Por Carlos Chagas
Duas historinhas do passado servem para a interpretação do presente:
Na recém-criada União Soviética, entre vasta propaganda, expurgos aos montes e monumentais sacrifícios exigidos da população para a industrialização, corria entre os russos a versão de que Adão e Eva eram os maiores entusiastas do novo regime. Por que? Porque moravam no paraíso mas não tinham roupas para vestir...
Na mesma época, no México, as tropas de Pancho Villa e de Emiliano Zapata invadiram a capital do país em nome da revolução, com os peões dando tiros para cima e gritando do alto de suas montarias: “Viva La Democracia! Viva La Democracia!” Jornalistas americanos procuraram saber dos revolucionários o que queriam dizer e a imensa maioria respondia estarem homenageando “a mui honrada e virtuosa esposa do dr. Francisco Madero, chefe do movimento rebelde, Dona Democracia...”
Com todo respeito, os dois episódios se contam a propósito de nossa realidade, nove anos e três meses depois da tomada do poder pelo PT. A propaganda inundou o Brasil, apregoando a criação de milhões de empregos, a ascensão das massas à classe média, a extirpação da miséria, nossa transformação na sexta economia mundial e demais chavões que nos enchem de orgulho. O diabo é que quando deixamos o paraíso dos sonhos e abrimos os olhos, as imagens são de velhos, crianças e adultos esmolando, vendendo óculos e garrafinhas de água em qualquer semáforo. Famílias à míngua, quando não reunidas fumando crack, gente assaltando, seqüestrando, depredando transportes coletivos. Para não falar na corrupção desenfreada e na impunidade permanente que cercam instituições e elites.
A democracia alardeada pelos donos do poder resume-se à conquista de empregos na máquina estatal por medíocres e inescrupulosos sem talento, à formação de ONGs fajutas, ao abandono dos ideais revolucionários e às saudações continuadas ao sistema que continua privilegiando benesses, favores e sinecuras no andar de cima. Se Adão e Eva vivessem nesse paraíso, seriam os primeiros-companheiros...
MEIA SEMANA EXECUTIVA.
Caberá à presidente Dilma, de novo no Brasil, criar fatos e produzir iniciativas capazes de compensar o vazio legislativo que a Semana Santa criou no Congresso. Em maioria, escafederam-se deputados e senadores, desde o último dia 30, não devendo voltar a Brasília senão no dia 10. A exceção envolve apenas os dirigentes e os senadores do DEM, por conta da crise que cerca Demóstenes Torres.
A presidente poderá anunciar um pacote de redução de impostos para a indústria, talvez nomeie o novo ministro do Trabalho e quem sabe promova nova reunião do ministério. Mesmo assim, o governo não terá como trabalhar no feriado da Sexta-Feira Santa, nem na sua véspera, apesar de dia normal de trabalho. Como no domingo, dia 8, Dilma viaja para os Estados Unidos, não são nada promissoras as perspectivas.
TORRES DE UM CASTELO SITIADO.
Aguarda-se para hoje a defesa do senador Demóstenes Torres, da tribuna do Senado, mas há controvérsias, tanto pela semana enfraquecida por conta da Sexta-feira Santa, quanto pelos conselhos do advogado dele, para manter-se calado. Mesmo assim, caso decida quebrar o silêncio, o ex-líder do DEM não contará com o plenário cheio. A sucessão de denúncias divulgadas a conta-gotas, contra Demóstenes, faz supor que sairão dos arquivos da Polícia Federal mais detalhes de seu relacionamento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. O castelo do Senador encontra-se sitiado e sua torres sob fogo batido, mas seria bom, para ele, iniciar a resistência. Caso contrário, perderá o mandato.
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