segunda-feira, 30 de abril de 2012

A GANDULA E A LENDA


Por Antonio Pastori, poeta.
Definitivamente nunca fui com a cara do Engenhão.
Admiro o Botafogo, mais o de Garrincha, menos o de Heleno. E tenho afeto pelo Vasco, por conta do papai vascaíno.
Apesar disso, a tal ojeriza pelo estádio carioca prevaleceria: não era o jogo favorito de domingo.
Até porque, no outro lado das janelas digitais, estava lá o São Paulo tentando uma improvável classificação diante do Santos.
Mas o futebol tem a arte de pregar peças. E em um domingo de clássicos decisivos, de duelos imprevisíveis, de gigantismos, testosterona à solta nos gramados brasileiros, foram a graciosidade e esperteza de uma gandula que roubaram a cena e conquistaram esse coração, mais o do poeta, menos o do analista.
Uma gandula em pleno Botafogo x Vasco, no Engenhão.
Bola pela lateral, Fernanda Maia é o nome dela. Com rapidez digna daquelas passagens de bastão em revezamentos de atletismo, entrega a redonda para Maicossuel. Uma reposição cadenciada ao ritmo veloz de uma contra-ataque, a arrancada de Márcio Azevedo, o cruzamento, o gol do Loco.
Uma cena a produzir polêmicas e bate bocas intermináveis. Uma cena inversa ao que mais se critica nesses personagens anônimos. Muitas vezes quando não somem com ou sem a bola, passam uma eternidade para colocá-la de volta à ação.
Uma gandula travou o dedo deste escriba diante do controle remoto. Levou à lembrança dos tempos de Nelson Rodrigues, de Mário Filho…
Ou dos deuses célebres, irônicos e farsantes que regem a magia dos templos da bola.
Tempos e templos muito mais de Maracanã, muito menos do tal Engenhão.
Porque a esperteza e a graciosidade da botafoguense Fernanda Maia serão lembradas para sempre em um estádio tão carente de histórias e de identidade.
Serão invocadas ao benefício da dúvida sob a égide da paixão.
Paixão pelo ofício ou pela estrela solitária?
Ela que já foi candidata e (não tem jeito) será a musa do Botafogo daqui por diante, tem todo o direito.
A dúvida que ganha patamar de lenda ao bel prazer deles, os velhos deuses irônicos e farsantes.
Posto, que me desculpem os feios de agora, mas a Fernanda é fundamental.
E bate um bolão.

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