Por Carlos Chagas
Vamos pinçar apenas alguns pedregulhos, do saco de maldades imposto
à Grécia pelos banqueiros alemães e ingleses, respaldados por organismos
internacionais: a redução de 22% no salário mínimo, a diminuição no valor das
aposentadorias, a demissão de 150 mil funcionários públicos, o aumento do
desemprego nas atividades privadas, o corte nos investimentos sociais e a
privatização de empresas públicas.
Sem esquecer que a receita enfiada goela abaixo dos gregos é a mesma
despachada para a Espanha, Portugal, França, além daquele monte de países que
vão do Báltico aos Balcãs e ao Mediterrâneo.
Apesar da conivência da grande imprensa, até a nossa, em minimizar a reação
das populações atingidas, apresentando como baderna os protestos que ganham as
ruas, fica claro ter alguma coisa mudado no relacionamento entre o capital
financeiro e as massas exploradas. Estas não agüentam mais. Aquele gasta suas
derradeiras forças na tentativa de preservar privilégios que vão saindo pelo
ralo.
A arapuca não funciona mais. Para equilibrar as finanças dos sucessivos
governos sediados em Atenas, imprevidentes, irresponsáveis e corruptos, a
banca internacional promete emprestar 130 bilhões de euros. Fica escancarada a
operação que manterá esses recursos onde sempre estiveram, ou seja, em seus
cofres, de onde não sairá um centavo. O empréstimo servirá para saldar as
dívidas da Grécia, por certo acrescidas de juros extorsivos, cabendo aos
trabalhadores e assalariados arcar com o prejuízo. Sempre foi assim, através
das décadas e dos séculos, só que não é mais. Não haverá polícia que dê jeito,
como mostram todos os dias as telinhas, mesmo distorcidas e escamoteadas suas
imagens.
É bom tomar cuidado. A engrenagem financeira internacional, mesmo podre,
desenvolverá todos os esforços para diminuir seu prejuízo. Impossibilitada de
agir na Europa insurrecta, estando a América do Norte blindada, não vai dar para
lançar suas redes da Ásia. A China chegou primeiro. Com a África em
frangalhos, para onde se voltará a banca em desespero, senão para a América do
Sul?
Dessa vez a crise não chegou primeiro para nós. Mas chegará, de forma
inapelável. Quem tem riquezas para vender, como já vendemos no passado?
SAMBA E SÃO PAULO: POUCO A VER.
Com todo o respeito,
mas tem raízes profundas a confusão verificada na apuração da vencedora do
desfile das escolas de samba paulistas. Trata-se de uma espécie de complexo de
inferioridade, demonstrando que dinheiro no bolso não significa necessariamente
samba no pé. Comparando-se mais uma vez a apresentação das escolas em São
Paulo e no Rio, explica-se porque votos de jurados foram rasgados, instalações
depredadas e carros alegóricos queimados...
A GRANDE SURPRESA.
Para contrabalançar a
má-vontade expressa na nota anterior diante do Carnaval paulista, vale referir
números capazes de eriçar cabelos até nos carecas cariocas. A audiência da
Rede Globo, no desfile das escolas de samba do Rio, domingo, perdeu por um
ponto para a TV-Record, que naquela hora apresentava em capítulos prolongados a
novela do “Rei David”. Sinal dos tempos? Seria oportuno começar a pensar
desde já na cobertura do Carnaval de 2013. Ou então preparar com antecedência
o “Rei Salomão”...
TUCANOS TAXIANDO
A
provável candidatura de José Serra à prefeitura de São Paulo afastará de vez a
hipótese dele concorrer à presidência da República em 2014? Parte dos tucanos
entende que sim, porque no caso de vitória, ele não teria condições de largar o
cargo na metade, voltando as costas ao eleitorado. E no de derrota, ficaria
completamente sem base.
Há, no entanto, quem
pense diferente no PSDB. Serra eleito prefeito, realizando uma administração
exemplar, ficaria na dependência de Aécio Neves dispor-se a disputar o palácio
do Planalto. O neto do dr. Tancredo não rasga dinheiro. Tudo indica que será
candidato, mas nunca reconhecendo antecipadamente a derrota. Nesse
caso, fugiria para Minas, onde seu retorno ao palácio da Liberdade parece
evidente, dependendo apenas de seu desejo. Para enfrentar Dilma Rousseff, o
senador precisaria de um mínimo de chances. Nem se fala do Lula.
Sendo assim, os
tucanos iriam buscar José Serra na prefeitura de São Paulo ou fora dela? E ele,
aceitaria?
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