Por Carlos Chagas
Os companheiros estão preocupados, e não apenas com a possibilidade de Fernando Haddad sequer passar para o segundo turno. Registra-se razoável temor nas elites pensantes do PT diante do futuro. A má performance nas eleições municipais de outubro poderá refletir-se nas eleições gerais de 2014. A presidente Dilma mantém altos graus de popularidade, mas parece distante do partido. Talvez por isso tenha sido lançado o movimento “Volta, Lula!”, do qual participam líderes petistas de expressão.
Ouve-se em alguns corredores do Congresso uma espécie de alerta fundado no raciocínio de que não basta para o PT a impressão de sucesso através de bem urdida propaganda nos tempos do Lula e, em parte, de Dilma. Se não perdeu a alma, o partido anda perdendo a fé. Sua militância deixou de freqüentar a rua, mais preocupada em ocupar espaços de poder na administração federal e penduricalhos. Seu braço sindical, a CUT, viu-se engessada pela dificuldade de exigir mudanças sociais de um governo que ajudou a formar e precisa reverenciar. O resultado é que além de se ter aburguesado, o PT murchou como instrumento de reformas e de protesto, base anterior de seu crescimento.
A hipótese de perder a presidência da República daqui a dois anos já não parece história de lobisomem, ainda que sempre exista a alternativa Lula. Mesmo assim, os companheiros assistem apreensivos o renascer dos tucanos, que as próximas eleições confirmarão ou não. Mas os dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas, encontram-se sob o controle do PSDB, podendo aumentar caso José Serra se eleja prefeito.
Em suma, o sonho do partido prevalente, senão único, esvai-se com as prévias que começam a pipocar nas capitais dos estados, em maioria desabonadoras para seus candidatos a prefeito.
JAMAIS CONTRA O POVO
A máxima é algumas vezes milenar, vem de antes dos tempos de Ramsés II: greve se faz contra patrão. Jamais contra o povo. Brasília não é melhor nem pior do que outras capitais, é apenas diferente. Porque as greves, aqui, penalizam essencialmente a população. Há quase três semanas estão parados os professores da rede pública de ensino. Tem toda razão, ganham muito pouco e o governo local descumpre compromissos celebrados antes com a categoria. O diabo é que milhares de crianças ficam sem escola e sem merenda. Como seus pais e mães trabalham, são deixados à mingua.
Anuncia-se para a próxima semana nova greve nos transportes coletivos. Da mesma forma que os professores, motoristas e trocadores também tem razão, pelos mesmos motivos. O problema reside nos passageiros. Sem ônibus, como chegarão a seus empregos? Os donos das empresas, quando não estimulam as paralisações, festejam os movimentos grevistas cujo resultado tem sido sempre o aumento das tarifas.
Por mais de quinze dias, enfermeiros e atendentes dos hospitais da rede pública cruzaram os braços. Prejuízo para quem? Para a massa carente de planos de saúde e de recursos para freqüentar a rede privada.
A HORA DA VERDADE
Entre vários problemas graves a enfrentar, quando de seu retorno da Índia, a presidente Dilma precisará nomear os sete integrantes da Comissão da Verdade. No Congresso, poucos especulam a respeito, dada a falta de informações. Militares estão fora de cogitação. Antigos subversivos e terroristas, também. Da mesma forma parlamentares e magistrados no exercício de suas funções, ainda que aposentados possam ser lembrados.
Quanto mais demorar a constituição do grupo, mais polêmica, inclusive com respeito ao funcionamento da comissão. Que critério será utilizado para a convocação de antigos agentes do poder público acusados de crimes de tortura e até de coisa pior? Denúncias de cidadãos atingidos? A farta literatura existente? O que farão os indigitados sete cidadãos se algum convocado negar-se a comparecer? Se os depoentes denunciarem práticas semelhantes por parte de suas vítimas, elas serão chamadas? A imprensa terá acesso a todos os depoimentos?
Essas e outras dúvidas impõem rápida ação da presidente, pois o prazo para o funcionamento da Comissão da Verdade é de dois anos, a partir da instalação dos trabalhos.
PRÊMIO PINÓQUIO
Ao deixar o Hospital Sírio-Libanês, onde encontrou-se com o ex-presidente Lula, terça-feira, o ex-presidente Fernando Henrique disse aos jornalistas que não conversaram sobre política. Falaram dos institutos que presidem...
Mais de uma hora reunidos, vamos admitir que quinze minutos versaram sobre a saúde do Lula. Outros dez sobre os afazeres atuais dos dois antigos chefes de governo. E o resto?
Outro candidato ao Prêmio Pinóquio, esta semana, foi o deputado Marco Maia, no exercício da presidência da República. Disse que não há crise entre governo e Congresso.
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