segunda-feira, 30 de julho de 2012

O CÔMICO E O GROTESCO NA CRÔNICA DO MENSALÃO


Por Carlos Chagas
Vão duas histórias cômicas e grotescas do mensalão, em meio a tantas   outras dramáticas.
A CULPA É DOS AEROPORTOS  Suponhamos,  da maneira mais simples, como as coisas se passavam, cabendo ao Supremo Tribunal Federal confirmar ou desmentir.  José Dirceu, chefe da Casa Civil,  autorizava; Delúbio Soares, tesoureiro, selecionava;  José Genoíno, presidente do PT,  assinava;   Marcos Valério, publicitário, operacionalizava;  e Kátia Rabello, dona do Banco Rural,  liberava. No caso, as dezenas de milhões que todo mês viajavam em espécie,  de Belo  Horizonte a Brasília, a fim de serem distribuídos entre deputados e partidos. Claro que muitas vezes tudo se passava modernamente, com transferências feitas por  ordens bancárias e a  utilização de computadores, mas em se tratando de jogo de bandidos, melhor não deixar  pistas. 
Não era fácil o transbordo. Os partidos indicavam seus pombos-correio,   que no mesmo dia viajavam  da capital federal à capital mineira e,  na volta, carregavam  malas repletas de cédulas de 50 e de 100 reais. Certas  vezes as quantias eram tão altas, e por isso tão  pesadas, que  dadas as exigências das companhias aéreas tinham que seguir como bagagem despachada. A tensão aumentava  na hora de entregar a mala no balcão da companhia, ficava maior durante o trajeto e chegava ao paroxismo quando o indigitado responsável aguardava na esteira para recolhe-la.  E se a empresa aérea extraviasse a mala? Se pela truculência dos carregadores ao joga-la  e tira-la do carrinho, ela se abrisse, espalhando a fortuna pela pista? E se alguém roubasse precisamente aquela mala, avisaria a polícia?
Ficou tão grande o sofrimento que certa tarde um dos portadores teve um ataque de nervos ao receber um malão. Gritou  que não se arriscaria e criou um impasse, pois seus chefes partidários, em Brasília, já estavam comprometidos com o  recebimento e  a distribuição do  numerário. A saída foi o pessoal do banco mandar comprar, às pressas, duas  malas menores e uma mochila,  para recheá-las de dinheiro, que ele levou no colo  como bagagem acompanhada. Incomodou  os passageiros à sua direita e à sua esquerda, mas viajou sossegado, livre do péssimo serviço prestado pelas empresas de aviação e os aeroportos...
DOIS TÁXIS PARA TRANSPORTAR UMA FORTUNA – Belo Horizonte era o  centro distribuidor de dinheiro para o mensalão, mas de vez em quando o Banco Rural utilizava-se de uma de  suas  agencias em São Paulo, singularmente aquela onde se entrava de carro pela garagem, sem necessidade de passar pela calçada. O pombo-correio armou-se de cautelas. Desceu a rampa num táxi,  acompanhado de outro, vazio. Subiu, trocou as senhas necessárias à liberação do dinheiro e voltou à garagem com duas malas repletas de notas. Naquele momento, surpreendeu o funcionário do banco que o acompanhava até os táxis: botou as duas malas no primeiro carro,  ordenando ao motorista que tocasse para o aeroporto, sem passageiro.   Embarcou no segundo, logo atrás, dizendo ao condutor apenas que “seguisse aquele táxi”.   Chegaram sem problemas, quando o pombo-correio pagou a ambos e embarcou sem dificuldade para Brasília.  Depois,  na capital federal, explicou a seus chefes partidários estar temeroso de alguma vigilância da polícia. Assim, se o primeiro táxi fosse abordado, simplesmente diria ao seu motorista que dobrasse à direita e sumisse, mesmo diante da evidência de perder aquela dinheirama...
Como todo mundo é inocente até que se lhe prove a culpa, ficamos devendo o nome do portador e o partido ao qual servia. E nem sabemos se esses dois episódios constam dos autos do processo. Pode ser que o Ministério Público nem  os conheça.  Apenas como indicação, vai uma dica: o pombo-correio, nos dois episódios, é o mesmo, hoje   um dos 38 réus do mensalão...

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