Por Carlos Chagas.
A repetição vai por conta do vexame: onde foi parar o PT de trinta anos atrás, aquele partido que se pretendia diferente, puro, pleno da esperança de mudar o país? Mais do que acabar no Irajá, parece ter ido atrás da vaca, quer dizer, para o brejo.
Despencou na vala comum, já faz tempo, ainda que agora tenha acabado de bater todos os recordes m termos de profundezas. Numa palavra, o PT malufou. E de forma desonrada, bastando atentar para a fotografia estampada nos jornais de ontem.
O primeiro-companheiro confraternizando com Paulo Maluf. Humilhado, o Lula entrou na toca da onça. Ou da hiena, ainda que sorrindo estivessem todos no jardim não propriamente do Éden, mas do Capeta. Escapou da fotografia, não da lambança, o presidente do partido, Rui Falcão, por haver fugido do registro das imagens. Apesar disso também estava lá, sem falar no Fernando Haddad.
Não há frustração por parte das gerações que fundaram o Partido dos Trabalhadores, porque a maioria delas já escapuliu há muito. No máximo, um lamento a mais pelo engodo.
Paulo Maluf tripudiou ao exigir a presença dos dirigentes petistas em sua mansão. Só não teve coragem para convidar o presidente nacional do PP, Francisco Dornelles, que se não fosse calvo teria arrancado os cabelos. Afinal, os Progressistas apóiam o governo, mas dentro de certos limites. Jamais na demonstração de ocupar lugar de destaque no balcão de negócios. Foi uma pantomima, em especial quando o Lula calou-se diante da afirmação do ex-governador e ex-prefeito de São Paulo de não haver mais ideologias, nem esquerda nem direita.
Grande balela, essa, que leva o PT a reafirmar suas atuais tendências conservadoras. Depois de engajar-se no modelo neoliberal dos tucanos, nos últimos nove anos e meio, a agremiação antes operária rende-se ao que há de pior no reino das ideologias.
Quando de sua fundação o PT quase se definiu como marxista. Depois, passou de Karl parta Groucho, porque tem Groucho Marx como patrono, aquele que subia ao palco para elogiar a América como o país das oportunidades, já que ao lá desembarcar não tinha um dólar. E diante da platéia curiosa tirava uma moeda do bolso do colete e dizia: “agora, eu tenho um dólar”...
FRUSTRAÇÃO TUCANA.
Nessa lambança não faltou o capítulo que o PSDB tentou encenar, porque também disputou o apoio do PP para o seu candidato. Felizmente, José Serra não precisou comparecer ao jardim dos Maluf, pois o PT prometeu mais e ganhou o minuto e meio de tempo de televisão na campanha. Mas os tucanos teriam voado para a residência do ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, se tivessem oferecido mais e sido escolhidos. Porque ninguém sabe quanto custou o apoio do PR de Waldemar da Costa Netto e de Alfredo Nascimento.
TORPEZA.
Torpe também é a barganha que cerca as campanhas eleitorais. Discute-se tempo de televisão, jamais programas de ação. Fisiologismo puro. Vale tudo na disputa pelo poder, de promessas de nomeações ao fatiamento dos governos. Jamais, na crônica dos processos eleitorais, assistiu-se tamanha falta de convicções políticas. O triste episódio da prefeitura de São Paulo é apenas um, em meio a tantas barganhas. Nas capitais estaduais, quase sem exceção, as negociações para a escolha de candidatos imitam a maior cidade do país.
E O ELEITORADO?
Apesar de o voto ser obrigatório, bem que o eleitorado poderia tomar-se de asco e nojo, não comparecendo às urnas. Se mais da metade dos eleitores ficasse em casa, no próximo 7 de outubro, as eleições seriam anuladas. E os candidatos, repudiados, junto com os partidos. A Constituição manda que, nesse caso, novas eleições sejam convocadas, mas nada impede os mesmos candidatos se apresentando...
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