Por Carlos Chagas
Mais uma semana passou sem que a presidente Dilma tenha nomeado os sete integrantes da Comissão da Verdade. Há esperanças, mesmo vãs, de que não demore muito a designação daqueles que deverão, durante dois anos, promover uma devassa nos porões da ditadura militar. Indaga-se o porque da protelação e a resposta é essencialmente uma: porque até agora os cidadãos cogitados e sondados vem saltando de banda, refratários a investigar malfeitos cujos autores são em grande parte conhecidos, mas poderão, quando convocados a depor, apontar os responsáveis maiores, aqueles que sabiam, autorizavam e até estimulavam a tortura, os assassinatos e os desaparecimentos dos adversários.
Nessa hora, o país pegará fogo. Imagine-se um major, um coronel, um delegado ou um agente de polícia chamados a elucidar sua participação naqueles atos de horror, diante da indagação sobre se agiram sozinhos ou cumprindo ordens. De quem? Do general, do comandante, do ministro? E o presidente da República, sabia?
Tome-se o Riocentro. Um sargento morreu, um capitão teve suas vísceras expostas, mas as bombas, de onde vieram? Quem programou e autorizou o atentado? Sabe-se que havia muito mais gente envolvida no episódio, uns que se escafederam quando as coisas deram errado, outros que permaneciam de plantão em seus gabinetes, à espera dos resultados. A quem se subordinavam? As ligações se estenderiam do Ceiex ao Dói-Codi, do I Exército ao ministro do Exército e ao chefe do SNI? Mesmo desinformado da operação, que motivos levaram o presidente da República a aceitar a ridícula conclusão de um IPM a respeito de terem sido os comunistas os responsáveis? Teria sido para poupar amigos ou por perceber que o regime explodiria, destruindo a abertura política em andamento e levando a um endurecimento inevitável?
Cada um dos múltiplos episódios eivados de violência e animalidade tem sido dissecados ao longo das décadas através de farta literatura. Mas uma investigação oficial poderá despertar a reação daqueles que hoje, sem terem participado de nada, mostram-se prontos a defender a memória dos antigos camaradas. Para a grande maioria das forças armadas de hoje, da ativa e da reserva, os velhos chefes cumpriram seu dever. Não podem ser execrados e ter sua memória exposta no pelourinho. Se for essa a conseqüência natural da Comissão da Verdade, no mínimo os militares exigirão a exposição dos excessos também praticados pelo lado do terrorismo e da subversão.
Em suma, um nó dos diabos no desenvolvimento democrático a duras penas conquistado. E com o risco de que não pode, à maneira do nó górdio de Alexandre, ser desfeito com a espada. É óbvio que tendo sido praticados por agentes do estado, os crimes praticados assumem proporções muito maiores, mas nem por isso ocultam seqüestros, assassinatos, assaltos e apropriações variadas, também facilmente comprovados. Talvez por isso demore a designação dos sete indigitados que a lei aprovada pelo Congresso impõe sejam conhecidos...
A CACHOEIRA SECOU
Depois de ameaçar com a possibilidade de jogar barro no ventilador, Carlinhos Cachoeira parece haver aceitado em gênero, número e grau os conselhos de Márcio Thomas Bastos, seu advogado. Dia 15, quando for depor na CPI, se for, deverá revelar apenas nome e número de seu registro, negando-se a detalhar atividades de qualquer espécie. É claro que essa disposição pode mudar ao sabor das circunstâncias e das emoções do bicheiro, mas as informações de hoje são de que pretende chegar mudo e sair calado. Falaria o mínimo possível, por certo que proclamando sua inocência. Como deverá ser provocado, resta saber se disporá de nervos para tanto.
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