terça-feira, 16 de novembro de 2010

O NOVO MUNDO

Para além dos objetivos geoestratégicos dos EUA de reforçar um contrapeso para o furacão China, o que importa diretamente ao Brasil no apoio que Barack Obama deu publicamente à entrada da Índia no Conselho de Segurança da ONU é que foi o primeiro aval ostensivo da maior potência mudial à reforma do conselho.
Como está evidente, não apenas para o Planalto e para o Itamaraty, mas também para a oposição interna e para as publicações internacionais, é que, em havendo a reforma, o Brasil estará naturalmente dentro. Portanto, a batalha brasileira é pela reforma antes de mais nada.
Aliás, não apenas ele e a Índia estarão dentro, mas também o Japão e a Alemanha, caracterizando a sonhada inclusão da América Latina e a ampliação do espaço da Ásia e da Europa. E quanto à África? Aí o problema é mais complicado, porque três países se estapeiam por uma cadeira no conselho: África do Sul, Nigéria e Egito. Um anula o outro.
Lula passou oito anos fazendo estripulias internacionais (em meio a enormes êxitos, é verdade) para emplacar o Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança, sem sucesso. Mas Dilma Rousseff poderá ter melhor sorte. O caminho está aplainado. Agora, é uma questão de tempo.
Fazem parte do conselho hoje os EUA, a França, o Reino Unido, a Rússia e a China, que recebem o reforço de outros países, inclusive do Brasil, em sistema de rodízio. Essa configuração, que reflete o mundo de 1945, é um dos fatores de descrédito e de crescente perda de influência da ONU. Mas os cinco temem que a entrada de "concorrentes" regionais possa subtrair-lhes poder.
Daí porque, quando Obama acena com a entrada da Índia, ele dá o "start" para o debate real da reforma e cria condições para a oxigenação do ainda principal organismo internacional. Com a inclusão de novos membros e representando melhor o novo equilíbrio mundial, dificilmente, por exemplo, George W. Bush teria ficado tão à vontade para invadir o Iraque sem autorização do conselho e, pior ainda, sob pretextos fajutos!
O Brasil, além de comemorar o precedente, aproveita também para marcar mais uma vez sua posição de independência em relação a Washington. A indicação da Índia foi considerada uma "boa notícia", mas com a ressalva e aquela pitadinha maliciosa de que, se a Índia é um dos principais parceiros norte-americanos, o Brasil "não precisa de padrinho". Tem força própria para entrar pelos próprios méritos.
Isso, em si, já indica que tipo de conselho, que tipo de ONU e que tipo de mundo o governo brasileiro de hoje e de amanhã vislumbra: com o Brasil (entre outros) mandando mais e os EUA mandando cada vez menos.

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