quarta-feira, 7 de março de 2012

FIFA E CBF PARA ESCANTEIO


Por Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador - DEM/GO.
A CBF e a Fifa têm o controle absoluto, respectivamente, do futebol brasileiro e mundial. Por causa desse poder, se acostumaram a ditar ordens acerca de uma das maiores paixões populares, aproveitando-se de uma prática acessível a todas as camadas sociais.
Seus dirigentes demoram a entender que o sucesso não é deles nem de suas administrações, mas do esporte.
Finalmente, estão encontrando quem lhe barre pretensões, quem se insurja contra seus ditames, quem lhes freie a tirania.
Nos últimos dias, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, tiveram as reprimendas que suas trajetórias fizeram por merecer.
Valcke debocha do Brasil e não é de agora, mas na semana passada atingiu o máximo do desrespeito. Em vez de colocar a sigla que representa para bancar alguns dos bilhões de reais exigidos para receber a Copa de 2014, o secretário-geral ameaçou dar um “chute no traseiro” do País.
Por maiores que sejam as críticas reservadas à organização do evento, uma autoridade estrangeira não pode atravessar o Atlântico achando que vai para uma republiqueta de bananas.
Valcke age nessa medida por se supor acima da soberania dos países, como se a Fifa representasse um Executivo planetário. Do governo à opinião pública, a repulsa foi imediata, inclusive em outros continentes.
Por causa da reação imediata, a entidade enviou cartas se desculpando pelo gol contra do falastrão. É insuficiente.
Uma nação pentacampeã, com o maior número de atletas, não se contenta com simples mensagem. É necessário ser parceira. Até agora, o Brasil tem feito um esforço descomunal, às vezes até injusto com as tradições locais, para atender a diatribes da Fifa.
Ela pediu um Estatuto do Torcedor de acordo com seus ditames e aprovado em tempo recorde. Saiu um arremedo jurídico confeccionado a toque de bumbo, já várias vezes remendado e ainda não completamente seguido.
Aprovou-se também um tapa-olho para as obras construídas especificamente para o torneio. Chegaram ainda ao Congresso documentos legais isentando seus negócios de tributos a todos impostos e absurdos como a Lei Geral da Copa, um amontoado de acintes combatido inclusive por setores do Planalto.
Enfim, o Legislativo se violenta para contentar a turma de Valcke e sua retribuição é achincalhar.
Espera-se que, após o episódio do chute, Valcke se recolha, o contrário da atitude de Teixeira, de quem se aguardava a substituição e conseguiu-se apenas a escalação para os próximos campeonatos.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e a presidente Dilma Rousseff têm de tratar ambos na altura por eles conquistada, a de microcaciques destronáveis.
A torcida é para que o desgaste das entidades tenha efeitos para o bem. O governo pode abandonar, por exemplo, a ideia de afrouxar a fiscalização nas empreitas e de tornar o jingle da Fifa mais importante que o Hino Nacional.
Valcke terá sido expulso no exato momento da partida em que é possível virar o jogo.

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