Por Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador - DEM/GO.
A CBF e a Fifa têm o controle
absoluto, respectivamente, do futebol brasileiro e mundial. Por causa desse
poder, se acostumaram a ditar ordens acerca de uma das maiores paixões
populares, aproveitando-se de uma prática acessível a todas as camadas sociais.
Seus dirigentes demoram a entender
que o sucesso não é deles nem de suas administrações, mas do esporte.
Finalmente, estão encontrando
quem lhe barre pretensões, quem se insurja contra seus ditames, quem lhes freie
a tirania.
Nos últimos dias, o
secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, e o presidente da CBF, Ricardo
Teixeira, tiveram as reprimendas que suas trajetórias fizeram por merecer.
Valcke debocha do Brasil e não
é de agora, mas na semana passada atingiu o máximo do desrespeito. Em vez de
colocar a sigla que representa para bancar alguns dos bilhões de reais exigidos
para receber a Copa de 2014, o secretário-geral ameaçou dar um “chute no
traseiro” do País.
Por maiores que sejam as
críticas reservadas à organização do evento, uma autoridade estrangeira não
pode atravessar o Atlântico achando que vai para uma republiqueta de bananas.
Valcke age nessa medida por se
supor acima da soberania dos países, como se a Fifa representasse um Executivo
planetário. Do governo à opinião pública, a repulsa foi imediata, inclusive em
outros continentes.
Por causa da reação imediata,
a entidade enviou cartas se desculpando pelo gol contra do falastrão. É
insuficiente.
Uma nação pentacampeã, com o
maior número de atletas, não se contenta com simples mensagem. É necessário ser
parceira. Até agora, o Brasil tem feito um esforço descomunal, às vezes até
injusto com as tradições locais, para atender a diatribes da Fifa.
Ela pediu um Estatuto do
Torcedor de acordo com seus ditames e aprovado em tempo recorde. Saiu um
arremedo jurídico confeccionado a toque de bumbo, já várias vezes remendado e
ainda não completamente seguido.
Aprovou-se também um tapa-olho
para as obras construídas especificamente para o torneio. Chegaram ainda ao
Congresso documentos legais isentando seus negócios de tributos a todos impostos
e absurdos como a Lei Geral da Copa, um amontoado de acintes combatido
inclusive por setores do Planalto.
Enfim, o Legislativo se
violenta para contentar a turma de Valcke e sua retribuição é achincalhar.
Espera-se que, após o episódio
do chute, Valcke se recolha, o contrário da atitude de Teixeira, de quem se
aguardava a substituição e conseguiu-se apenas a escalação para os próximos
campeonatos.
O ministro do Esporte, Aldo
Rebelo, e a presidente Dilma Rousseff têm de tratar ambos na altura por eles conquistada,
a de microcaciques destronáveis.
A torcida é para que o
desgaste das entidades tenha efeitos para o bem. O governo pode abandonar, por
exemplo, a ideia de afrouxar a fiscalização nas empreitas e de tornar o jingle
da Fifa mais importante que o Hino Nacional.
Valcke terá sido expulso no
exato momento da partida em que é possível virar o jogo.
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