Por Emir Sader.
Três eleições neste fim de semana refletem, de maneiras distintas,
o mundo globalizado em
crise. Votam franceses, votam egípcios, votam gregos, todos
sob o impacto da crise internacional.
Na França, o segundo turno das eleições parlamentares deve
consolidar a nova maioria, da aliança socialistas-verdes, com apoio da frente
única de esquerda, o que deve dar uma maioria relativamente estável para o
governo de Hollande. Segura a derrota da direita sarkozista, segura a
consolidação da extrema direita de Le Pen, mas sem a expressão parlamentar dos
seus votos, pelo sistema eleitoral francês.
Em poucas semanas Hollande se revelou mais progressista do
que seu tradicional caráter moderado dentro do PS, aparecendo como contraponto
à Merkel e tentando mostrar que, mesmo na situação de crise aguda, se podem
reafirmar direitos sociais – como fez com a diminuição da idade de
aposentadoria. Esta seria a prova concreta de que a austeridade pode se combinar
com direitos sociais. Resta saber como reagirá a economia francesa e como
reagirão os “mercados”, especialmente sob o pano de fundo das incertezas
politicas da Grécia e as econômicas da Espanha.
Os gregos vão de novo às urnas, sob o impacto da guerra de terror
que é movida contra eles. Dificilmente um partido ou um bloco de partidos terá
maioria – mesmo com o bônus de 50 cadeiras ao partido mais votado -, o que pode
acentuar o caráter de impasse em que se encontra o país.
O bloco ainda governante se enfraquece, mas com posições
mais flexíveis – aceitando que é preciso renegociar o acordo de austeridade que
eles mesmos assinaram -, terá um caudal de votos que ainda o fazem candidato a
dirigir o novo governo, mas com crise aparentemente irreversível do Pasok, o
tradicional Partido Socialista.
O Syriza, a maior novidade politica da Europa de hoje, uma
frente de todas as tendências de esquerda discordantes da esquerda tradicional,
é quem mais se fortalece, pode chegar em primeiro lugar, mas dificilmente teria
aliados que lhe permitissem organizar uma maioria. Mas afirma um pólo de
esquerda, antineoliberal.
No outro lado do espectro político, como sempre ocorre nas
situações de profunda polarização social, surge uma extrema direita agressiva,
fascista, que pretende aprofundar o desespero dos gregos e se aproveitar disso
buscando bodes expiatórios, que deslocaria o centro real da crise e sus
soluções.
O governo alemão, o BCE, o FMI, estão esperando mais uma
situação de impasse, para intensificar suas chantagens. O Estado grego só tem
recursos para pagar poucos meses de salários dos servidores, mas já suspendeu
vários direitos sociais fundamentais – entre eles remédios grátis para
aposentados.
Um impasse eleitoral levará a deixar que a Grécia entre
diretamente numa situação de falência, de crise aberta do Estado, de caos
social, para tratar de conseguir uma consulta como a feita na Irlanda. Ali,
embora todos saibam que a austeridade significa mais sofrimentos, mais
desemprego, mais recessão, acabaram votando a favor do pacote, diante do caos
que se promete, caso não se submetessem os irlandeses.
Pode-se esperar que um impasse institucional aumente ainda
mais a pressão sobre a Grécia, com ameaças ainda maiores por parte das
autoridades europeias, pressionando para que o país abandone o euro –
tornando-se um país pária – ou se submeta a todas as drásticas condições que
querem lhes impor, que não têm servido senão para piorar a crise.
Os egípcios vão às urnas para decidir entre duas
candidaturas, nenhuma delas expressão da primavera árabe. Um ex-ministro de
Mubarak representa a continuidade do domínio militar sobre o país, um candidato
da Irmandade Muçulmana representa a intolerância religiosa. Os dois expressam
forças pré-existentes à primavera árabe. Os militares tentando se distanciar de
Mubarak para dar continuidade ao regime, com maquiagens apenas. Os muçulmanos
sobreviveram dentro do velho regime, como religião e como tendência
conciliadora com esse regime. Provavelmente será eleito um governo fraco, sem
legitimidade do país como um todo, retornando com força as forças da primavera
árabe, até que estas possam constituir uma expressão política que efetivamente
possa democratizar o Egito.
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