sábado, 26 de maio de 2012

POR TRÁS DA GREVE NOS TRANSPORTES COLETIVOS


Por Carlos Chagas.
Os comunistas não são, porque o comunismo saiu pelo ralo. Imaginar a CUT por trás da movimentação será ignorar a ligação umbelical  da entidade com o  governo,  que não admite prejudicar.   O Paulinho da Força Sindical teria tanta força assim? Nem pensar. Muito menos as oposições, que pouco ou nada tem a ver com os trabalhadores. A Igreja, os militares? De jeito nenhum. Sequer o Flamengo e o Corintians.
Sendo assim, que diabo anda acontecendo para determinar a greve  nos transportes coletivos do país inteiro? Não acontece de graça essa  perfeita orquestração que paralisa metrôs, trens suburbanos e ônibus em todos os estados.  Não há geração espontânea.    Sempre se poderia admitir serem as respectivas categorias que se organizaram em cada estado,  isoladas, sem participação das centrais sindicais, demonstrando eficiência ímpar e inusitada. Também fica difícil aceitar o raciocínio, já que uma estrutura tão rica e com tamanho poder como a que agora se vê atuando em uníssono  não teria passado despercebida das autoridades de informação e segurança.
Então, como diz Sherlock Holmes, depois de afastadas todas as hipóteses impossíveis, sobra apenas uma, mesmo   a mais estranha.
São as empresas que administram os transportes coletivos que vem estimulando e instigando a greve atual,  claro que em conluio com os trabalhadores hoje de braços cruzados. Estes, até com muita justiça, reivindicando melhores salários e condições de trabalho. Aquelas,  atrás do aumento de tarifas, que como sempre só conseguem mobilizando seus empregados para infernizar a vida da população e, assim, pressionar os governos.
Não é sem razões óbvias  que os sindicados dos grevistas rejeitaram por unanimidade a proposta de  seus grupos mais sinceros, de trafegarem com as catracas abertas. A maioria sustentou que o movimento só teria sucesso caso conseguisse fazer o povo sofrer. Então que sofra, invertendo-se o princípio de que greve se faz contra patrão.  Aqui, é feita contra o povo, capaz da indignação necessária para levar a autoridade pública a conceder aumento nas passagens. De tabela, mas parcialmente, também nos salários.
Convenhamos,  os grevistas  são inocentes  úteis, o povo é  sofredor. Mas são  os empresários que se beneficiam.
UM DIREITO EM DISCUSSÃO.
Sustentam os juristas, em maioria, a intangibilidade do direito de ficar calado para qualquer réu submetido a interrogatório ou convocado para depor.  Isso    nas  democracias, com base na evidência de que ninguém deve produzir provas contra si mesmo.
Seria discutível o  princípio? O recente episódio do depoimento do Cachoeira na CPI levanta pelo menos a discussão. Raras vezes se tem visto deboche igual, quando um bandido comprovadamente culpado tripudiou sobre um colegiado de alta representatividade. Será que ao negar-se a falar, o bicheiro não incorreu em obstrução   à Justiça e à investigação da verdade? Abrindo mão do direito de se defender, não estaria confessando a culpa?
Nas ditaduras, o indigitado depoente sempre acaba falando, dados os métodos peculiares de persuasão utilizados pelos  inquisidores. Nos regimes de liberdade, como o nosso, é inequívoco o direito de o indivíduo não produzir provas contra ele mesmo, mas no caso do Cachoeira, não se registrou ofensa à lei e à democracia,  digna pelo  menos de uma punição a posteriori?
MÁRCIO PERDEU E AINDA NÃO GANHOU.
O competente Márcio Thomas Bastos já terá recebido pelo menos parte dos 15 milhões de seus honorários por defender Carlinhos Cachoeira?  Há quem diga que não, como não recebeu o primeiro advogado contratado pelo  bicheiro para livrá-lo da penitenciária de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Haveria cláusula de sucesso para o pagamento?
De qualquer forma, e sem questionar a regra milenar de que o advogado não deve rejeitar ajuda aos aflitos batendo à sua porta,  chocou o país a imagem do celebrado  jurista ao lado de um  bandido  tripudiando  sobre deputados e senadores. A arrogância do Cachoeira,  sua insolência ao sorrir diante das indagações não respondidas,   contrastou com a fisionomia fechada de seu patrono, mas não haverá como separá-los. Quem perdeu foi Márcio.
Ele representou um esteio para o então presidente Lula, quando ministro e depois de ser ministro da Justiça.   Apagou incêndios sem conta, a começar pela crise com o mensalão e com José Dirceu. A pergunta que se faz é se conseguirá recuperar a situação anterior, mesmo constituindo injustiça condená-lo por defender um bandido.

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