Por Ruy Fabiano, do Blog do Noblat.
Um dos fatos mais intrigantes em torno da CPI do Cachoeira é
o de estar na sua defesa um personagem da estatura política do advogado Márcio
Thomaz Bastos.
Não é um advogado qualquer, nem pode ser visto como tal.
Ex-ministro da Justiça de Lula e um de seus conselheiros políticos mais
notórios, assume a defesa de alguém cuja CPI foi idealizada pelo próprio Lula.
É intrigante mesmo.
Lula figura, pois, na defesa – ao ter seu ex-ministro e
conselheiro aconselhando o contraventor – e no ataque, ao idealizar a CPI.
Sabe-se que Cachoeira é um homem-bomba, como o foi Roberto Jefferson, no
episódio do Mensalão.
Jefferson integrava a base parlamentar do governo como um de
seus mais fiéis defensores. O Mensalão não o incomodava. Ao contrário, foi
confessadamente beneficiário de RS 4 milhões, doados pelo esquema do PT ao seu
partido, o PTB, que, segundo se noticiou na época, não chegou a ver a cor do
dinheiro.
Eis, porém, que, numa guerra de partilha, Jefferson começou
a ter seus aliados expostos em escândalos, pela imprensa. Atribuiu o vazamento
deliberado a José Dirceu e, perdido por um, perdido por mil, decidiu, como um
Sansão profano, derrubar as colunas do templo. Morreria, mas levaria todos com
ele. E assim foi.
Poupou, inicialmente, apenas Lula. Mas só inicialmente. Quem
se der ao trabalho de ler o discurso com que encaminhou a votação de sua
cassação – e depois o que escreveu no livro “Nervos de Aço” -, verá que tentou
incluir o então presidente no rol do Mensalão, mas já sem força política para
fazê-lo.
O exemplo de Jefferson traumatizou o PT. Pelo que já se sabe
de Cachoeira, é um homem-bomba das proporções de Jefferson.
Ou ainda pior, já que aquele era um parlamentar, detentor de
um mandato popular e não havia, em princípio, desdouro algum em tê-lo como
aliado.
Já Cachoeira é um velho contraventor, neste momento preso, à
espera de conclusão do inquérito e julgamento. Não é tão fácil explicar a
intimidade de que gozava no meio político, suas relações íntimas com uma
empresa, a Delta, uma das maiores fornecedoras do governo federal – da qual se suspeita seja um sócio oculto.
Nada menos.
Qual a missão de Márcio Thomaz, conselheiro de Lula, em tal
circunstância? Pelo que se viu na CPI, cabe-lhe guardar o silêncio do cliente,
evitar que acione o gatilho da bomba-relógio. “Ele pode não falar nunca”,
garantiu.
A CPI foi um equívoco de Lula. Um tiro no pé. Supunha que,
com ela, feriria de morte a oposição, acertando simultaneamente dois
pesos-pesados, o senador Demóstenes Torres, então no DEM, e o seu desafeto
pessoal, o governador tucano Marcone Perillo, ambos de Goiás, terra de
Cachoeira. De quebra, provocaria uma cortina de fumaça no Mensalão.
Ocorre que Cachoeira não atua apenas em Goiás. Basta lembrar
que seu advento na política nacional – sua primeira exposição pública - deu-se
no Rio de Janeiro, quando negociou com Waldomiro Diniz, assessor de José
Dirceu, contribuição para a campanha da senadora Benedita da Silva, do PT.
A divulgação do vídeo, em que Waldomiro pedia
a propina de 1% sobre a contribuição, foi o primeiro dos escândalos do governo
Lula, um mês após a posse, em 2003.
Waldomiro teve que ser demitido, mas o episódio resvalou em José Dirceu , a quem
assessorava desde a Câmara dos Deputados.
Cachoeira, pois, fez seu début no PT. Só por aí já seria
desaconselhável levá-lo a um tribunal político como a CPI.
Aí volta a fazer sentido a figura de Thomaz Bastos. Ele
teria a missão de tornar seletivas as acusações de Cachoeira, direcionando-as
aos alvos escolhidos: Demóstenes e Perillo.
Só que a sequência de denúncias, amplamente publicadas na
imprensa, expôs pesos-pesados do governismo, envolvidos na mesma malha: os
governadores Sérgio Cabral (RJ) e Agnelo Queiroz (DF) e o empresário Fernando
Cavendish, dono da Delta.
Não é mais possível separar o joio do joio, numa plantação
em que não há trigo. Resta apenas o silêncio e o esvaziamento da CPI, promovido
pela maioria governista.
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