No verdadeiro julgamento da história, pouco importa o que cada personagem pensa de si; o fator relevante é a posição que ocupa no conflito de interesses que desloca a fronteira do possível na vida de um povo e de uma época. Objetivamente, no Brasil, nos últimos dez anos, essa fronteira se mexeu - não sem contradições, tampouco à margem de tropeços e fortes resistências - em direção a um horizonte em que a questão social passou a ser um divisor relevante na equação política nacional. O saldo da década deslocou a relação de forças: o Brasil é hoje o país menos desigual de sua história, ainda que conserve um legado de barbárie em seu metabolismo. Não se trata de uma contabilidade exclamativa; são estatísticas, não apenas as do IBGE; as urnas referendaram esse trânsito inconcluso; primeiro, com uma aposta, em 2002; depois com uma repactuação assertiva, em 2006 e 2010. O julgamento que se estende de hoje até a 1ª quinzena de setembro no STF pretende, a rigor, sustentar que esse percurso cuja capilaridade contagiou a estrutura, o discernimento, a auto-estima e o imaginário da sociedade, resumiu-se a uma fraude. Um 'mensalão' de R$ 30 mil per capita, pago à base aliada, teria sido a alavanca dos enfrentamentos que moveram a história a partir de 2003. O fato de que pretendam reduzir a potência desse período a um truque judicialmente reversível, ademais de externar algum desespero, diz quase tudo sobre a disposição passada, e os planos futuros, dos interesses que por 45 dias tentarão reduzir a travessia de uma década a um complô contra o interesse público. (LEIA
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