segunda-feira, 7 de maio de 2012

UM NÓ DOS DIABOS


Por Carlos Chagas
                                               Mais uma semana passou sem que a presidente Dilma tenha nomeado os sete integrantes da Comissão  da Verdade. Há esperanças, mesmo vãs, de que não demore muito a designação daqueles que deverão, durante dois anos, promover uma devassa nos porões da ditadura militar. Indaga-se o porque da protelação e a resposta é essencialmente uma: porque até agora os cidadãos cogitados e sondados vem saltando de banda, refratários a  investigar malfeitos cujos autores são em grande parte conhecidos, mas poderão,  quando convocados a depor,  apontar os responsáveis maiores, aqueles que sabiam, autorizavam e até estimulavam a tortura, os assassinatos e os  desaparecimentos dos adversários.
                                               Nessa hora, o país pegará fogo. Imagine-se um major, um coronel,  um delegado ou um agente de polícia chamados a elucidar sua participação naqueles atos de horror, diante da indagação sobre se agiram sozinhos ou cumprindo ordens.     De quem? Do general, do  comandante, do ministro? E o presidente da República,  sabia?
                                               Tome-se o Riocentro. Um sargento morreu, um capitão teve suas vísceras expostas, mas as bombas, de onde vieram? Quem programou e autorizou o atentado? Sabe-se que havia muito mais gente envolvida no episódio, uns que se escafederam quando as coisas deram errado, outros que permaneciam de plantão em seus gabinetes, à espera dos  resultados. A quem se subordinavam?  As ligações se estenderiam do Ceiex ao Dói-Codi,   do I Exército ao ministro do Exército e ao chefe do SNI? Mesmo desinformado da operação, que motivos levaram o presidente da República a aceitar a ridícula conclusão de um IPM a respeito de terem sido os comunistas os responsáveis?  Teria sido para poupar amigos  ou por perceber que o regime explodiria, destruindo a abertura política  em andamento e levando a um endurecimento inevitável?
                                               Cada um dos múltiplos episódios eivados de violência  e animalidade tem sido dissecados ao longo das décadas através de farta literatura. Mas uma investigação oficial poderá despertar a reação daqueles que hoje, sem terem  participado de nada, mostram-se prontos a defender a memória dos antigos camaradas. Para a grande maioria das forças armadas de hoje, da ativa e da reserva,  os velhos  chefes  cumpriram seu dever. Não podem ser execrados e ter sua memória exposta no pelourinho. Se for essa a conseqüência natural da Comissão da Verdade, no mínimo os militares  exigirão  a exposição dos excessos também praticados pelo lado  do terrorismo e da subversão. 
                                               Em suma, um nó dos diabos no desenvolvimento democrático a duras penas conquistado. E com o risco de que não pode, à maneira do nó górdio de Alexandre, ser desfeito com a espada.  É óbvio que tendo  sido praticados por agentes do estado, os crimes praticados assumem proporções muito maiores, mas nem por isso ocultam seqüestros, assassinatos, assaltos e apropriações variadas,  também facilmente comprovados.  Talvez por isso demore a designação dos sete indigitados que a lei aprovada pelo Congresso impõe sejam conhecidos...

A CACHOEIRA SECOU

                                               Depois de ameaçar com a possibilidade de jogar barro no ventilador, Carlinhos Cachoeira parece haver aceitado em gênero, número e grau os conselhos de Márcio Thomas Bastos, seu advogado. Dia 15, quando for depor na CPI, se for, deverá revelar apenas nome e número de seu  registro, negando-se a detalhar atividades de qualquer espécie. É claro que essa disposição pode mudar ao sabor das circunstâncias e das emoções do bicheiro, mas as informações de hoje são de que pretende chegar mudo e sair calado. Falaria  o mínimo possível, por certo que proclamando sua inocência. Como deverá ser provocado, resta saber se disporá de nervos para tanto.

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