EDITORIAL - Jornal do Brasil.
Hábito criado em mais de um século, a busca da verdade volta
a inspirar o Jornal do Brasil no nebuloso episódio revelado no último fim de
semana sobre uma indevida, mas ainda suposta, “tentativa de chantagem do
ex-Presidente Lula contra o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal
Federal”. O resumo da questão indica:
No escritório de seu ex-ministro, Nelson Jobim, Lula teria
oferecido a Gilmar um tratamento suave nas investigações promovidas pela CPI do
contraventor Carlos Cachoeira.
Em troca, o ex-mandatário do país pedira a Gilmar a
postergação do julgamento do Mensalão.
Neste não elucidado toma-lá-dá-cá, se realmente existiu, há
perguntas que lançam mais luz sobre as trevas do que as respostas simples
extraídas da precipitação daqueles com propósitos políticos ilegítimos.
Intriga o JB, bem como aos que manejam um raciocínio
minimamente lógico, alguns aspectos do encontro de Lula com Gilmar. Instigado
pela falta de sentido das nuances narradas, o JB indaga:
- Lula e Gilmar nunca mantiveram relação mais próxima. Ao
contrário. O ministro do Supremo se disse vítima, em passado recente, de um
grampo de uma conversa sua com o senador Demóstenes Torres. A República tremeu
com a revelação. Tempos depois, uma minuciosa investigação da Polícia Federal
apontava que não havia qualquer escuta no gabinete de Gilmar. Criava-se a ficcional
figura do grampo sem áudio. Diante disso, seria Lula, mesmo no exercício de um
ato infame, ingênuo a ponto de pressionar um ministro que lhe causara tão
graves problemas?
- O que Lula poderia ter ofertado a Gilmar no escritório de
Jobim? Pelo sabido até o momento, o ministro não é alvo da CPI do
megacontraventor Carlinhos Cachoeira. Pela comissão de inquérito do Senado e
Câmara a sociedade conhece outros suspeitos, entre deputados, empresários e
governadores, destacando-se a figura do oposicionista de Marconi Perillo, o
tucano de mais vistosa plumagem do Brasil Central. O que o Presidente Lula
poderia fazer hoje sem mandato diferente do que não fez com o mandato?
Lula tem a seu favor o testemunho de Jobim, que afirma
categoricamente: o ex-presidente estava em seu escritório cumprindo uma agenda
social e o tema mensalão jamais foi discutido. E mais: Lula e Gilmar em nenhum
momento teriam ficado a sós, distantes dos olhares e ouvidos do anfitrião.
As versões de Gilmar e Jobim são antagônicas do princípio ao
fim. O tempo, e talvez um breve tempo, jogará uma delas por terra. Não há como
o chantagista, se chantageou, e o chantageado, se chantageado foi, saírem
ilesos. Só existe chantagem quando existe o que chantagear. Os dois entrarão
para a história por portas distintas: um pela frente, outro pelos fundos.
Práticas de chantagem e outras artimanhas condenáveis são
sempre estarrecedoras. Ferem a ordem, humilham a sociedade e desmoralizam o
organismo institucional. O Brasil não suporta a mexicanização de suas
instituições se prevalecer Carlinhos Cachoeira entre políticos brasileiros.
O processo do mensalão seguirá seu curso. Punirá culpados se
houver ou absolverá inocentes previamente julgados e condenados pela oposição e
suas vozes influentes fora dos limites do Congresso.
À CPI do bicheiro Carlinhos Cachoeira, claudicante até
agora, exige-se o fim da blindagem dos aliados A ou B, uma investigação
rigorosa, a recuperação de bilhões de reais desaparecidos no desvão da
corrupção e a emersão dos nomes de todos os culpados, sem exceção, não
importando o cargo e a posição que ostentem na República. Cachoeira e
Demóstenes são, até o momento, apenas (sem que isso lhes subtraia a alta
hierarquia criminosa) o abre-alas deste cordão de malfeitores.
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