainda que regendo a orquestra plena de nordestinos, mineiros, pararaenses e até gaúchos. Claro que São Paulo também apresenta amplos pontos de estrangulamento, do trânsito à incapacidade de conviver com as enchentes, das favelas e da corrupção à sua claudicante representação política. Bem como não se livrou de certos complexos infantis, como menosprezar as uvas que não consegue alcançar. Pos paulistas declaram que são verdes. Brasília é o melhor exemplo dessa resistência ao fato inconteste de ser a capital do país. Pelo menos a metade dos paulistas classifica Brasília como antro da corrupção, esquecidos de que os corruptos vem de fora, boa parte deles às terças-feiras, para retornar nas quintas. Lembrando que a maior bancada na Câmara dos Deputados é paulista.
De qualquer forma, ontem foi dia de saudar São Paulo, pelos seus 458 anos de fundação. Uma evidência de que o restante do Brasil precisa providenciar logo seus enviados especiais a São Paulo, para ajudar-nos a compreender esse mundo novo.
DUAS REUNIÕES E UMA SÓ VISITA.A presidente Dilma Rousseff visita hoje o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, identificando-se mais uma vez com a corrente de quantos se insurgiram, faz tempo, com o elitismo do Fórum Econômico Mundial, acontecendo em Davos. Eis aí uma lição que a chefe do governo não aprendeu com o Lula, que quando comparecia a uma reunião, embarcava imediatamente para a outra. Um só discurso para duas platéias diferentes constitui gesto de sabedoria, importando menos se os potentados reunidos na Suíça mostram-se muito mais arrogantes do que os acampados na capital gaúcha. Oportunidade ímpar também se apresentava este ano, quando as nações ricas encontram-se em sérias dificuldades e as emergentes, como nós, nem tanto.
AMIGOS SÃO PARA ISSO.Escorregou José Serra ao dizer apenas não concordar com alguns conceitos de Fernando Henrique Cardoso, mas sem disposição para polemizar com ele, “por serem amigos”. Ora, amigos são para essas coisas, mais até do que inimigos. Se foi tido pelo sociólogo como velho e ultrapassado, devendo dar lugar a outros na disputa presidencial, Serra precisaria ter rebatido de pronto o comentário. Mesmo sem ser octogenário, poderia ter lembrado o exemplo de Winston Churchill, Konrad Adenauer e do próprio Tancredo Neves, que já encanecidos lideraram suas nações. E se tivesse boa memória, mesmo sem referir-se a Aécio Neves, acrescentaria que Nero, aos 25 anos, incendiou Roma...
UM RODO DE VELUDO E PELICA.
O palácio do Planalto dá sinais, mesmo tênues, de que vai mudar todo mundo no DNOCS, do diretor-geral aos outros diretores. Coisa que já deveria ter acontecido, sem necessidade de tantos diálogos e acomodações entre o ministro da Integração Nacional e a cúpula do PMDB. A impressão que se tem é de que o governo passará um rodo de veludo e de pelica nos malfeitos partidários, quando na realidade deveria ter usado uma vassoura de piaçava. Trata-se de mais uma evidência do abuso dos partidos da base oficial, imaginando-se donatários de parcelas da administração federal.

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