quinta-feira, 29 de março de 2012


Por Carlos Chagas
                                                       Os companheiros estão preocupados, e não apenas com a possibilidade de Fernando Haddad sequer passar para o segundo  turno. Registra-se razoável temor nas elites pensantes do PT diante do futuro. A má performance nas eleições municipais de outubro poderá refletir-se nas eleições gerais de 2014. A presidente Dilma mantém altos graus de popularidade, mas parece distante do partido. Talvez por isso tenha sido lançado o movimento “Volta, Lula!”, do qual participam líderes petistas  de expressão.
                                                        Ouve-se em alguns corredores do Congresso uma espécie de alerta fundado  no raciocínio de que não basta para o PT a impressão de sucesso através de bem urdida propaganda nos tempos do Lula e,  em parte,  de  Dilma. Se não perdeu a alma, o partido anda perdendo a fé. Sua militância  deixou de freqüentar a rua, mais preocupada em ocupar espaços de poder na administração federal e penduricalhos.  Seu   braço sindical, a CUT, viu-se engessada pela dificuldade de exigir  mudanças sociais de um governo que ajudou a formar e precisa reverenciar. O resultado é que além de se ter aburguesado, o PT murchou como instrumento de reformas e de protesto, base anterior de seu crescimento.
                                                         A hipótese de perder a presidência da República daqui a dois anos já não parece  história de lobisomem, ainda que sempre exista a alternativa Lula. Mesmo assim, os companheiros assistem apreensivos o renascer   dos tucanos, que as próximas eleições confirmarão ou não. Mas os dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas, encontram-se sob o controle do PSDB, podendo aumentar caso José Serra se eleja prefeito.
                                                          Em suma, o sonho do  partido  prevalente, senão único,  esvai-se com as prévias que começam a pipocar nas capitais dos estados, em maioria desabonadoras para seus  candidatos a prefeito.

JAMAIS CONTRA O POVO

                                                        A máxima é  algumas vezes milenar, vem de antes dos tempos de Ramsés  II: greve se faz contra patrão. Jamais contra o povo. Brasília não é melhor  nem pior do que outras capitais, é apenas diferente. Porque as greves, aqui, penalizam essencialmente a população. Há quase três semanas estão parados os professores da rede pública de ensino. Tem toda razão, ganham muito  pouco e  o governo local descumpre compromissos celebrados antes com a categoria. O diabo é que milhares de crianças ficam sem escola e sem merenda. Como  seus  pais e mães trabalham, são deixados à mingua.
                                                        Anuncia-se para a próxima semana nova greve nos transportes coletivos. Da mesma forma que os professores, motoristas e trocadores também tem razão, pelos mesmos motivos. O problema reside nos passageiros. Sem  ônibus, como chegarão a seus empregos? Os donos das empresas, quando não estimulam as paralisações, festejam os movimentos grevistas cujo resultado tem sido sempre o aumento das tarifas.
                                                        Por mais de quinze dias,  enfermeiros e atendentes dos hospitais da rede pública cruzaram os braços. Prejuízo para quem? Para a  massa carente de planos de saúde e de recursos para freqüentar a rede privada.

A HORA DA VERDADE

                                                         Entre vários problemas graves a enfrentar, quando de seu retorno da Índia, a presidente Dilma  precisará nomear os sete integrantes da Comissão da Verdade.  No Congresso, poucos especulam a respeito, dada a falta de informações. Militares estão fora de cogitação. Antigos subversivos e terroristas, também.  Da mesma forma parlamentares e magistrados no exercício de suas funções, ainda que aposentados possam ser lembrados.
                                                        Quanto  mais demorar a constituição do grupo, mais polêmica, inclusive com  respeito ao funcionamento da comissão. Que critério será utilizado para a convocação de antigos agentes do poder público acusados de crimes de tortura e até de coisa pior? Denúncias de cidadãos atingidos?  A farta literatura existente? O que farão os indigitados sete cidadãos se algum convocado negar-se a comparecer? Se os depoentes  denunciarem práticas semelhantes por parte de suas vítimas, elas serão chamadas? A imprensa terá acesso a todos os depoimentos?
                                                        Essas e outras dúvidas impõem rápida ação da presidente, pois o prazo para o funcionamento da Comissão da Verdade é de dois anos, a partir da instalação dos trabalhos.




PRÊMIO PINÓQUIO

                                                        Ao deixar o  Hospital Sírio-Libanês, onde encontrou-se com o ex-presidente Lula, terça-feira, o ex-presidente Fernando Henrique disse aos jornalistas que não conversaram  sobre política.  Falaram dos institutos que presidem...
                                                        Mais de uma hora reunidos, vamos admitir que quinze minutos versaram sobre a saúde do Lula. Outros dez sobre os  afazeres atuais dos dois antigos chefes de governo. E o resto?
                                                        Outro candidato ao Prêmio Pinóquio, esta semana, foi o deputado Marco Maia, no exercício da presidência da República.  Disse que não há crise entre  governo e  Congresso.

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