A PARTILHA DA GRÉCIA - Fracassada a estratégia ortodoxa de 'recuperar' ' economias européias em crise com doses cavalares de veneno fiscal --cortes de gastos, cortes de direitos trabalhistas, cortes de salários etc-- credores, rentistas e inspetores dos mercados acionam a fase 2 do martírio: a palavra de ordem agora é antecipar a partilha do patrimônio público grego, como os aliados fizeram com a Alemanha depois da derrota na 1º Guerra. É uma espécie de 'caiu a ficha' com sabor de salve-se quem puder. Como as políticas de austeridade impostas à sociedade grega deram, obviamente, resultado inverso ao pretendido , ou seja, a crise se agravou e a recessão piorou a saúde financeira do Estado na medida em que encolheu as receitas, o jeito agora é 'tomar em espécie' o que os mercados consideram que é seu. Antecipar e ampliar as privatizações previstas nos 'acordos' de refinanciamento é o novo bordão martelado por seus centurões na mídia e fora dela. Na prática, significa sangrar o que resta de hemoglobina no metabolismo econômico do Estado grego aprofundando a crise com as previsíveis reestruturações e reengenharias de cortes em massa de empregos nas empresas e serviços alienados. "Com a economia em recessão é muito difícil continuar promovendo um grande aperto fiscal (para pagar dívidas vencidas e a vencer); acho que , em vez disso, as vendas de ativos poderiam ser usadas como principal meio de sinalizar o comprometimento da Grécia", assume David Mackie, principal economista do banco JP Morgan Chase na Europa. O governo socialista de George Papandreu tem uma única opção ao auto-desmonte e à pilhagem: decretar a moratória da dívida. Cientes desse risco, credores e rentistas reajustaram as taxas de juros na aquisição de títulos de economias européias em crise: ontem, o juro para o seguro da dívida grega contra eventual moratória atingiu o maior nível da história do euro; o rendimento exigido dos títulos públicos italianos --outra economia em apuros-- chegou ao seu maior patamar em quatro meses; e, finalmente, o governo espanhol depois da maior derrota socialista em 30 anos, está sendo obrigado a pagar os juros mais elevados desde janeiro para se refinanciar no mercado. (Carta Maior; 3º feira 24/05/ 2011)
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