quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

SIBILINO OU GROSSO, TANTO FAZ

 Por Carlos Chagas
No limiar de seu afastamento do poder o presidente Lula vem acertando algumas contas, em especial na política externa. A dúvida é saber se age assim porque Dilma Rousseff poderá imprimir rumos diferentes e se o primeiro-companheiro, assim, deseja ver gravadas suas concepções, para futuras comparações.
Tome-se nosso relacionamento com os Estados Unidos. Depois de oito anos de  sucessivos desencontros, o Lula lamenta como palavra final a crítica de que os americanos  não mudaram sua  postura diante  da América do Sul, mesmo com Barack Obama: falta-lhes visão objetiva porque mantém uma visão de Império também  com relação aos países pobres.
As observações do presidente foram feitas durante sua despedida dos repórteres  credenciados no palácio do Planalto. Disse que esperava de Obama  mudanças objetivas, mas elas não aconteceram. Esquecem-se, os Estados Unidos, de que 35 milhões de  latino-americanos vivem em seu território. Culpou o que chama de terceirização do governo de Washington, cheio de subsecretários para cada setor. Também aproveitou para bater no Conselho de Segurança das Nações Unidas, por conta das tentativas do Brasil de trazer o Irã para a comunidade internacional: “não admitiram que países do Terceiro Mundo conseguissem o que eles não conseguiram, mas estávamos certos ao procurar aquele país.”
De forma cáustica, o Lula falou de inveja e de ciumeira por parte dos Estados Unidos e da União Européia, mas não admitimos a subserviência, temos soberania. Não precisamos pedir licença a eles para acordar, espirrar ou  tossir.
Terá sido  essa a reflexão mais contundente do presidente,  desde que assumiu, em termos de política externa.  Havia efervescência na embaixada americana, em Brasília, depois de divulgados os comentários referidos,   menos pelo seu conteúdo, mais porque os gringos ignoram a linha a ser adotada por Dilma Rousseff, que não poderá afastar-se muito do que disse seu  mentor e já quase antecessor. Pelo menos num primeiro tempo.
Fica difícil imaginar  a grande imprensa e o empresariado  concordando com os termos expostos pelo Lula, mas, como sempre, ele falou para o sentimento nacional, para a maioria das opinião pública e para a voz rouca das ruas. Ontem, já recebeu as primeiras farpas e até alguns petardos daqueles que se imaginam formadores de opinião, mas não seria precisamente esse o resultado pretendido por ele? A primeira viagem ao exterior programada por Dilma Rousseff seria aos Estados Unidos,  ainda que agora, garantia não exista mais.  Sibilino ou grosso, tanto faz, o Lula alcançou seu objetivo.

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