sábado, 7 de julho de 2012


A Flip e a Geração Subzero 
Por Felipe Pena, do Jornal do Brasil.
As coletâneas costumam ser pretensiosas e elitistas. Na Flip deste ano, por exemplo, a revista Granta teve a pretensão de apresentar os vinte melhores autores brasileiros com menos de quarenta anos em uma coletânea de contos destinada ao público externo. Mas que critérios definem os melhores? E quem define esses critérios? Figurinhas carimbadas pela “mídia especializada” e referendadas pelas panelas literárias levam vantagem nessa escolha? 
Talvez a atitude mais honesta seja assumir que a escolha é pessoal, como fez o crítico Nelson de Oliveira, organizador do livro Geração 00, que, ainda assim, manteve o caminho da pretensão ao tentar reunir os melhores autores de uma década. E que também foi elitista, pois prevaleceram os escritores cuja prosa se aproxima da elipse, da referência intelectualizada, da erudição construída, do beneplácito da crítica, da receita caseira que apregoa que a literatura é para poucos. E os poucos são eles próprios.
Esses autores não estão preocupados com os leitores, mas apenas com a satisfação da vaidade intelectual, baseando suas narrativas em jogos de linguagem que têm como objetivo demonstrar uma suposta genialidade. É estranho que boa parte deles manifeste preocupações sociais e tendências políticas progressistas em suas entrevistas, enquanto suas práticas profissionais os levam a uma torre de marfim representada por feiras e festivais que os mitificam como ícones da literatura para aqueles que também se enxergam como elite.
Felizmente, há uma massa de leitores no país que ignora essa tentativa de forjar novos cânones para a literatura. É um público que se preocupa apenas com o prazer da leitura, com a relação afetiva com o livro, com as reflexões que uma história bem contada pode provocar e com a socialização dessas histórias e dessas reflexões. Sim, a socialização, pois aquele que tem prazer na leitura sempre recomenda o livro ao amigo mais próximo.
É para esse leitor que foi organizada a coletânea Geração Subzero, a ser lançada na Off Flip, neste sábado (só poderia ser no circuito OFF mesmo, cuja tradução mais fiel é FORA). São vinte autores congelados pela “crítica especializada”, mas adorados pelo público. O livro não é uma antologia. Os contos e autores não têm a pretensão de figurar entre os melhores de sua geração ou estilo (bem diferente da revista Granta). Tampouco foram escolhidos exclusivamente pelo organizador da obra, que apenas observou os nomes comentados em redes sociais, blogs, salas de aula e grupos de discussão cujo objeto era simplesmente o prazer da leitura, além de ouvir os signatários do Manifesto Silvestre, um documento que defende o entretenimento como conceito de valor na literatura.
Todos os autores reunidos no livro cederam seus direitos autorais para a ONG Ler é dez, leia favela, que forma leitores no Complexo de favelas do Alemão, no Rio de Janeiro. Como Silvestre da Silva, personagem de Camilo Castelo Branco no livro Coração, cabeça e estômago, os escritores da Geração Subzero colocam a cara na vidraça e esperam pelas pedras e flores. 
Mais pedras do que flores. 
Os trocadilhos vão causar indigestão e os intelectualismos, cefaleia. 
Mas o coração não será atingido.

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