quinta-feira, 17 de maio de 2012

INVESTIGAÇÃO, SÓ DOS CRIMES PRATICADOS PELA DITADURA


Por Carlos Chagas
                                                        Coube ao locutor que apresentou a cerimônia,  ontem, a   fundamental definição sobre a Comissão da Verdade, então instalada:  “seu  objetivo será  de    apurar as violações aos direitos humanos cometidas pelo Estado brasileiro,  até hoje não esclarecidas”. 
                                                        O anônimo personagem foi mais  claro do que os oradores ouvidos a seguir,  mesmo a presidente Dilma. Ela    elogiou, reconheceu e valorizou  quantos “enfrentaram bravamente a truculência da ditadura”, mas foi o locutor a  deixar  claro que  a Comissão da Verdade não investigará atos praticados por quantos  se opuseram ao regime militar apelando para atos   criminosos.
                                                        Resolve-se, assim, o  primeiro impasse que cercava a Comissão da Verdade, porque um dos seus sete membros, José Carlos Dias, havia defendido a apuração dos excessos dos  agentes do Estado e também  dos  terroristas,  logo contraditado por seu colega Paulo Sérgio Pinheiro, ao sustentar  que aqueles que pegaram em armas contra o regime de exceção já haviam sido julgados, condenados e punidos. O próprio José  Carlos Dias, por conta da celeuma escolhido para discursar como representante dos sete, voltou atrás e disse  que os abusos verificados  na luta contra a ditadura não justifivam os atos de violência do  Estado.
                                                        A solenidade contou com a presença dos comandantes das três forças armadas e do chefe do Estado-Maior conjunto, além de quatro ex-presidentes da República, José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e  Luís Inácio Lula da Silva.
                                                        A presidente Dilma, em seu pronunciamento, fez questão de ressaltar a  ação do falecido presidente Itamar Franco e sua  trajetória pelas liberdades públicas, sem concessões ao autoritarismo. Lembrou que Fernando Collor mandou abrir os arquivos do DOPS de São Paulo e do Rio.  Citou Fernando Henrique, que sancionou a Lei Sobre Mortos e Desaparecidos, quando o Estado reconheceu sua responsabilidade.  Exaltou o Lula na luta pelos direitos humanos e a criação da Comissão da Verdade. Para não deixar Sarney de fora, referiu-se ao seu  papel de consolidar a transição para a democracia, iniciado por Tancredo Neves.
                                                                                                                             Prova de maturidade democrática, mas com uma pitada de cara de pau,  foi  a presença dos  quatro ex-presidentes.   Porque não dá para esquecer que Fernando Collor ameaçou prender José Sarney, que Fernando Henrique disse o diabo de Luís Inácio da Silva  e  que o Lula  não poupou os antecessores em todas as comparações feitas entre sua administração e as anteriores.
                                                        Com  familiares de mortos e desaparecidos, vítimas do regime militar,  a posse dos sete integrantes da Comissão da Verdade terá servido  para afastar de seus trabalhos  a sombra do revanchismo, do ressentimento e do  ódio? Tomara que sim, ainda que jamais  do perdão aos  crimes cometidos pelos detentores do poder de exceção. Quem assim se exprimiu foi a própria presidente Dilma, que chegou às lágrimas ao referir-se “aos 28 benditos anos do regime democrático”.

DISPUTA ENRUSTIDA

                                                        O Conselho de Ética do Senado continuava ontem  na disposição de  ouvir o senador Demóstenes Torres e o bicheiro Carlos Cachoeira, sem fazer caso do adiamento desses depoimentos na CPI mista por decisão do Supremo Tribunal Federal. Percebe-se uma disputa surda entre os senadores encarregados  de decidir apenas  se Demóstenes faltou ao pudor e os integrantes da CPI cujo objetivo é apurar as atividades e ligações do Cachoeira com políticos, governantes e empresários. Há quem suponha a degola do representante de  Goiás ainda no primeiro semestre, enquanto a por enquanto lenta ação da CPI possa  estender-se por mais tempo.

RECUPERAÇÃO

                                                        Quem acompanhou de perto a passagem do Lula por Brasília, ontem, verificou estar o ex-presidente recuperando-se bem, inclusive dos problemas em sua perna direita. Sem precisar utilizar a bengala, ele permaneceu  todo o tempo da solenidade de instalação da Comissão da Verdade  sob o foco das atenções gerais. Ouvidos atentos perceberam que cumprimentou a presidente Dilma por sua performance da véspera, quando depois de vaiada por um grupo de prefeitos, foi de dedo em riste em cima de Paulo Zukowski, da federação dos municípios, sem fazer concessões ao populismo.

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