quarta-feira, 16 de maio de 2012


Autor do livro Memórias de Uma Guerra Suja, o ex-delegado Cláudio Guerra, que foi diretor do DOPS do Espírito Santo, denunciou aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros uma tentativa de assassinato. Guerra falou aos dois jornalistas durante três anos no depoimento publicado em livro este mês pela editora Topbooks.  Três homens rondaram a casa de repouso onde Cláudio Guerra vive escondido, no interior do Estado, sob responsabilidade da Vara de Execuções Criminais de Vila Velha (ES) e agora sob proteção da Polícia Federal. A tentativa frustrada de morte aconteceu sete horas antes da instalação, em Brasília, da Comissão Nacional da Verdade, em solenidade presidida por Dilma Rousseff e com a presença de quatro ex-presidentes da República – José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-delegado Cláudio Guerra já se ofereceu para falar à Comissão da Verdade sobre a morte de quase uma centena de opositores da ditadura na década de 1970, além de revelar detalhes inéditos sobre a execução encomendada do ex-delegado Sérgio Fleury, o atentado do Riocentro e a queima dos corpos de torturados em fornos de usinas de açúcar. “Eu vou pocar”, dizia um dos três homens que cercaram o seu alojamento. Na gíria policial, pocar é atirar. Policial experiente, Guerra imaginou estar sendo atraído para uma emboscada, fora do quarto. Ficou lá dentro e ligou para o número da polícia, o 190, mas os policiais não encontraram mais ninguém, meia hora após o chamado. Ficaram apenas as marcas dos sapatos embarrados no peitoral da varanda, onde os peritos agora ainda buscam digitais.  Abaixo, o texto do e-mail enviado por Cláudio Guerra nesta manhã, por volta das 9h, ao jornalista Marcelo Netto:
 “Caro Marcelo, conforme lhe falei pelo Skype, hoje [quarta, 16] por volta das 4h30 da manhã aconteceu um fato muito estranho.
Há vários dias estou fora da casa de repouso. Ontem vim à Vitória para tratar de alguns assuntos e, como estava chovendo muito, decidi pernoitar na casa de repouso e, no horário citado, fui despertado com uma discussão entre duas pessoas.
Olhei pela cortina e vi o vigia da rua discutindo com uma pessoa. Neste momento vi um outro individuo,  que estava no corredor próximo à minha janela. Um terceiro indivíduo falava para os dois lá embaixo — “Eu vou pocar (atirar)” — e fazia bastante barulho.
Neste momento liguei para o 190 pedindo ajuda. A ajuda só chegou mais de 30 minutos depois e os indivíduos já haviam se evadido, sem nada roubarem.
Dedução minha: a finalidade era que eu saísse do quarto para me atingirem, pois ao sair seria um alvo mais fácil. Devido à minha história, eles por certo não entraram supondo que eu estivesse armado e resistiria.
Estou retornando para o lugar que a Polícia Federal, de que a Vara de Execuções de Vila Velha tem conhecimento.
Se for tomada alguma providência, peço que seja de maneira discreta, para não assustar mais meus familiares e moradores da casa de repouso.
Obrigado por tudo, até breve, se Deus quiser. Cláudio”

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