Por Jorge Oliveira, da Coluna do Claudio Humberto.
O Brasil lembra bem do semblante sério do senador Demóstenes quando subia na tribuna do plenário do Senado Federal para demonstrar a sua indignação com as mazelas dos homens públicos. "Que homem inteligente, sério, honesto, capaz, que honra com dignidade os votos dos seus eleitores", certamente diziam os brasileiros ao ouví-lo falar com tanta firmeza. Hoje, com tristeza, o Brasil assiste o senador no mesmo palco implorando a seus pares um voto de confiança depois que a Polícia Federal descobriu suas ligações perigosas com Carlinhos Cachoeira, bicheiro de Goiás, encarcerado em presídio de segurança máxima. Que pena!, lamentam esses incrédulos brasileiros que acompanhavam as aulas de moral e cívica de Demóstenes pela televisão do Senado sem jamais imaginar que por trás daquele arauto da honestidade, daquele brado e retumbante homem público, daquela palmatória do mundo, se escondia essa figura miúda de dupla personalidade que desmente, ele próprio, tudo que apregoava desse moralismo. Confessa, para decepção dos brasileiros, que recebeu uma cozinha importada do bicheiro igualzinha a que o Obama tem na Casa Branca. Diz, sem muita convicção, que o trabalho do contraventor era legal até os bingos fecharem. Tenta transparecer que a amizade íntima com o bicheiro é uma coisa simples e rotineira, mesmo quando flagrado com um telefone habilitado em Miami para conversas reservadas com o criminoso. Não consegue ser convincente nas explicações dos R$ 3 mil que recebeu do bicheiro para pagar uma corrida de táxi aéreo. E para agravar ainda mais a situação, a PF também descobriu que o senador era uma espécie de empregado de luxo do bicheiro, a quem dava informações privilegiadas dos três poderes.
Demóstenes, que até então era respeitado por seus pares, ainda os constrangeu quando subiu à tribuna para se explicar, atraindo dos senadores apoio e solidariedade para um discurso fraco e inconsistente em que não conseguia esclarecer suas relações íntimas com o bicheiro. Ora, se essas denúncias recaíssem sobre a cabeça de notórios parlamentares envolvidos com a corrupção e mesmo na daqueles procurados no mundo pela Interpol, os brasileiros até que não ficariam tão chocados nem sobressaltados. Mas elas desabaram no senador que teria "comprado" a honestidade e dela se apossado como quem quisesse guardá-la em um imenso cobertor para ocultar atos indecentes. Com esse episódio do nobre senador, que assustou a todos os brasileiros, prevalece no Congresso Nacional os ensinamentos bíblicos dos mais antigos: "Aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra".
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