Por Carlos Chagas.
Nem tudo parece perdido, no lodaçal de denúncias de corrupção em que se transformou a atividade partidária. Há sinais de reação em diversos setores. Tome-se o PMDB, hoje situado no centro do palco. Seus ministros, com exceções, sofrem para continuar ministros na medida em que seus ministérios são atingidos por petardos diários. Os dirigentes maiores buscam preservar os acusados, com Henrique Eduardo Alves, líder na Câmara, e Michel Temer, vice-presidente da República, tentando recompor estruturas postas em frangalhos. O promissor é assistir parte das bancadas do partido insurgindo-se contra o grupo protecionista e passando a exigir que a carga podre seja jogada ao mar. São deputados jovens, em maioria, daqueles que nenhuma participação tiveram nas indicações para cargos no governo e não apresentaram emendas individuais ao orçamento pelo simples fato de não serem deputados, na Legislatura passada.
Junto com esses frutos da renovação do PMDB situam-se antigos líderes sem relacionamento maior com a cúpula, como Pedro Simon, Roberto Requião, Luís Henrique e Jarbas Vasconcelos agrupados com alguns experientes de primeiro mandato, como Pedro Taques. Mostraram o pescoço e criaram a Frente contra a Corrupção, na qual pretendem integrar outras forças partidárias e representantes de entidades da sociedade civil. Essa onda, se crescer, tentará neutralizar a péssima imagem adquirida pelo PMDB nos últimos anos. Quem sabe?
O FIM E OS MEIOS.
A moda continua de culpar a imprensa pela turbulência verificada no quadro político atual. Cada denúncia apresentada pelos jornais, revistas e meios eletrônicos é tida pelos atingidos como solerte manobra dos adversários para atingí-los injustamente, por motivos menores. É claro que muito do material divulgado provém mesmo de adversários internos de ministros contestados em seus partidos e em seus ministérios, sem esquecer o potencial investigativo dos meios de comunicação.
A esse propósito, duas citações na História recente. Teng Xiau-Ping, na China, dizia desconsiderar a cor dos gatos, desde que comessem ratos. E Winston Churchill acentuava que se o Capeta batesse à sua porta, com seus pés de cabra, para propor uma aliança contra Hitler, ele não hesitaria em mandá-lo entrar.
Se as acusações são procedentes, importa menos a sua origem.
NÃO PERDER AS LIGAÇÕES.
Dois ex-presidentes da República quebraram a cara por haver ignorado o Congresso, os partidos e os políticos. Jânio Quadros e Fernando Collor fizeram questão de situar-se acima e além das forças da representação popular, por mais viciadas que estivessem. Quando precisaram delas, receberam o troco.
Certamente por isso a presidente Dilma vem seguido à risca os conselhos do ex-presidente Lula, de não descuidar do setor político-partidário, mesmo precisando contrariá-lo. Dialogar e permaner sempre ligado ao que se passa do outro lado da Praça dos Três Poderes é imprescindível para o bom andamento de qualquer governo, coisa que não significa necessariamente fisiologismo ou tolerância com a corrupção.
DEFINIÇÕES ATUALIZADAS.
Está confirmada a ida da presidente Dilma Rousseff às Nações Unidas, em setembro, para o primeiro discurso de abertura da Assembléia Geral. A prática foi inaugurada ainda no regime militar, pelo presidente João Figueiredo, seguida por quase todos os sucessores. O Itamaraty dá os últimos retoques no discurso a ser pronunciado pela chefe do governo, cujo texto será examinado por assessores no palácio do Planalto, mas a última palavra será dela. Não deixa de ser significativo que o segundo orador, logo depois de Dilma, será o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos. Oportunidade significativa para cotejar os pontos de convergência mas, especialmente, as divergências, que não parecem poucas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário