Por Carlos Chagas.
Não há como tapar o sol com a peneira: é tenso o clima nas forças armadas, depois do discurso da presidente Dilma Rousseff na solenidade de instalação da Comissão da Verdade. A turma da reserva faz espuma, mas são os contingentes da ativa, com oficiais-generais à frente, que mais se ressentem dos conceitos exarados pela chefe do governo. Em especial quando ela afirmou não haver perdão para os autores de crimes como tortura, seqüestro, assassinato e ocultação de cadáveres. O sentimento castrense é de que se não há perdão de um lado, não poderá haver de outro. Assim, aguardam que a Comissão da Verdade venha a investigar também os excessos praticados pelo “lado de lá”, ou seja, os crimes dos subversivos e terroristas nos anos de chumbo. Discordam da valorização acentuada pela presidente, “dos que enfrentaram bravamente a truculência da ditadura”. Porque para eles, truculentos também foram os que assassinaram, seqüestraram e assaltaram, naquele idos, em nome da resistência ao regime.
É claro que os abomináveis atos dos agentes do Estado devem ser investigados e denunciados, dispondo-se os atuais chefes militares a engolir a exposição de antigos companheiros implicados naqueles crimes. Por isso os comandantes das três forças compareceram à cerimônia no palácio do Planalto. O problema está no reverso da medalha, ou seja, a exaltação da violência igualmente praticada por parte dos que se opuseram aos governos militares.
De forma alguma a democracia será abalada por esse confronto de concepções, mas fica difícil apagar a impressão, mesmo falsa, de que o governo cultiva a revanche, tantos anos depois. Em vez de incorporar as forças armadas à tarefa de construir o futuro, os atuais detentores do poder contribuem para discriminá-las, sabendo que seus atuais responsáveis também repudiam os crimes do passado e nada tiveram a ver com eles.
AGORA VAI.
Surgem sinais de que ainda este mês o Supremo Tribunal Federal iniciará a fase final do julgamento dos 38 réus do mensalão. O ministro Ricardo Lewandowski, como revisor, estaria ultimando seu relatório, na verdade seu voto a respeito dos mensaleiros. Como o ministro-relator já apresentou o dele, os demais ministros preparam suas conclusões, assim como o Procurador-Geral da República busca sintetizar numa intervenção de cinco horas o pedido de condenação para os denunciados por corrupção.
Cada advogado dos 38 réus acaba de redigir seus memoriais e as defesas respectivas.
Essas previsões devem-se à atitude do novo presidente do Supremo, Ayres Britto, empenhado em concluir o julgamento ainda este ano.
UM TESTE FUNDAMENTAL.
A realização da Rio+20, mês que vem, servirá de teste para saber se o Brasil está, de fato, livre da violência que atinge e divide boa parte do mundo por razões variadas, ideológicas, históricas e geográficas. Todo cuidado será pouco na proteção dos mais de cem chefes de estado e de governo que comparecerão, inclusive o presidente do Irã. As forças armadas serão mobilizadas para afastar a sombra de atos terroristas, daqueles que não acontecem por aqui. A Polícia Federal e a Abin, junto com as estruturas policiais do Rio de Janeiro, formarão com Exército, Marinha e Aeronáutica um núcleo que se imagina eficaz para garantir a realização das múltiplas sessões da conferência. A presidente Dilma deverá transferir seu governo para a antiga capital.
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