quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Na Marcha contra a Corrupção, hoje, em várias capitais do País, com maior mobilização em Brasília, por motivos óbvios, dois temas serão defendidos: o fim do voto secreto nas casas legislativas e a implantação imediata da Lei da Ficha Limpa. A marcha reforça, assim, a ideia de que a corrupção é inerente aos políticos e que não existe político que não seja corrupto. Há embutido nesse pensamento a noção, nefasta, de que o Brasil não pode ser governado sem políticos mal-intencionados. E se aceita isso numa boa, como um País bonito por natureza e corrupto por opção. É o “todo mundo faz”, defendido pelo ex-presidente Lula num conformismo simplista e inconsequente. Entenda-se ‘todo’ no sentido de envolvimento dos adeptos dessa prática, não da sociedade como um todo.
Também, por esse conceito, o voto secreto é o instrumento maior de corrupção na política o qual permite todo tipo de negociata, pois os envolvidos não precisam prestar contas de seus atos, quase sempre escusos. Então, mesmo que pratiquem atos sujos, estão sempre limpos perante a lei e a opinião pública. Ainda com base nessa ideia, governar no Brasil só é possível com corrupção. Trata-se da tal ‘governabilidade’, um termo tão vago de sentido quanto de ação, mas muito bem definido no âmbito da corrupção: para viabilizar seus projetos, o governo aceita se tornar refém de grupos políticos organizados, popularmente conhecidos como partidos. Só governa, nesse caso, se ceder às chantagens.
É pertinente, portanto, a mobilização de hoje. Isso porque, sendo a política um órgão de poder, a corrupção tira a legitimidade das instituições democráticas e ameaça a democracia. Antes um mecanismo de proteção à integridade, o voto secreto se tornou meio de imunidade ao crime. Usado pelos fichas sujas para garantir privilégios, ameaça a legitimidade do Estado e corrói a credibilidade das instituições.
No âmbito da filosofia, a corrupção não é mais analisada de forma isolada. A distinção entre corruptor e corrupto não é mais relevante, pois já se identificou que o primeiro é o agente e o segundo o paciente da ação de corromper. Aristóteles pensou essa relação como “a mudança que vai de algo ao não ser desse algo; é absoluta quando vai da substância ao não ser da substância, específica quando vai para a especificação oposta”. O entendimento de Aristóteles é que a corrupção modifica a ordem natural das coisas, como uma espécie de desvio de conteúdo. Ou seja, você também é responsável pelo tipo de sociedade em que quer viver. A que está aí, pelo menos politicamente, não é recomendável.

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