quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

NA MARCA DO PÊNALTI, SEM GOLEIRO

Por Carlos Chagas.
Completa-se o processo: a falta foi cometida dentro da área; o juiz apitou e deu cartão vermelho para o agressor; a torcida aplaudiu; a bola está colocada na marca do pênalti. Falta a cobrança, com a diferença de que não há goleiro debaixo das traves. Basta chutar.
A imagem aplica-se ao sétimo ministro a ser afastado do governo depois de denúncias de irregularidades. Mário Negromonte, das Cidades, reconheceu a falta e já entregou a camisa e as chuteiras, em conversa rápida com a presidente Dilma, em Salvador, na segunda-feira.
Como ela só retorna de Cuba e do Haiti na quinta, presume-se que o gol aconteça até o fim de semana. Singular na situação é que o time do ministro voltou-lhe as costas. O PP não soltou um simples murmúrio de indignação diante de sua expulsão. Não dava mais para Negromonte continuar em campo.
Ainda agora teve seu chefe de Gabinete e seu chefe da assessoria parlamentar demitidos por ato da chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, por ordem da presidente Dilma, Uma humilhação dos diabos.
A pergunta que se faz é sobre o novo ministro das Cidades. Os rumores. são de que o ministério continuará feudo do PP, mesmo devendo ser encontrado um parlamentar de competência e probidade comprovadas. Caberá ao presidente do partido, senador Francisco Dornelles, opinar a respeito, caso convocado. Não fosse sua óbvia resistência, seria o melhor nome para ocupar a vaga.
A natureza segue seu curso misterioso. Nos casos de Antônio Palocci, Wagner Rossi, Pedro Novais, Orlando Silva, Alfredo Nascimento e Carlos Lupi, a presidente Dilma forçou suas exonerações, mas manteve os compromissos com o PT, o PMDB, o PCdoB, o PR e o PDT. Rejeitou a prerrogativa de optar por técnicos de sua livre escolha, exceção aberta para Ciência e Tecnologia, depois de deslocar Aloísio Mercadante para a Educação.
Há quem critique essa estratégia da chefe do governo, de continuar dividindo o ministério em capitanias hereditárias entregues aos partidos de sua base.
Terá motivos para não desarrumar o quadro de sua sustentação parlamentar, apesar de descontentar muita gente com as sucessivas mudanças no segundo escalão.
Como a chamada reforma ministerial continuará sendo feita a conta-gotas, melhor aguardar pelo próximo ministro a ser defenestrado. Há cotações.
OUTRA PAULADA
Depois de Fernando Henrique, agora foi Sérgio Guerra que vibrou tacape e borduna no lombo de José Serra. O presidente do PSDB, seguindo na linha do ex-presidente da’ República, declarou ser Aécio Neves o candidato do partido à sucessão de 2014. Só falta Geraldo Alckmin fazer o mesmo, mas se ele também rejeita a terceira tentativa de Serra, nem por isso dispõe-se a botar azeitona na empada de Aécio.
Afinal, o governador paulista também é candidato ao palácio do Planalto, mesmo dispondo da alternativa de reeleger-se no palácio dos Bandeirantes.
Ignora-se a estratégia de José Serra, cada vez mais repudiado pelo Alto- Tucanato. É evidente que vai resistir, mas conforme sua tradição de não precipitar as coisas. Poderia compensar o mau momento lançando-se candidato à prefeitura de São Paulo, que nenhum tucano contestaria, muito pelo contrário. Sequer a obrigação de cumprir quatro anos de mandato se tornaria cláusula pétrea, já que em política tudo é permitido.
Por enquanto o ex-governador hesita em reagir ao sociólogo e ao presidente de seu partido, ao tempo em que nega a hipótese de concorrer à prefeitura.
A MENSAGEM PRESIDENCIAL
Aguarda-se com curiosidade a mensagem da presidente Dilma ao Congresso, a ser entregue amanhã pela chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Há quem suponha estarmos voltando aos tempos em que certos generais-presidentes não davam entrevistas e falavam muito pouco. Por isso, suas mensagens ao Congresso eram esperadas com ansiedade, em especial no capitulo político.
Naqueles textos Garrastazu Médici e Ernesto Geisel enfatizaram não abrir mão dos instrumentos de exceção postos à sua disposição, assim como João Figueiredo, que falava pelos cotovelos mas sistematizava a abertura política ao dirigir-se ao Legislativo.
Na parte da política interna, Dilma não terá muito a acrescentar, já que vivemos uma democracia, mas quanto às políticas externa e econômica, admitem-se novidades. Vale aguardar.
MICHEL NÃO ABRE A GUARDA
O vice-presidente Michel Temer está contendo os descontentes do PMDB, a começar pelo líder Henrique Eduardo Alves. Tem recomendando calma e paciência aos parlamentares insatisfeitos com mudanças efetuadas pela presidente Dilma no segundo escalão do governo, lembrando que, se o partido não ganhou mais ministérios, pelo menos não perdeu aqueles que ocupou no começo da atual administração. A exceção que poderia ser Nelson Jobim, da Defesa, não é, porque o ex-ministro pouca ou nenhuma importância dava à sua filiação partidária.
O importante, para Michel, é manter as posições e, mais ainda, o papel de fiador do governo no Congresso. Com isso, é claro, garantirá a vice-presidência numa provável candidatura de Dilma à reeleição, em 2014

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