terça-feira, 19 de junho de 2012

SEM ESQUECER NEM PERDOAR


Por Carlos Chagas.
Impossível não supor que os tempos  de prisão e de tortura infligidos a Dilma Rousseff no início dos Anos Setenta não se  tenham incrustado nela para sempre. Uma frase do depoimento da hoje presidente da República, pronunciada em 2001, dá bem a medida de como são permanentes os sentimentos de quem sofreu naqueles idos: “As marcas da tortura sou eu”.
A inesperada revelação da única vez em que Dilma admitiu relembrar o passado, agora exposta pelos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas, permite que se conclua porque ela se tornou rígida, áspera e  intransigente em seu relacionamento com a vida e  até  com seus  ministros.  As marcas do que sofreu são ela mesma, por inteiro.  
Não dá para projetar o futuro do governo Dilma sem mergulhar no que  passou. Sua postura  no presente constitui apenas o prolongamento daquilo  que viveu antes. Assim como significa   a previsão de que ela  não vai mudar. Afastou  a sombra do revanchismo, sem esquecer nem perdoar, mas exige  de si  mesma, e dos outros ao seu redor, inflexibilidade,   quer dizer, comportamento íntegro,  competência plena e nenhuma concessão a erros. 
À medida em que decorrem os meses e os anos do    mandato em curso,  vão ficando visíveis as diferenças entre Dilma e o Lula. Criatura e criador deixaram de constituir uma unidade antes mesmo que o então presidente pensasse nela como sucessora. Surgem evidentes as  características diversas  de estilo,  de  modelo e de concepções.  É com essa nova realidade que o PT e aliados devem raciocinar.   Por razões variadas, vai ficando sonho de noite de verão a hipótese de o Lula retornar ao governo. Será com Dilma que devem compor-se os companheiros,  se pretendem conservar o poder. Sabendo que ela não perdoa nem esquece.  Pior para eles...
TENDÊNCIA NO PLENÁRIO.
Só por milagre o senador Demóstenes Torres conseguirá conservar o seu mandato, quando for julgado pelo plenário do Senado. Começava a circular entre os seus colegas um arremedo de projeto de lei impossível, mas nem por isso  contrário à  tendência quase unânime:
“Artigo Primeiro – Considere-se extinto o cidadão Demóstenes Torres.
Artigo Segundo – Revogam-se as disposições em contrário.”
NÃO SOBRA NINGUÉM
Quem já teve acesso ao relatório do ministro Joaquim Barbosa a respeito do mensalão espanta-se com a sua inflexibilidade. Seriam considerados culpados os 38 réus, em maior ou menor grau, mas todos passíveis de penas nada flexíveis. Como o relatório do ministro revisor, Ricardo Lewandowski, ainda é desconhecido, supõe-se que seja um pouco mais brando com relação a parte dos mensaleiros. Ainda que igualmente duro diante das figuras mais destacadas.
QUE SE ELEJAM GOVERNADORES.
No que depender da presidente Dilma Rousseff, o deputado Henrique Eduardo Alves deveria disputar o governo do Rio Grande do Norte, e o senador Renan Calheiros, o governo de Alagoas. Traduzindo: ela  rejeita a pretensão de um tornar-se presidente da Câmara, e o outro, do Senado. Pode estar nessa suposição mais uma pedra no relacionamento entre a chefe do governo e seu vice, porque Michel Temer apóia as pré-candidaturas   de ambos. No PMDB, porém, essa tendência  não é unânime, ainda que o partido reivindique a chefia das duas casas do Congresso. Outros pretendentes existem.

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