2011/2012: - "... Efetivamente, as classes dominantes podem tolerar o conceito de democracia como uma forma puramente política na medida em que tenha pouco ou nenhum efeito prático sobre o poder econômico. Porém, o que estamos vendo no capitalismo global hoje é uma crescente contradição entre o alcance global do poder econômico do capital e o alcance muito mais restrito, limitado, dos poderes legais, políticos e militares que criam e mantém as condições para a acumulação do capital. A visão convencional sugere que o crescimento do capitalismo global levou a um declínio do Estado-nação. Meu argumento é que não é verdade em absoluto. O capital global depende de um sistema de muitos Estados locais para manter a ordem social e administrativa que o capitalismo necessita, mais que qualquer outro sistema econômico. No capitalismo global, os circuitos econômicos se organizam cada vez mais como relações entre Estados, seja entre o Estado imperial e seus subordinados, seja entre economias capitalistas competidoras. E quanto mais necessita o capital dos Estados para organizar os circuitos econômicos, mais perigoso será para o capital que esses Estados caiam em mãos 'equivocadas' (NR: daí ser crescentemente explícito também o seu antagonismo em relação à democracia). Sim, há concentrações visíveis de poder na esfera do capitalismo global, o Estado, todavia, persiste como um instrumento indispensável-se não 'o' instrumento do poder capitalista. Isso não significa, naturalmente, que as velhas formações políticas ou as organizações de classe tenham permanecidos iguais. Mas não implica tampouco que a luta contra o capitalismo não deva --ou não possa- ser concebida como a construção de um contra-poder. E como a classe trabalhadora --que não compreende mais apenas os operários de macacão, os colarinhos-azuis, mas todos os que são explorados pelo capital, segue na linha de frente do capitalismo, as organizações de classe e as formações políticas associadas à classe trabalhadora devem estar no centro desse contrapoder..." (excertos atualíssimos de uma entrevista de 2003 de Ellen Meiksins Wood, filósofa política canadense, autora de 'Democracia contra o Capitalismo). (Carta Maior; 3ª feira; 27/12/ 2011)
Nenhum comentário:
Postar um comentário