Marcos Coimbra, no Correio Braziliense.
Em São Paulo, a vida política tem uma característica peculiar: os dois principais partidos nacionais não se renovam. Há anos, em qualquer eleição majoritária, PT e PSDB escalam os mesmos nomes, seja para disputar o governo do estado, o Senado ou a prefeitura da capital.
Entre os tucanos, Serra e Alckmin já foram candidatos a esses cargos, somados, nove vezes (e ainda deveríamos contar suas três candidaturas a presidente da República). No PT, Marta Suplicy e Aloizio Mercadante, oito.
Na definição do que iriam fazer nas eleições da capital este ano, por pouco não tivemos a enésima repetição da presença de José Serra e Marta Suplicy nas opções oferecidas ao eleitor: seria a quarta tentativa de ambos.
Não podemos esquecer que Alckmin está prestes a se tornar, nos tempos modernos, o recordista de permanência no Palácio dos Bandeirantes: ao completar seu mandato atual, totalizará 10 anos lá residindo, mais que Ademar de Barros (mesmo computando seu período como interventor). Se viesse a ganhar a reeleição em 2014, aproximar-se-ia dos governantes do período colonial, com 14 anos de exercício da função.
Na maior parte dos estados, não temos uma rigidez como essa. Novas gerações de políticos petistas e peessedebistas já emergiram no Rio de Janeiro, em Minas, no Paraná, assim como no resto do país. Existem novos senadores, governadores e prefeitos dos dois partidos (e de outros) país afora.
Aécio e Antonio Anastasia, em Minas; Beto Richa e Glesi Hoffmann, no Paraná; Marconi Perillo, em Goiás; no PSB, Eduardo Campos, em Pernambuco, e Cid Gomes, no Ceará; no Rio, Sérgio Cabral e Eduardo Paes, do PMDB, e Lindberg Farias, do PT. Todos são exemplos do que não acontece em São Paulo.
É nesse contexto que se deve analisar a opção de Lula por Fernando Haddad na escolha do candidato do PT a prefeito de São Paulo. Sem sua intervenção, é muito possível que a dinâmica interna do partido levasse a mais um adiamento da renovação e a insistir na aposta em uma candidatura conhecida — no caso, de Marta Suplicy, que liderava as pesquisas.
Pode ser que Haddad vença a eleição ou não. Para o PT, mais relevante é começar a se apresentar ao eleitorado da maior cidade brasileira com uma nova identidade, de um político com uma trajetória diferente do padrão típico do petismo no estado.
Haddad não é sindicalista na origem, nunca foi da esquerda católica, tinha 5 anos quando o AI-5 foi editado. É um profissional de gestão pública, como alguns tucanos de sua geração.
Existem muitos petistas com essas características. Mas é o primeiro candidato a um cargo de “primeiro escalão” com esse perfil que seu partido vai lançar em São Paulo.
Há quem tenha visto a intervenção de Lula como manifestação de caciquismo e de sua vontade de submeter o PT a seus caprichos e idiossincrasias. Não parece, no entanto, ser uma critica razoável.
Ao bancar a indicação de Haddad, Lula se mostra disposto a submeter seu prestígio popular a um teste nada pequeno. Na verdade, maior até do que ele acabou de enfrentar em 2010, com Dilma.
Uma coisa é apresentar alguém para continuar seu próprio trabalho, algo que o eleitor — brasileiro e de qualquer lugar — compreende e aceita, levando a que a chamada “transferência horizontal” não seja rara. Ela, no entanto, é muito mais incerta quando se aponta uma pessoa para outro cargo.
Com o gesto, Lula aceita a responsabilidade de liderar seu partido, com os riscos que daí decorrem. E coloca sua popularidade a serviço da renovação pela qual o PT precisa passar em São Paulo.
Melhor que se eximir e lavar as mãos. Uma das razões que levam o PSDB paulista a bater cabeça na eleição da capital é que suas lideranças não lideram (ou não conseguem liderar).
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