Por Carlos Chagas.
O que mais se ouve em Brasília, esta semana, é que o Dnocs faz parte da cota do PMDB e que a presidente Dilma não tem direito nem coragem de substituir sua diretoria. Mais ainda, que o ministério das Cidades pertence ao PP e Mário Negromonte não pode ser demitido, ainda que seu chefe de gabinete tenha sido afastado por “falta de motivação” para o exercício do cargo. Trava-se a mesma luta entre os partidos e o palácio do Planalto em torno da Funasa, dos ministérios da Integração Nacional e do Desenvolvimento Industrial e quase toda a estrutura governamental loteada pelos aliados desde o governo Lula.
Enquanto isso, são desencontradas as informações. Na sede do governo, assessores anunciam que a presidente Dilma mandou passar o rodo numa série de feudos partidários onde irregularidades vem sendo detectadas e até comprovadas. No Congresso, líderes desafiam o Executivo, em chantagem explícita, ameaçando votar contra projetos e interesses oficiais caso seus representantes sejam demitidos. Estranha foi a informação de ontem: só quando retornar de Cuba e do Haiti, dia 2 de fevereiro, a presidente tratará da questão.
No meio das escaramuças encontra-se o vice-presidente Michel Temer, a partir de hoje no exercício da presidência, lutando pela preservação dos espaços conquistados na administração federal. Nem pensa em ajudar Dilma, afastando ele mesmo as desgastadas figuras sob fogo batido das denúncias. Entre a República e o PMDB, já se definiu pelo partido.
O caso do Dnocs acaba de levar o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, ao paroxismo. Lembrou que com 80 deputados e 20 senadores, seu partido está blindado contra a demissão de seus indicados. Faz questão de honra a permanência do diretor-geral do Dnocs, Elias Fernandes, seu apadrinhado. Acha que o governo não vai brigar por tão pouco. Afinal, o PMDB sustentou os ministros Fernando Pimentel, Fernando Bezerra e Paulo Bernardo, quando vitimas de acusações variadas.
Encontra-se a presidente numa daquelas situações definitivas. Ou aceita as pressões, deixando óbvia sua situação de prisioneira das quadrilhas partidárias ou dá um murro na mesa, demonstrando ser ela quem manda. Até porque, Havana e Port-Au-Prince estão ligadas com Brasília, pelo telefone...
EFEITOS SEM CAUSA.Na tragédia das Torres Gêmeas, foi fácil identificar o culpado. Era Osama Bin Landen, a partir de então perseguido pelo planeta inteiro, até ser encontrado e justiçado pelos Estados Unidos.
Ainda que guardadas as proporções, a queda de três edifícios no centro do Rio compõe situação parecida. De quem foi a culpa? Das autoridades municipais e estaduais que não fiscalizaram obras e estruturas? Das empresas encarregadas de zelar pela segurança das propriedades? Dos moradores? Do material com que foram construídas e reformadas as construções? Do acaso?
Nenhum avião foi lançado contra o centro do Rio, como em Nova York. Mas os efeitos foram os mesmos, ainda que felizmente com muito menos vitimas. O risco é de permanecerem efeitos sem causa...
SERRA, A REVANCHE.Aguarda-se para os próximos dias um gesto ou uma palavra de José Serra, com a imagem e o futuro postos em frangalhos pelos comentários feitos por Fernando Henrique Cardoso. Os partidários do ex-governador insistem para ele deixar a amizade de lado e responder à altura os comentários de estar velho e ultrapassado para disputar outra vez a presidência da República. No mínimo deveria denunciar a intromissão indevida do sociólogo no ainda inexistente plano de vôo dos tucanos. Permanecer calado, como quem recebeu um golpe mortal em suas pretensões, equivalerá a concordar com o amigo.
FOGO AMIGO OU INIMIGO?O prefeito Gilberto Kassab precisa apurar a origem do movimento de protesto que levou cerca de 800 pessoas a agredi-lo na saída da Igreja da Sé, depois da missa pelos 458 anos de fundação de São Paulo. Manifestação espontânea não foi, já que ninguém vai à missa levando tomates, ovos e pedras no bolso. Mas de onde teria partido o vandalismo? Populares indignados com a ação policial em São José dos Campos certamente não, dada a distância e a preocupação dos desalojados em encontrar novas moradias. Reação de militantes do PT, infensos ao apoio do prefeito à candidatura de Fernando Haddad? Também não, porque os companheiros tem celebrado acordos piores. Ressurgimento da solerte ideologia comunista há tantos anos escoada pelo ralo? De jeito nenhum. Ataque da esquadrilha dos tucanos? Por que?
A consequência das dúvidas deixa em aberto o futuro do prefeito e de seu possível candidato a sucedê-lo. Mas não será difícil identificar alguns, na massa de 800 vândalos.
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