PAULO CALÇADE - O Estado de S.Paulo. A cada partida é inevitável repetir a pergunta: qual é o segredo do Barcelona? É realmente intrigante, mas o grande desafio agora é saber se esse modelo de futebol poderá ser um dia repetido ou mesmo se transformar numa referência para as gerações futuras. Ou será que vai desaparecer quando esse grupo envelhecer? Talvez surjam equipes até melhores, mas igual é impossível. Nos últimos 16 meses comentei mais jogos no Camp Nou que no Morumbi. Rara, essa frequência acontece por uma deliciosa imposição profissional. Amanhã, Barcelona e Milan decidem na Espanha quem vai à semifinal da Uefa Champions League. Devido ao 0 a 0 na semana passada, o jogo promete ser grande, afinal são 11 títulos europeus em campo. O time de Pep Guardiola é favorito, mas o Milan não pode ser tratado como zebra. Mesmo com seu onze titular com média de idade na faixa dos 30 anos, a tradição pesa, é muito importante. Amanhã os indicadores do confronto serão praticamente os mesmos. Mas nem sempre o jogo se explica pelas lentes das câmeras. É necessário observar o comportamento de toda a orquestra, no magistral espetáculo coletivo de uma partida de futebol. O empate no San Siro tem lá seu significado. Guardiola foi cauteloso ao escalar dois volantes, mesmo assim impôs seu estilo: posse de bola, passe e paciência. Se acompanhar o maior time do planeta pela televisão já é uma experiência única, imagine vê-lo disposto em todo o campo, sem limitações, e observar todos os movimentos coordenados: defesa, meio de campo e ataque. Talvez o melhor a fazer seja não perder tempo duvidando da realidade. Não é assim tão problemático reconhecer que hoje também é possível colocar um tijolinho no muro da história do futebol. Conflito mesmo pode ocorrer no futuro, quando surgir o arrependimento por não termos desfrutado desta equipe com a intensidade de seu jogo e de seus jogadores. O futebol se apresenta cada vez mais complexo, com seus detalhes dissecados por equipes interdisciplinares, das estatísticas às metodologias de treinamento, passando pela medicina, hoje capaz de acelerar a recuperação de vários tipos de contusão. Mas é o campo que decide. No centro dessa complexidade está o time de Guardiola. Não fossem os riscos, os perigos e as surpresas, o futebol não seria o que é. O grupo de Massimiliano Allegri, treinador de 44 anos, possui muita experiência e um perigo chamado Ibrahimovic. Se tiver condições físicas para marcar e contra-atacar, pode até se dar bem na Catalunha. O Barça, pelas circunstâncias, é o favorito, o que transforma a realidade num jogo de palavras. É onde reside o charme desse negócio chamado futebol, ainda capaz de agitar países em crise como Itália e Espanha e dois de seus ícones esportivos.O futebol a gente respeita, enaltece, reverencia, porque se fosse assim tão simples, tão óbvio, não precisaria ser jogado.
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