segunda-feira, 29 de novembro de 2010

NÓS PERDEMOS


Por Moisés Diniz, do Blog Altino Machado
Toda a imprensa brasileira, todos os analistas, os políticos de modo geral, os padres e os pastores, os milionários, a sempre assustada classe média e os pobres de todas as favelas.
Todos aplaudem a ação vigorosa e mortal das Polícias do Rio de Janeiro e das Forças Armadas contra a bandidagem dos morros. Quem seria "doido" de ficar contra a ação para prender esses criminosos que estavam aterrorizando a bela cidade do Rio, sede da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016?
Eu também sou a favor da ação, só não fico no time daqueles perversos brasileiros que defendem a morte dos bandidos e aplaudem de pé o "Tropa de Elite". Eu defendo prisão perpétua para esses bandidos de alto grau e seus crimes hediondos. Assassinato não. Minha alma não permite.
Eu também concordo com a ação do Estado brasileiro, mas lamento que o Brasil tenha permitido chegar a isso. Lamento que a miséria humana tenha chegado a tão elevado patamar, num país rico e gigantesco em terra, água e biodiversidade.
As elites falharam. As elites do Brasil pecaram e nenhum confessionário curará as suas feridas. Elas acumularam riqueza demais. A concentração de renda chegou a limites absurdos.
Tem gente demais passando fome, tem jovens demais disponíveis para viver do tráfico de drogas, tem prostituição demais. Tem político omisso demais, magistrados, jornalistas, líderes populares. Todos nós temos culpa.
Nós perdemos. Nós perdemos para nós mesmos. Não vencemos os bandidos, derrotamos o Brasil, derrotamos a nossa honestidade e capacidade política, nossas energias de cinco séculos. Fracassamos.
Perdemos para a bandidagem que se tornou referência dos pobres dos morros, no lugar dos líderes da esquerda, dos líderes populares, que só querem saber de superávit primário e commodities para exportação.
A esquerda deixou de enfrentar as elites, aliou-se a ela e não distribuiu renda com a energia que deveria ter feito. A reforma agrária, inacreditável, mesmo sendo uma bandeira capitalista, continua como se estivéssemos na metade do século passado.
Os mortos dos morros do Rio são brasileiros que a elite os transformou em bandidos. Nessa hora tem gente, em inúmeras mansões, bebendo whisky e comemorando indiretamente as mortes.
Nós perdemos a capacidade de amar os pobres das favelas do Rio, de São Paulo, da Amazônia, porque aqui também têm pobres, jovens discriminados com o potencial mortífero de se tornar um bandido do porte daqueles do Rio.
Eu não quero levar para o túmulo essa culpa. Eu quero mudar, ser menos egoísta e mais fraterno, ouvir mais as pessoas e menos o poder do qual faço parte.
Quero voltar a viver como um ser humano normal, que seja capaz de chorar e de pedir perdão. E, acima de tudo, de mudar meus procedimentos políticos, para que eles sejam mais democráticos, mais livres, mais honestos e mais populares.
Quero lutar para que as minhas filhas não tenham também que dizer, no futuro, que elas também foram derrotadas na sua honestidade e no seu humanismo. Que elas também não precisem dizer:
Nós perdemos.
Moisés Diniz é autor do livro o "Santo de Deus" e deputado estadual do PCdoB do

Nenhum comentário: