Por JOÃO BATISTA FREIRE, do Blog do Juca Kfouri.
Para saudar a abertura da Olimpíada de Londres.
Para saudar a abertura da Olimpíada de Londres.
“Não é nada pessoal, são apenas negócios”, diriam os
mercadores do mundo dos esportes, entre eles dirigentes, empresários e agentes
de variados naipes, ao ouvirem os apaixonados torcedores clamando por um pouco
de garra e arte, e reclamando do excesso de “luzes” e “ribalta” que recobre com
uma fina camada os “espetáculos” esportivos.
No Brasil, mais particularmente no futebol, gerações de
craques acostumaram esses torcedores ao requinte artístico da bola bem tocada,
do chute sutil, da finta desconcertante.
Os olhos brasileiros fartaram-se com o talento de Heleno,
Leônidas, Pelé, Garrincha e Didi, e, mais recentemente, Sócrates, Rivelino,
Tostão, Zico e Romário.
Já os torcedores do MMA, o novo fenômeno esportivo de massa,
são ainda noviços, e deliram mesmo que nada lhes reste além da gesticulação
primitiva e grotesca de seus gladiadores, que nem de longe dão pistas de
revelar sementes de algum Spartacus revisitado.
Aquele que pretende, em breve, tornar-se o esporte mais
popular do planeta, não passa de arremedo mal costurado de gestos emprestados
ao boxe, ao karatê, ao jiu-jitsu e outras lutas, num arranjo tosco, que antes
lembra um Frankenstein de octógonos que um Muhammad Ali de ringues.
Aos aficcionados dos demais esportes sobram migalhas,
exceções sazonais feitas, no Brasil, ao voleibol e ao basquetebol, porque,
afinal meus caros, não é nada pessoal, e, se o que importa é o lucro,
desculpem, mas é mais fácil vender escândalos e chiliques de craques de futebol
ou o sangue derramado pelos gladiadores do UFC que os gestos sutis dos
saltadores de vara ou as piruetas delicadas de ginastas artísticas.
“Nada temos contra a beleza do esporte”, diriam os
mercadores, “nós as venderíamos caso nos rendesse alguns trocados, porém,
vendemos o que a educação do público compra, e quem oferece essa educação não
somos nós, mas seus políticos medíocres com suas promessas risíveis.”
No mês de junho, num ato quase de redenção, um punhado de
esforçados jogadores corintianos, mesmo sem o requinte dos craques do passado,
ofereceu-nos alguma coisa parecida com espetáculo futebolístico, mesmo que tenha sido apenas um
espetáculo de garra e amor ao clube.
Um pouco de futebol, finalmente, numa memorável noite em que
os negócios, embora presentes, foram sobrepujados pela paixão.
Sem craques milionários ou o brilho ofuscante de um
Sócrates, a taça é corintiana.
E o povo, finalmente, pôde passar noventa minutos
acreditando que seu futebol ainda existe.
E sem que o sangue precisasse tingir a arena.
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