Por Carlos Chagas
Foi implacável a síntese do relatório do ministro Joaquim Barbosa, lida no primeiro instante do julgamento do mensalão. O texto serve de prévia para o que será a íntegra de seu voto, na próxima semana. No que depender do relator, vai todo mundo para a cadeia, ou melhor, todo mundo menos dois: Barbosa isentou de culpa Luis Gushiken e Antônio Lamas, por falta de provas. Dos outros, passando por José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, Marcos Valério e o restante da quadrilha, não sobra ninguém.
Parece óbvio não haver unanimidade na decisão dos demais ministros do Supremo Tribunal Federal. Muitos mensaleiros poderão escapar. A dúvida é saber quantos, tendo em vista a máxima de que em cada cabeça haverá uma sentença. Mesmo assim, em termos de consonância com a voz rouca das ruas, o julgamento começou bem. Como se estenderá até o voto de mais dez ministros, lá para meados de setembro, o remédio é esperar.
MAIS UMA VEZ, A DERROTA DA DEFESA.
O presidente do Supremo, Ayres Britto, indeferiu liminarmente novo requerimento dos advogados de defesa dos mensaleiros, para o desdobramento do processo. Essa decisão já havia sido adotada pelo ministro Joaquim Barbosa, com o apoio da totalidade de seus pares. Desdobrar seria enviar para a justiça de primeira instância os processos dos réus que não detém mandato parlamentar, ou seja, todos menos dois. Começaria tudo de novo, com as acusações submetidas a três patamares do Judiciário, dos juízes singulares aos desembargadores dos Tribunais de Justiça e aos ministros dos tribunais superiores. Poderiam os processos, inclusive, acabar no próprio Supremo. Só que depois de pelo menos vinte anos, quando tudo terá sido prescrito e sepultado, inclusive boa parte dos réus. Foi coerente a decisão, apoiada pelos demais ministros.
SEM PERDER A ESPERANÇA.
Para José Dirceu, conforme tem alertado sua família, tudo pode acontecer no julgamento ontem iniciado. Ele espera ser absolvido, mas está preparado para condenações maiores ou menores. Raciocinando com otimismo, preparou os próximos passos para depois de uma suposta absolvição: solicitará da Câmara dos Deputados a votação de um projeto capaz de anistiá-lo. Não há hipótese da devolução de seu mandato, cassado na Legislatura anterior, já concluída. Mas recuperaria seus direitos políticos, podendo então concorrer às eleições de 2014, impedido que hoje está de disputá-las, mesmo no caso de absolvido no processo do mensalão. No mínimo, seria candidato a deputado federal por São Paulo.
LUA DE MEL PORNOGRÁFICA.
As oposições deitam e rolam neste início de agosto, não apenas pelos efeitos macabros que o julgamento do mensalão poderá gerar no PT, mas, também, porque do palácio do Planalto surgem sinais de que a presidente Dilma prepara um pacote de monumentais privatizações. Seriam transferidas para a iniciativa privada rodovias e ferrovias ainda controladas pelo poder público. Sem esquecer aeroportos, portos e demais valores de nossa infra-estrutura.
A ser verdadeira a informação, estaria o país assistindo à rendição completa do segundo governo do PT ao neoliberalismo explícito, coisa que já sucedeu no primeiro governo, do Lula. Já começa a circular no ninho dos tucanos um slogan não propriamente revolucionário, mas oportuno: “chega de intermediários, Fernando Henrique para presidente!”
Duvidas inexistem de que o PSDB encontra-se em lua-de-mel com o futuro...
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