segunda-feira, 21 de maio de 2012

ESTA NAÇÃO CORROMPIDA. . .

Por Carlos Chagas.
Sempre foi assim? Com certeza. Nem vale à pena, hoje, descer aos meandros das duas ditaduras mais recentes que nos assolaram, a do Estado Novo, de 1937 a 1945, e a Militar, de 1964 a 1985. Horrores se sucederam nos dois períodos,  do massacre  das estruturas  democráticas  aos crimes praticados por agentes do poder público contra quantos se insurgiam diante da distorção dos valores devidos a uma sociedade iludida pelo sonho de tornar-se  dona dos seus próprios destinos. Fica para outro dia   abordar a  abominável violência praticada  contra o ser humano e contra as instituições duramente construídas através dos anos, nessas duas fases da vida nacional.     
Importa,  acima e além dos passados regimes  geridos pela exceção,   focalizar o nosso comportamento  em tempos ditos normais, à maneira do  atual, que os detentores do poder exaltam como ímpar em nossa História,  28 anos de democracia, jamais registrados desde a proclamação da República...
Vamos começar de baixo. Qual o pintor de paredes que, contratado para reformar uma casa, deixa de misturar mais  água  na tinta,  para o serviço precisar ser refeito muito antes do que deveria valer o preço cobrado pela pintura?  Qual o mecânico que,  contratado para consertar um motor,  supre a deficiência à vista,   mas deixa outra encoberta,  ou até a engatilha, para o freguês   voltar no mês seguinte? Qual o operário  que,  podendo valer-se de um atestado médico, mesmo sem corresponder a uma doença real, deixa de apresentá-lo para gozar de um ócio imerecido?
O “seu” Manoel ali do açougue da esquina  bota osso enrustido  na balança, em vez de carne, para tapear a  dona de casa. O dono do supermercado põe 900 gramas de arroz   num plástico que anuncia conter  um quilo. 
Ele e o seu  fornecedor, é claro.
Subindo sempre, um banco apregoa lucros fantásticos para o correntista se ele  investir num de seus mirabolantes  planos, mas deixa de alerta-lo  para impostos e até comissões ocultas no sorriso de seus vendedores. Uma empreiteira candidata-se a  obras  públicas oferecendo  preços  mais baixos, ainda que depois de ganhar a concorrência,  imponha reajustes capazes de tornar seu trabalho muito mais caro do que os  vigentes no mercado. Claro que o  funcionário ou o partido político  que aprovaram o contrato recebem presentes e propinas bem  acima de seus vencimentos ou contribuições.  Quando se trata  dos grandes servidores públicos,   que  por razões variadas precisou  deixar o cargo, não resiste  à tentação de tornar-se consultor das empresas que privilegiou. Ou até programou toda a equação.  No caso dos partidos, se  conseguem galgar o poder, esquecem  propostas éticas dos tempos de oposição para transformar-se em  quadrilhas empenhadas no enriquecimento de seus dirigentes.  
O deputado aquinhoado com vultosas doações  para sua campanha eleitoral jamais deixará de aprovar projetos favoráveis ao doador, mesmo duvidosos. Quantos juízes arquivam processos ou decidem de acordo com os interesses do escritório de advocacia que, por coincidência, pertence a seus filhos ou sócios antigos e futuros?
Mas tem mais. Qual a organização religiosa que não recolhe fortunas ameaçando os  incautos com o fogo do inferno ou prometendo  o passaporte para o paraíso? Qual o meio de comunicação, grande ou pequeno, que não subordina a notícia aos interesses de seu proprietário? Ou à inclinação política e ideológica de seus artífices?
Longe de ser  exceções,  tornaram-se   regra  os toscos exemplos acima referidos.    Verticalizando as situações, não escapa ninguém, tanto faz se nas democracias  ou nas ditaduras, nos trópicos ou nas estepes.  A corrupção deixou de ser periférica para tornar-se parte   obrigatória nas entranhas de todos nós. O pior é que não tem saída. 
Somos uma nação corrompida...

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