A ROLHA DA VIOLÊNCIA - A explosão de violência registrada ontem num estádio de futebol em Port Said, no Egito, quando morreram cerca de 74 pessoas, evidencia que a aparente calmaria pós-eleitoral no país é apenas isso: aparência. Desde a derrubada da ditadura Mubarak, a sociedade egípcia está cindida de alto a baixo. O aparelho ditatorial continua intacto no poder através dos militares amigos dos EUA. A transferência de comando às forças de centro, representadas pela Irmandade Muçulmana, vitoriosa nas eleições parlamentares de 2011, de fato não ocorre. A insatisfação das ruas, cujo quartel-general é a praça Tahrir, refluiu depois do pleito, mas seus protagonistas --e suas demandas-- não sofreram qualquer transfiguração; continuam a desempenhar outros papéis na vida cotidiana. Inclui-se aí o de serem membros de torcidas organizadas de futebol, como é o caso dos 'Ultras', massacrados ontem em Port Said. Integrantes dos 'Ultras' tiveram participação decisiva nos levantes de Tahrir que culminaram com a derrubada de Mubarak (leia o relato do correspondente de Carta Maior nas jornadas de Tahrir, Eduardo Febbro, nesta pág). Seus porta-vozes acusam a polícia egressa da ditadura --contra a qual se bateram e se batem com regularidade-- de facilitar a agressão sofrida no estádio de Port Said (cuja equipe ganhou o jogo dos visitantes por 3 x 1). A tragédia esportiva em si deplorável está marmorizado de pendencias explosivas não resolvidos na esfera política . Como se fosse uma gigantesca rolha da era Mubarak, a ditadura militar continua a obstruir a reacomodação da sociedade e de suas instituições. Sem mecanismos adequados de expressão institucional, o vapor explode aqui e ali. Ontem foi num estádio de futebol. A ver. (Carta Maior; 5ª feira; 02/02/ 2012)
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